A Educação que queremos

Desde que comecei a escrever textos neste espaço gentilmente cedido pela Cristina Monte, tenho procurado contar um pouco da história que presenciei sobre a educação tecnológica e as ações de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (P&D&I) na região. Para facilitar a identificação dessas ações, procurei considerar fases estabelecidas a partir de marcos do Polo Industrial de Manaus (PIM).

Gostaria, no entanto, de fazer uma breve interrupção nessa sequência, para tratar de um assunto que tem sido tema constante de discussão e preocupação para a sociedade em geral: o novo paradigma de produção, a Indústria 4.0 ou a 4ª Revolução Industrial, que exigirá a adequação das indústrias locais a um processo mais automatizado, integrado, flexível, dinâmico.

E não se faz isso sem uma população educada e capacitada para se adequar a esse ambiente. Novas capacitações e habilidades serão necessárias. E temos que preparar nossos profissionais para esse ambiente de imensas transformações.

A digitização dos meios de produção está realizando transformações  sem precedentes no mundo do trabalho e na nossa vida pessoal.

A forma de nos relacionarmos, de distribuirmos riqueza, de trabalharmos e de aprendermos está mudando constantemente. Parece uma corrida maluca onde não vemos o ponto de chegada. Talvez seja porque esse ponto não exista.

Parecemos atônitos com as mudanças que estão ocorrendo. É compreensível o sentimento de insegurança e de incerteza que temos vivenciado. Até porque as mudanças se acentuam em um momento muito ruim para a sociedade brasileira. Conflitos políticos incessantes, economia que não cresce há muito tempo, desemprego acentuado e falta de perspectivas protagonizam as manchetes da mídia brasileira. O sentimento, muitas vezes, é de frustração.

Mas, se olharmos para a frente com algum grau de otimismo e confiança, talvez estejamos entrando em uma fase de desenvolvimento e prosperidade que o cenário atual torna nebuloso.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia parece ameaçar o trabalhador, modificando as formas de se trabalhar, o contraponto é que um conjunto de novos conceitos e as próprias tecnologias que estão surgindo, criamoportunidades para o surgimento de atividades que exigirão novos conhecimentos e habilidades.

A chave para um novo ciclo de desenvolvimento e prosperidade éa educação.

Essa oportunidade o País não parece estar perdendo, mas adiando. Nos envolvemos em discussões que, embora não devam deixar de ser realizadas, não deveriam ser prioritárias. Por que o Brasil tem muito o que avançar no campo da educação e precisa de algum grau de pragmatismo para implantar políticas públicas mais audaciosas nessa area.

Além de melhorar consideravelmente seus indicadores de aprendizagem, especialmente nas instituições públicas, o País tem um dever inadiável: capacitar e treinar milhões de brasileiros que estão desempregados por conta de uma das maiores recessões que já vivenciamos. Muitas dessas pessoas não possuem o conhecimento necessário para se candidatar a um trabalho nas indústrias, ou nas empresas de serviço, ou no comércio. Perderam tempo de suas vidas e o aprendizado que adquiriram, em boa parte, pode ter ficado obsoleto pela evolução tecnológica.

O Fórum Econômico Mundial sustenta que até 2.020 cerca de 35% das habilidades mais demandadas pela maioria das ocupações, devem mudar. E isso precisa ser tratado com muita atenção pelos governos, em todas as suas esferas. Porque impacta na produtividade das empresas e na produção da riqueza do País. E pode ampliar ainda mais o desemprego.

Países prósperos sustentarão seu desenvolvimento econômico investindo em educação e na produção de conhecimento e nainovação. E para se manterem ou se tornarem desenvolvidos, os países estão sendo ambiciosos.

O Brasil não investe pouco em educação. O percentual de 6% do PIB investido na área, é superior ao dealguns países desenvolvidos. Por que, então, nossos resultados são tão pífios nas avaliações internacionais, como o PISA? A resposta talvez seja simples: o recurso não chega ao professor, não chega ao aluno, perde-se no percurso entre a fonte captadora e a sala de aula. Talvez, uma gestão mais adequada pudesse operar mudanças consideráveis na educação brasileira.

Mas, no item investimento em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, tomamos um banho! Enquanto países desenvolvidos estão investindo algo em torno de 3 a 4% do PIB, o Brasil investe 1,3%. É muito pouco para um país que precisa se desenvolver. A Coréia do Sul, terra das gigantes Samsung e LG, para citar empresas que estão em Manaus, pretende investir 5% do seu PIB em P&D.

A impressão é que essa conta não fecha: um bom dinheiro investido em educação para obtenção de um mau resultado. Somos muito ineficientes. Por falta de conhcimento específico e por mau uso dos nossos recursos.

Reconhecendo-se a necessidade de exportar commodites para equilibrar as contas, o Brasil precisa achar uma forma de investir mais em P&D&I. Até para aumentar o valor agregado da exportação.

Para fazer isso, é necessário ter estratégia. E, na minha forma de ver, o que não falta são estudos para dizer o que deve ser feito. Todos esses estudos que tive oportunidade de ter contato, foram muito bem elaborados, mas perderam-se na descontinuidade das políticas públicas que já comentei anteriormente.Nenhum deles, no entanto, prescinde de ações educacionais para sustentar os desdobramentos propostos.

Recentemente, conheci um estudo denominado Projeto Indústria 2027, patrocinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que está sendo realizado pela Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Esse estudo apresenta 10 (dez) tecnologias disruptivas. Para quem não está familiarizado com esses novos termos, as tecnologias ditas disruptivasproduzem serviços ou produtos inovadores, alterando padrões ou modelos já existentes no mercado.

As 10 (dez) tecnologias mencionadas nesse estudo são as seguintes: Internet das Coisas;Produção Inteligente;Inteligência Artificial;Tecnologia das Redes;Biotecnologia e Bioprocessos;Nanotecnologia;Materais Avançados;Armazenamento de Energia.

Se observarmos essas tecnologias, praticamente todas elas afetam diretamente as empresas do nosso polo industrial.

A partir dessa abordagem, não seria prudente que estudassemos o impacto que essas tecnologias causarão no emprego dos manauaras, na atração de empresas para o nosso PIM, na produtividadedas indústrias locais, na arrecadação de impostos para o Estado e os nossos municípios, dentre outras variáveis?

O que nossas escolas e universidades estão fazendo, ou deveriam fazer, para se antecipar e dominar algumas dessas tecnologias? Quais dessas tecnologias podemos dominar para criar um ambiente de inovação e startups que atuem com foco no mercado externo?Há alguma estratégia governamental local sobre o assunto?Ou não é nada disso? Nossa vocação não é essa. Temos que achar outros caminhos.

No Codese essas questões estão sendo discutidas. Talvez fosse interessante a sociedade conhecer esse modelo participativo, constituído por voluntários, que se preocupa e busca soluções para construir o futuro da nossa cidade.

Participei, recentemente, de um evento sobre educação, promovido pela Startse, em que foram discutidos diversos assuntos que interligam-se com o que apresentei neste texto.

Preparar a região para o novo modelo de desenvolvimento econômico, baseado na mudança estrutural do ambiente dos meios de produção, é um desafio sem precedentes na história da industrialização de Manaus.

Pretendo apresentar alguns pontos que identifiquei no evento e discutir caminhos e propostas para enfrentar essa avalanche de novidades que podem, se bem tratadas, ser benéficas para nossa economia e, consequentemente, para nossa população.

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