A sociobiodiversidade da Amazônia movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão ao ano com mais de 60 produtos vendidos no mercado interno e no exterior. Segundo os especialistas, o número pode ser ainda maior, caso a infraestrutura logística da região seja pensada para esta economia verde.
Salo Coslovsky, pesquisador associado ao Amazônia 2030 e professor da Universidade de Nova York (EUA), conta que há uma oportunidade de atrair negócios ao bioma na ordem de US$ 200 milhões. Por isso, ele defende, melhorar a infraestrutura logística é fundamental para facilitar o fluxo de pessoas e mercadorias entre Amazônia Legal e outras regiões do Brasil e do mundo.
“Precisamos de vias pavimentadas, duplicadas e com manutenção constante”, diz, ao ressaltar que as estradas nesta parte do País ainda são de terra, com pouca sinalização e baixas condições de tráfego. Por outro lado, localidades servidas por redes de hidrovias, ferrovias e estradas eficientes têm facilidade de comercializar além-fronteiras, aumentando a competitividade local ao mesmo tempo que gera emprego e renda.
Um desafio para melhorar acessibilidade de uma região dentro da Amazônia Legal é identificar as melhores oportunidades de investimento para aumentar a acessibilidade daquela região. Segundo Coslovsky, mapear comunidades, aptidões produtivas e a geografia no entorno auxilia no planejamento das diferentes possibilidades de investimentos de infraestrutura logística.
Mapeamento realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com auxílio de inteligência artificial, foram identificadas 3,46 milhões de quilômetros de vias na Amazônia. O número é muito maior do que o registrado oficialmente pelo Ministério de Infraestrutura. Segundo a pasta, o Sistema Nacional de Viação considera uma rede composta por apenas 23,5 mil quilômetros de rodovias federais, menos de 0,7% do total do estudo.
Este desencontro entre os dados do Ministério e as imagens de satélite dá uma ideia da necessidade de estruturar melhor os modais que servem a Amazônia. “A gente quer criar condições para produzir somente ração animal ou emprego e bem-estar via bioeconomia, mercado de carbono e agenda verde?”, questiona Salo, especialista em desenvolvimento econômico.
Oportunidade de mercado
Na avaliação do Programa Xingu, do Instituto Socioambiental (ISA), é preciso construir estradas para garantir acesso de serviços públicos às comunidades amazônicas e para o escoamento de sua produção. Também é preciso saber onde e como construí-las, para evitar que sejam vetores de desmatamento e ocupação desordenada do território.
“As estradas devem ser parte de infraestrutura ao serviço do desenvolvimento regional construído junto com as comunidades amazônicas. Sua participação deve estar garantida desde as primeiras fases do planejamento das estradas até sua operação e gestão de impactos”, afirma em nota.
Enquanto ainda há esta lacuna por parte do poder público, iniciativas privadas tentam fazer a ponte da economia verde. Pelo terceiro ano consecutivo, a empresa Mercado Livre investe em um projeto para que empresários rurais possam acessar mercados e ampliar a comercialização online de produtos da sociobiodiversidade.
Um dos exemplos é a Jambuzera, cachaça de jambu orgânica produzida por agricultores familiares de Santa Isabel do Pará. Vendida pela internet, a bebida gera renda para cerca de 200 pessoas da região, além de ser uma forma de evitar o desmatamento.
Embora a logística de escoar o produto da floresta até o centro de distribuição seja de responsabilidade do produtor, o Mercado Livre assume a armazenagem, o envio e o frete dali em diante. Com três mil pontos de coleta e retirada de mercadorias no País inteiro, Laura Motta, gerente de sustentabilidade da empresa, diz que essa é uma porta para difundir a bioeconomia.
“Propomos o acesso aos centros de distribuição, já que um gargalo na Amazônia é a logística. Temos 800 produtos como jambu, tucupi e umbu na plataforma online, o que possibilita dar visibilidade aos produtos da sociobiodiversidade”, conta Laura. Além disso, a companhia anunciou a operação da primeira das 6 aeronaves da GOL Linhas Aéreas, que visa democratizar o comércio para todas as regiões do país, com ênfase no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
*Com informações do site Globo Rural