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Aluna surda da Ufam em Coari cria sinais inéditos em Libras para a área da Física

Na tarde da última sexta-feira, 9 de agosto, a discente Cindy Claudia Pereira da Silva, do curso de Ciências: Matemática e Física do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Ufam (ISB/Coari), defendeu seu Trabalho de Conclusão de Curso que teve como objetivo geral produzir material didático com a tradução e criação de sinais das unidades das grandezas fundamentais da Física para Língua Brasileira de Sinais (Libras). Alguns desses sinais, que ainda não existem na literatura, foram criados, apresentados e aprovados pela comunidade surda da Escola Estadual Prefeito Alexandre Montoril – GM3, em Coari-AM. Cindy é a primeira aluna surda a concluir curso superior no âmbito do ISB.

A aceitação da comunidade estudantil da escola permitiu a produção de cartilha que deve contribuir para o ensino da física para o aluno com surdez. A motivação para o estudo surgiu das dificuldades enfrentadas pela estudante ao longo do curso, especialmente pela falta de sinais específicos em Libras para representar termos técnicos das áreas de matemática e física. A banca avaliadora foi composta pelos professores Vanuza Bezerra Pachêco (orientadora), Tânia Valéria de Oliveira Custódio e Davi Cipriano de Queiroz. A defesa da acadêmica foi realizada em Libras, com interpretação para o português, garantindo que a banca e os demais presentes pudessem acompanhar a apresentação. Cindy ingressou no ISB/Ufam no segundo semestre de 2015 e a cerimônia de outorga de grau está prevista para 19 de setembro de 2024. Em seus agradecimentos, a aluna relembrou a trajetória desafiadora e agradeceu aos intérpretes que a auxiliaram durante o percurso. Emocionada, também agradeceu seu pai, marido e filhos pelo apoio incessante.

A presidente da banca e orientadora, Professora Vanusa Pachêco, afirmou que o trabalho teve início no subprojeto multidisciplinar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), em 2018, na qual a acadêmica trabalhou com os sinais tanto em matemática, quanto em física, mas que aprofundou o tema em física para o trabalho final. Afirmou ainda que a aluna teve êxito na proposta, o que refletiu em sua nota final. De acordo com a professora Tânia Valéria o trabalho da Cindy é um trabalho único no estado e talvez na região. Ela é uma aluna surda muda, em um curso regular, uma licenciatura dupla, Matemática e Física, e ela conseguiu fazer junto com a sua orientadora e seu coorientador, um trabalho primoroso que está levando a acessibilidade e inclusão dos estudantes surdos e mudos, ou surdos mudos, para o conhecimento específico da área. “Até então, usavam-se arranjos para designar dimensões, medidas e outros. E agora, a partir do trabalho iniciado por eles, alunos da educação básica terão sinais específicos. “Um trabalho que deve ser levado ao conhecimento do Brasil todo, porque ele é um marco no ensino, na licenciatura e também na língua brasileira de sinais”, disse.

O professor Wesley Souza de Oliveira, coorientador do trabalho e um dos técnicos intérpretes que acompanharam a aluna, destacou o desafio de realizar a tradução dos conteúdos da área. Ele ressaltou que a formação dos intérpretes não é em ciências exatas, o que exigiu um aprofundamento nas disciplinas do curso. Para isso, foi necessário um estudo intensivo e contato frequente com cada docente para explicações adicionais, visando uma compreensão mais detalhada dos temas e, consequentemente, uma tradução mais precisa. Wesley também relembrou que, no início do curso, a socialização da turma com a aluna era mínima, mas que houve uma evolução significativa tanto dos alunos quanto dos professores ao longo do tempo, culminando na conclusão bem-sucedida do curso e melhoria expressiva nas relações.

O professor Davi Queiroz, membro da banca avaliadora, ressaltou que o trabalho da aluna vai além de promover a inclusão; ele também representa um passo importante na personalização do ensino. Essa abordagem personalizada é fundamental, pois atende às diretrizes mais recentes da neurociência cognitiva, que enfatizam a importância de adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos. “Sei que Cindy aprendeu muito durante sua vida acadêmica, mas tenho certeza que o ISB também evoluiu muito com essa experiência, e está mais preparado para atender as diferenças na busca pela equidade na sua comunidade”, concluiu.

Fonte: A Crítica.

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