A Educação que queremos II

O avanço tecnológico é avassalador. Inovações não param de surgir, nos surpreendendo a cada dia. Carros elétricos, drones que transportam pessoas, eletrodomésticos que conversam conosco, aviões gigantescos com autonomia para voar distâncias cada vez mais longas, equipamentos médicos que permitem diagnósticos mais precisos, estão se tornando realidade.

Assistir filmes, ver programas das operadoras de televisão, ouvir músicas, conversar, jogar, bater fotos, enviar mensagens, enfim, utilizar todas essas funcionalidades por meio de um mesmo equipamento eletrônico, já se tornou possível há um tempo não muito distante.

Antes desse tempo não muito distante, cada uma dessas funções exigia um aparelho específico. A integração foi possível por meio da intensiva utilização de tecnologias digitais e da produção de inovações. Muita pesquisa foi desenvolvida para se chegar ao nível tecnológico que vivenciamos.

Diversas empresas fecharam, ou foram obrigadas a diversificar suas atividades, em função das tecnolgias desenvolvidas e das muitas inovações realizadas, que impactaram nos seus negócios. A criatividade é o limite.

A tecnologia estará entranhada em um mundo onde: (i) os carros não terão motoristas devido à utilização de inteligência artificial, eletrônica embarcada, radares e muitos sensores, dentre outras tantas parafernálias tecnológicas; (ii) graças à internet das coisas os eletrodomésticos serão inteligentes e interagirão com seus donos; (iii) por causa da inteligência artificial, de novo, os sistemas BIA – Business Intelligence Analyst serão nossos interlocutores com os bancos; (iv) a incapacidade do nosso cérebro processar tanta informação, conduzirá os big datas a vir em nosso auxílio; (v) os recursos da realidade aumentada nos propiciarão enxergar detalhes que hoje não são possíveis; (vi) os robôs, além de nos auxiliar com as tarefas domésticas, povoarão as fábricas.

Por conta dessa dinâmica, a sensação que temos é de que a nossa vida se acelerou. Gostemos ou não, esse é o mundo em que vivemos e viveremos. Produzir riqueza será assim. Os produtos, sejam eles físicos ou desenvolvidos pelo setor de serviços, possuirão elevado conteúdo tecnológico embutido.

E onde são criadas tantas inovações tecnológicas? Sem dúvida, boa parte desses produtos são desenvolvidos nas empresas, local onde ocorre a inovação. Mas, em países desenvolvidos que abrigam as grandes empresas inovadoras, o suporte das universidades e dos institutos de tecnologia é imprescindível para produzir a inovação e fazer surgir tantas startups.

Seja formando profissionais qualificados para trabalhar em ambientes que exigem muito conhecimento e criatividade, ou para produzir ciência e tecnologia que irão se transformar em produtos inovadores, as escolas e as universidades exercem papéis primordiais e a cooperação da academia com as empresas é fundamental para o processo de inovação.

O Brasil não é pródigo em produzir inovações, salvo em alguns setores exportadores como o agronegócio. Ainda exportamos muita matéria prima e isso, embora auxilie a equilibrar as nossas contas externas, não agrega muito valor porque possui pouco tecnologia associada ao processo.

Nesse ambiente, creio que as pessoas responsáveis e preocupadas com a convivência em sociedade, começam a se questionar: como um cidadão que não possui um mínimo conhecimento de leitura, ou uma capacidade mínima de aritmética, poderá produzir, ou ao menos manusear um produto contendo tecnologias que possibilitarão aproveitar todas as suas funcionalidades?

O Brasil, e o Amazonas em particular, precisam mudar a forma de educar seus cidadãos. Nosso modelo educacional é frágil. Os indicadores mostram isso, sejam eles o Enade, o Enem, ou o PISA.

Escolas teóricas em demasia não preparam os estudantes para o mundo do trabalho. Minimamente, um aluno que se forma no ensino médio, ou no ensino técnico, ou se gradua, ou se pós gradua, precisa estar capacitado para lidar com um ambiente produtivo similar ao descrito no início do texto. Ou seja: muita tecnologia envolvida.

E os números que o Amazonas apresenta, são desalentadores. Dados indicam que, no nosso Estado, 105 (cento e cinco) mil crianças e jovens estão fora da escola, número mais baixo que a média da região Norte. A maior parte, cerca de 39%, é constituída de adolescentes entre 15 (quinze) e 17 (dezessete) anos. Se esses jovens estivessem na escola, se profissionalizando, muitos problemas sociais poderiam ser evitados.

Das unidades federativas, da população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, o Amazonas só possui mais alunos matriculados do que o Acre. Ressalte-se, no entanto, as difíceis condições geográficas do Estado. O que não justifica os números pífios apresentados.

Uma boa notícia da área educacional é que, em Manaus, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb de 2.017 avançou, atingindo 5,9 (cinco,nove), ante 5,5 (cinco, cinco) em 2.015. O que ainda é muito baixo. Mas o avanço é um alento.

Com esse cenário, não à toa, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas – CIEAM afirma que as empresas do PIM encontram muitas dificuldades para contratar “pessoas ‘realmente’ qualificadas” especialmente nas áreas de Engenharias, Tecnologias da Informação e Meio Ambiente.

As observações vindas da instituição que representa as indústrias do Amazonas, sinalizam para a necessidade de uma rápida ação no sentido de buscar alternativas que visem romper com essa carência. Principalmente pelo fato de que a elevação da produtividade das empresas será um importante aliado para a preservação de suas presenças na região e fator de ampliação da riqueza local, na forma de impostos a serem utilizados em outras atividades econômicas locais e na geração de riqueza.

Não podemos deixar de lembrar que o nosso modelo de desenvolvimento é sustentado na indústria. Preservar os empregos em um ambiente de ruptura tecnológica como estamos vivenciando, requer a formação de profissionais mais qualificados para atuar em ambientes produtivos cada vez mais intensivos em tecnologia e altamente automatizados.

Reiterando, é necessário, urgentemente, repensar o nosso modelo educacional. Não apenas pelas razões apresentadas anteriormente: atender à nossa indústria. Na verdade, a melhoria do sistema educacional e a redução de jovens fora da escola tem um impacto positivo (i) na economia como um todo, por possibilitar o aumento da capacidade produtiva do trabalhador e (ii) nos indicadores sociais.

Não devemos esquecer que o Amazonas deverá ampliar suas atividades econômicas, diversificando sua economia para reduzir o dependência da Zona Franca de Manaus. Desenvolver as vocações regionais também exige a tratativa de assuntos intensivos em tecnologia, como a mineração, as atividades desenvolvidas a partir do petróleo e do gás, a piscicultura e a biotecnologia originada da floresta amazônica, para citarmos os setores mais relevantes.

Esperamos que os alunos que atualmente não estão na escola, tenham essa oportunidade e que, mais do que isso, valha a pena estarem lá. Porque é a chance que temos de evitar que jovens se tornem vendedores ambulantes, ou que estejam nos sinais lavando os vidros dos carros para receber os trocados para suas subsistências, ou que, muito pior, por falta de educação formal, não possam ter a oportunidade de buscar um emprego digno, proporcionado por uma formação de qualidade.

No próximo artigo, pretendo discutir algumas das ações que estão sendo implantadas nas escolas e que tendem a acelerar o processo de aprendizado.

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