Se você usa as redes sociais, certamente deve ter se deparado com diversas imagens coloridas nos perfis de seus amigos, conhecidos e celebridades favoritas. Os populares avatares do Lensa, um gerador de fotos de perfil relativamente barato e fácil de usar, inundaram a internet e aparentemente vieram para ficar. O aplicativo que faz as imagens, disponível para iOS e Android, basicamente mescla selfies com arte digital, caiu no gosto do público apesar do preço no País e dos vagos termos de uso.
Com valores entre R$ 10 e R$ 22 por pacote de imagens, o programa pede ao usuário que carregue entre dez e vinte fotos daciais, com variações de fundos, expressões e posições. Só assim ele conseguirá criar as imagens e é aí que mora o problema. Além de pagar pela arte, o usuário, ao revelar a sua fisionomia, se transforma em produto.
Ademais das fotos, seu gênero, o dispositivo que usou para acessar o serviço e a sua localização passam a ser monitorados pela empresa de alguma forma, que poderá usá-los em diversas situações, como para fazer uma “análise comportamental” de quem usa o produto.
Se por um lado, as suas fotos reais estão protegidas e são deletadas, as informações geradas pelos programas de Inteligência Artificial com base em seu rosto, não. Uma possível consequência disso e de tantos outros programas que oferecem serviços de IA semelhantes? Roubo e fornecimento desses dados para outras empresas, que poderão usar as informações para oferecer anúncios e serviços direcionados.
Para Diogo Cortiz, professor e doutor em Tecnologia da Inteligência e Design da PUC-SP, há uma espécie de fetichismo tecnológico na hora que o usuário se depara com essas novidades, ou seja, acreditar que a tecnologia irá fazer coisas legais sem pedir nada em troca. Para uma usuária, que prefere não se identificar, há um receio: “Baixei o aplicativo assim que vi que todo mundo estava usando, mas depois fui ler a respeito e me arrependi. Imagina receber propaganda de cirurgia plástica no nariz?”.
Outra polêmica da arte gerada por algoritmos também reside entre os artistas de carne e osso que, não raro, veem seus trabalhos originais sendo utilizados sem nenhuma forma de crédito ou remuneração. Será que com o avanço do Metaverso, a privacidade e a individualidade serão coisas do passado?