Analfabetos funcionais e mercado de trabalho

A educação no Brasil apresenta qualidade que deixa a desejar. O jovem termina o Ensino Médio e muitas vezes não consegue fazer uma interpretação de texto ou efetuar uma operação básica de matemática. A falta de base educacional será evidenciada na hora da busca por emprego. A Pesquisa Alfabetismo no Mundo do Trabalho vai mostrar que a educação gerou um exército de analfabetos funcionais e vamos nos dar conta do tamanho desse problema.

Alguns motivos

São várias as causas na educação que nos faz refletir a respeito da sua desconexão com o desenvolvimento humano e profissional do indivíduo e vou citar apenas algumas, que são a manutenção de um modelo ultrapassado de ensino que prima por um conteúdo programático didático pouco reflexivo, que insiste em manter conteúdos orientados por datas e feitos, e não por eixos temáticos que despertariam o interesse do alunato já que estimularia o conhecimento e a criatividade, no entanto, já há algumas escolas que estão mudando esse paradigma.

Outra causa se refere ao ambiente fechado e limitado da sala de aula que é desestimulante para uma geração acostumada à dinâmica e movimentação da vida das redes sociais. Além disso, faltam pedagogos dispostos a enfrentar a sala de aula em troca de salários considerados baixos e uma carreira pouco atraente e nada promissora. Porém, temos, sobretudo, na questão da gestão pública uma estrutura sistêmica política incapaz de transformar a realidade do processo educacional.

Diretrizes no papel

O governo federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), mantém o Plano Nacional de Educação (PNE), que determina diretrizes, metas e estratégias visando ao desenvolvimento de política educacional capaz de promover ensino público de melhor qualidade. Contudo, apesar de sua importância, ainda não saiu do papel e poucos estados têm se esforçado para sua implantação. Não saímos do lugar!

Pesquisa aponta que em cada 4 brasileiros 1 é analfabeto funcional

Daí a um passo o jovem termina o Ensino Médio sem perspectivas de um futuro melhor. “A falta de uma boa base educacional exclui muitos candidatos à conquista da vaga de emprego” é o que aponta o estudo realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, parceiros na criação e implementação do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), o qual indica que pessoas com menor nível de alfabetismo tendem a ter maior possibilidade de ficar desempregadas. Outro dado verificou que apenas 1 em cada 3 trabalhadores brasileiros podem ser enquadrados nos dois níveis mais altos da escala de alfabetismo, sendo 24% no nível Intermediário e apenas 9% no nível Proficiente, evidenciando que o país tem ainda uma mão de obra pouco qualificada.

A pesquisa Alfabetismo no Mundo do Trabalho (ano base 2015), que mede habilidades de leitura, escrita e matemática na população de 15 a 64 anos, entrevistou cerca de 2 mil pessoas e a constatação foi desanimadora: 1 em cada 4 brasileiros é analfabeto funcional.

Com diploma e sem ensino

Triste realidade que chega às salas de aulas da graduação como se depara Ligia Maria Duque J. de Assis que atua como professora, psicóloga e diretora de Educação e Desenvolvimento da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Amazonas (ABRH-AM). “Nas IES  um dos maiores desafios são os alunos que chegam sem saber ler, nem entender o que leem. O despreparo para fazer uma análise é gritante, existe uma completa ausência de conteúdo para analisar e com isto, uma incapacidade crítica, que para tal cobra um pensamento complexo. No ambiente de trabalho as tarefas não repetitivas, que exigem maior compreensão do que precisa ser feito e trazem vários problemas aos gestores: são pessoas que precisam ter as instruções repetidas várias vezes para entender o que fazer,  são relatórios incompreensíveis, incompletos ou que não são feitos, comprometendo a produtividade e os resultados. Sem falar do truncamento no processo de comunicação, pela limitação de conhecimento causada pela precariedade do ensino. O analfabeto funcional só é capaz de copiar o que vê escrito na sua frente, consegue um diploma pelo processo de aprovação compulsória, mas se acredita capaz porque os professores chancelaram seu conhecimento ao dar a aprovação, e assim se eterniza a mediocridade e o sofrimento daqueles que são vítimas deste sistema – a sociedade como um todo”, analisa a professora e ponto final.

PUBLICADO NO JCAM – JORNAL DO COMMERCIO

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