Em meio a rios intermináveis e florestas densas, onde por décadas a comunicação dependia de rádios precários e recados trazidos de barco, a Amazônia vive uma transformação silenciosa e, para muitos, histórica. A internet via satélite, tecnologia que até pouco tempo parecia luxo futurista, tornou-se realidade cotidiana para milhares de comunidades isoladas. Agora, essa mudança ganhará reconhecimento oficial.
No dia 11 de setembro, em Manaus, a Associação PanAmazônia entregará a Medalha Grandes Amazônidas à Starlink, empresa do bilionário sul-africano Elon Musk, pelo impacto social de sua conectividade na região. Trata-se de um prêmio que, mais que uma homenagem empresarial, simboliza uma mudança de paradigma: a inclusão digital como infraestrutura vital, tão importante quanto estradas, energia elétrica ou saneamento.
O alcance da transformação
Os números impressionam. Mais de 90% dos municípios da Amazônia Legal já contam com terminais Starlink, totalizando mais de 65 mil conexões até o fim de 2023. Em áreas onde o “offline” era a norma, a internet agora chega com estabilidade suficiente para permitir telemedicina, ensino a distância, videoconferências e até a gestão logística de empresas locais.
Belisário Arce, fundador e diretor executivo da Associação PanAmazônia, não hesita em classificar a tecnologia como um divisor de águas. “O acesso à internet mudou drasticamente a realidade de muitas comunidades amazônicas, oferecendo novas oportunidades em educação, saúde, segurança e desenvolvimento econômico”, afirma.
Vidas que mudam com um sinal
No vilarejo de Itaquera, às margens do Rio Negro, o impacto é visível. Crianças participam de aulas online, idosos recebem consultas médicas virtuais e pescadores conseguem vender seu pescado diretamente a compradores em centros urbanos. O que antes exigia viagens de horas ou até dias, agora se resolve em minutos.
Em Careiro da Várzea, a 25 quilômetros de Manaus, a instalação de um terminal Starlink numa escola pública trouxe não apenas conexão, mas também visibilidade. Na ativação, alunos e professores participaram de uma videoconferência com o próprio Elon Musk. O momento foi simbólico, mas também pedagógico: mostrou que a tecnologia não precisa ser privilégio metropolitano.
Empresas também sentiram o efeito. A Amatur, no transporte rodoviário, e a Transportes Bertolini, no fluvial, incorporaram a internet em tempo real às operações. O resultado é maior segurança nas rotas, rastreamento preciso e otimização de custos — ganhos que, indiretamente, beneficiam consumidores e trabalhadores.
Reconhecimento e significado
A Medalha Grandes Amazônidas, concedida anualmente a personalidades, instituições e empresas que contribuem para o desenvolvimento humano e econômico da Amazônia, já homenageou cientistas, líderes comunitários e empreendimentos culturais. A escolha de 2024 insere a conectividade no rol de fatores estratégicos para o futuro da região.
A presença de Musk na cerimônia é improvável, mas a Associação PanAmazônia garante ampla divulgação do tributo. “A concessão desta medalha é uma forma de valorizar quem está colaborando, na prática, para romper o isolamento histórico da região. E a conectividade é hoje um dos pilares mais relevantes para o progresso de populações antes esquecidas”, reforça Arce.
Do silêncio digital à presença global
Fundada em 2010, a Associação PanAmazônia atua como ponte entre o empresariado, o meio acadêmico e comunidades locais. Sua missão, ao homenagear a Starlink, não se limita a reconhecer uma tecnologia estrangeira; é também um gesto político: lembrar que integração territorial não se faz apenas com fronteiras físicas, mas com redes invisíveis de dados, voz e imagem.
No fundo, o prêmio é sobre dignidade. Sobre a possibilidade de que um adolescente em uma comunidade ribeirinha possa fazer um curso técnico online sem precisar abandonar sua casa; de que uma gestante receba orientação médica imediata; de que um barco com pane em um afluente distante consiga acionar socorro antes que seja tarde.
E se o reconhecimento vem de Manaus, é porque, mais do que celebrar o feito, a região quer consolidar essa conquista. Afinal, na Amazônia, a conectividade deixou de ser luxo: é uma nova forma de pertencer ao mundo.
Fonte: Revista Amazônia.
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