Foto: Jeiza Russo

Acervo de obras raras do Inpa está sendo digitalizado para consulta científica

A biblioteca do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa) possui um acervo de obras raras das primeiras expedições científicas realizadas no século XVII pela Amazônia. São um pouco mais de três mil obras entre livros, diários, anotações e fotografias que estão em processo de curadoria, tratamento, restauração e digitalização para consulta científica.

O acervo é remanescente do antigo Museu Botânico do Amazonas, instituído pela princesa Isabel em 1883, que ficava localizado no bairro de Cachoeirinha, zona Sul da cidade. O lugar fechou em 1890, um pouco depois da Proclamação da República. As obras ficaram alocadas em um porão no Colégio Amazonense Dom Pedro II, até chegar no Inpa. O ano exato dessa movimentação é desconhecido.

Boa parte das anotações e livros são da biblioteca pessoal do botânico e escritor João Barbosa Rodrigues, único diretor do Museu Botânico do Amazonas. Entre 1872 e 1875, ele esteve em missão científica na Amazônia sob ordem do governo imperial. O coordenador da biblioteca do Inpa e à frente do projeto de digitalização, Inácio Oliveira, declarou que possivelmente esse seja o maior acervo de obras raras.

“A nossa obra mais antiga é do século XVII. São diários de viagens e expedições pela Amazônia. Talvez essa seja a maior coleção existente no mundo de obras raras com a temática sobre a Amazônia. Obras juntadas pelo Barbosa Rodrigues, financiado pelo segundo reinado, então, grade parte dessas obras vem dessa época. Hoje temos em torno de três mil volumes exclusivos sobre a Amazônia”, disse Oliveira.

 Existem obras do antropólogo e ictiólogo Manuel Nunes Pereira, que ao lado dos escritores José Chevalier, Péricles de Moraes e Benjamin Lima fundou a Academia Amazonense de Letras. “Tem obras também de Mauro Acioli, que foi pesquisador do Inpa, Djalma Batista que foi diretor do Inpa, inclusive temos fotos de Djalma Batista. E as cartas de Barbosa Rodrigues. Obras que são objeto de pesquisa na área de história da ciência”, pontuou Inácio.

O processo de separação das obras estava interrompido desde 2018, após aposentadoria da bibliotecária, Angela Panzo, primeira a trabalhar com o acervo. Segundo Inácio, o trabalho de digitalização é minucioso feito manualmente pela servidora do Inpa, Silvia Helena. E o tratamento da imagem é feito pela bolsista Clara Aguiar. Apenas 5% do acervo está digitalizado.

“O Inpa luta há muito tempo para digitalizar esse acervo. Já tiveram várias iniciativas e nunca conseguimos levar à cabo essa digitalização. Até fomos contemplados por um projeto da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) em 2018 para digitalizar uma parte, e conseguimos apenas 5% desse acervo, mas percebemos que faríamos por conta própria. É um trabalho de formiguinha, digitalizando página por página”, pontuou Inácio.

Silvia Helena, servidora há 43 anos do Inpa, explica que por dia digitaliza quatro livros. De luvas, ela folheia cuidadosamente cada página das obras e com uma scanner eterniza as escritas raras nas obras no computador.

“Para mim é gratificante. É algo que eu jamais imaginei trabalhar e de repente surgiu essa oportunidade e estou aqui trabalhando. E também é importante fazer parte da história do Inpa como servidora”, disse Silvia Helena.

Disponibilização

A expectativa é que em dois anos esse acervo esteja totalmente disponibilizado digitalmente consulta científica, até agosto desse ano 30% das obras já estejam disponíveis online. Para Inácio o valor científico de todas essas obras é incalculável. Também constam achados do fotógrafo e etnógrafo, Ermanno Stradelli, que atuou na captação de mitos e dos povos indígenas. Ele morreu em 1926 em Manaus.

“Além do valor histórico da raridade das obras, tem o valor de uma memória do pioneirismo das investigações científicas na Amazônia, que foram feitas por pesquisadores, em especial Barbosa Rodrigues”, frisou Inácio.

Fonte: A Crítica.

Compartilhar

Últimas Notícias