Na Amazônia industrial, o Polo Industrial de Manaus (PIM) vive um momento de tensão marcada por números que não podem ser ignorados. Em 2024, as fábricas instaladas sob incentivo nessa região produziram mais de 13,7 milhões de celulares, gerando mais de R$ 14,5 bilhões em faturamento. Até agosto de 2025, já eram mais de 7,3 milhões de unidades e faturamento superior a R$ 9,3 bilhões.
Apesar desse vigor produtivo, o setor enfrenta outra prova de fogo: o chamado comércio ‘cinza’, ou seja, aparelhos celulares vendidos sem a homologação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), deve resultar em uma evasão fiscal de R$ 4 bilhões em 2025.
O chamado comércio irregular corrói não só a arrecadação, mas a própria lógica de competitividade que justificou o PIM: incentivar a produção, gerar emprego e alavancar tecnologia no interior da Amazônia. Quando celulares invadem o mercado sem selo de homologação, o efeito reverbera globalmente, ele ameaça a cadeia industrial e o modelo de desenvolvimento regional.
O fato de a Zona Franca de Manaus, por meio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), concentrar mais de 600 indústrias de alta tecnologia, com milhares de empregos diretos e indiretos, torna a situação ainda mais delicada. Se a base produtiva está saudável, a resposta à concorrência desleal aparece como elemento crucial para sustentar o modelo.
Para o leitor que acompanha economia e indústria, o alerta não é apenas para o consumo: trata-se de olhar para o PIM como motor estratégico e vulnerável ao mesmo tempo. A fábrica que produz para todo o país depende também da regulamentação, da certificação e da fiscalização – elementos que, se fragilizados, enfraquecem todo o ecossistema de inovação e tecnologia da Amazônia.
Cristina Monte
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