A importância da Governança Corporativa para startups

Sistema pode ser uma forte aliada para elevar a maturidade de gestão e a qualidade das decisões mais estratégicas

Toda startup precisa de um sistema de governança? O que isso muda no dia a dia do negócio? Devo preparar minha equipe para discutir este tema? Apesar de parecer algo que possa interessar apenas para grandes organizações, este é um dos principais tópicos que devem estar presentes em qualquer movimentação, inclusive nas startups. Mas, afinal, o que é governança corporativa? 

Segundo o Instituto Brasileiro Governança Corporativa (IBGC) governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas são dirigidas, monitoradas e incentivadas e envolve o relacionamento e a condução do negócio com todas as partes interessadas: sócios, diretores, conselheiros, investidores, colaboradores, órgãos reguladores, entre outros novos que vem surgindo. 

Neste sentido, voltamos à pergunta inicial: toda startup necessita de um sistema de governança? A resposta é sim! Na verdade, ela já existe de forma intrínseca entre os sócios, que detêm a propriedade das cotas e deliberam sobre as questões da sociedade. A questão é que à medida que a empresa cresce, novos atores vão surgindo e alguns eventos disparam uma necessidade maior de gestão, comunicação e rituais. Exemplos típicos são a entrada de um novo dono (novo sócio), de um investidor ou um novo diretor. 

Os rituais de gestão também devem ser aprimorados, respeitando uma cadência, uma agenda e os diversos níveis de decisão. Exemplos destes rituais podem ser as reuniões de planejamento da sprint, de acompanhamento dos OKRs, dos dirigentes e claro, quando houver a de conselho. Em geral, grande parte destes rituais são garantidos pelo principal gestor da startup, o CEO. 

Abrindo um parênteses, não é raro startups iniciarem a operação com apenas as competências essenciais para iniciar o negócio, ou seja, um cara que toca a parte de produto e outro de vendas, e fica uma parte de gestão acumulada com um deles e outra compartilhada com uma contabilidade, uma aceleradora ou quando muito, um assistente administrativo. 

Considerar que o primeiro desafio de toda startup é provar que existe uma oportunidade – não está errado! Mas é necessário expandir a visão para perceber quando uma parte da gestão é negligenciada, incorrendo em riscos fatais como falta de caixa para chegar ao ponto B ou falta de direcionamento e visão estratégica para contornar os obstáculos e seguir crescendo. 

Portanto, a existência de um gestor, seja um CEO ou CFO, é um ponto crucial para evoluir no sistema de governança. E, além da IBGC temos a GoNew, que surgiu em 2018, como uma escola de governança, que cunhou o lema “Speed and Some Control”, com o propósito de debater e priorizar o tema governança nesta nova economia.

Com base nos dados da IBGC e também da GoNew é possível traçar uma classificação para a maturidade das startups em quatro níveis e alinhar em qual delas se encaixa a necessidade de começar a discutir a governança corporativa: 

0) Estágio inicial – Este é o estágio de maior adrenalina, ou deveria ser, os empreendedores acreditam fielmente numa ideia, já validaram que resolve um problema e agora precisam desenvolver e entregar um produto que tenha valor percebido pelo cliente. 

1) Estágio de Tração – Crescimento – Neste estágio a startup já tem um produto aceito pelo mercado (PMF), existe uma consistência na aquisição de clientes ou usuários (tração) e os indicadores de performance começam a ser demandados, como LTV, CAC e Churn. Neste momento é possível que a startup tenha entre seus stakeholders, mentores, investidores anjos ou aceleradoras. Por isso é recomendável estabelecer um board de conselho consultivo. 

2) Estágio de Escala – Novos Canais – O desafio aqui é crescer de forma acelerada, investindo em outros canais de aquisição de clientes. Novas práticas de governança e indicadores de desempenho são requeridos pelo board e novas funções no board podem ser necessárias. O board aqui dependendo do tamanho da empresa passa a ser deliberativo e, portanto, há remuneração de conselheiros. 

3) Estágio de Solidez – Consolidação – O desafio aqui é seguir inovando, evoluir o portfólio e avançar em novos mercados e ciclos de crescimento. Novas estratégias e competências são necessárias. O mercado em geral não reconhece mais como sendo uma startup, talvez uma scale up, dependerá muito da velocidade em que cresce. Neste estágio o board lida com preocupações como a preservação da cultura, a eventual necessidade de sucessão dos fundadores/sócios, em garantir novas captações, venda ou perenidade do negócio.

Em resumo, apesar de não ser claro o impacto de uma boa governança no sucesso de uma startup, sabe-se que muitas delas quebram ou deixam de atingir seu pleno potencial por desalinhamentos entre sócios, falta de capital e/ou erros estratégicos. Neste sentido, a governança corporativa pode ser uma forte aliada para elevar a maturidade de gestão e a qualidade das decisões mais estratégicas. 

É um tema em pleno desenvolvimento nas grandes empresas, mas que startups podem e devem implementar algum nível de governança desde já. Boa sorte e boa governança a todos. 

*Por Cacio Packer Empreendedor, Conselheiro e Investidor Anjo

Fonte: NSC Total

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