Canadá disputa liderança de pesquisas em inteligência artificial

OCanadá está em uma posição única para assumir a liderança mundial em pesquisas de inteligência artificial. O alto desempenho nos estudos avançados de IA é resultado de uma série de fatores: a abertura do país aos imigrantes, o investimento do governo em pesquisa de ponta, a colaboração constante entre universidade e empresas e uma incrível concentração de especialistas por metro quadrado.

Essas são algumas das conclusões do estudo The Canadian AI Ecosystem, realizado pela consultoria Green Technology, que analisou em profundidade 297 empresas do país, além de conversar com empreendedores, pesquisadores e investidores do ecossistema.

“As pesquisas em IA no Canadá se beneficiaram dos princípios de investimento do Canadian Institute for Advanced Research”, diz Brady William Fox, coordenador da pesquisa. Enquanto, nos Estados Unidos, o foco está nos investimentos que podem dar retorno rápido, no Canadá, os cientistas têm total liberdade para estudar o que quiserem. O resultado são pesquisas de ponta, explorando todas as possibilidades da IA”.

Outro fator decisivo é a concentração de algumas das mentes mais brilhantes da área em cidades como Montreal e Vancouver. “Muito do que hoje chamamos de IA se refere a aplicações de deep learning usando redes neurais. Nos anos 90, para o resto do mundo, isso era apenas uma ramificação da ciência da computação. Mas pesquisadores canadenses como Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio foram incentivados a prosseguir com suas pesquisas e fizeram descobertas incríveis. Por isso, são considerados os pais do deep learning no mundo”, diz Fox.

As questões políticas também beneficiam o Canadá, que assiste de camarote às disputas comerciais entre Estados Unidos e China. “Por enquanto, estamos imunes às dificuldades na troca de tecnologia entre os Estados Unidos e a China. Além disso, por conta do programa Global Talent Stream [lançado recentemente pelo primeiro-ministro Justin Trudeau], hoje é mais fácil vir para o Canadá do que conseguir o visto americano. Isso transformou o país no cenário ideal para conferências de tecnologia e reuniões de times de pesquisa multiculturais”, diz o coordenador da pesquisa. Ele cita como exemplo a conferência C2, que reuniu em maio alguns dos mais importantes players do cenário digital canadense para discutir comércio, criatividade e inovação.

Brady Fox, coordenador da pesquisa The Canadian AI Ecosystem (Foto: Divulgação)

Montreal está no centro das inovações em inteligência artificial. A cidade deu origem ao Element AI, empresa de serviços em IA mais importante do país. É lá também que fica o MILA (Montreal Institute for Learning Algorithms), fundado pelo professor Yoshua Bengio, da Universidade de Montreal, e que reúne alguns dos maiores especialistas em deep learning do mundo. No início deste ano, Bengio foi um dos vencedores da premiação Turing Awards, que consagrou três dos “padrinhos da IA”.

Apenas na primeira metade de 2017, foram investidos US$ 162 milhões em empresas de inteligência artificial no país, segundo a PwC Canadá. As principais aplicações da tecnologia no país são nas áreas de recursos humanos, marketing, mídias sociais e saúde pública. Para que o Canadá realize todo o seu potencial, porém, terá de superar algumas dificuldades importantes. A principal é a escassez de investimentos de venture capital, que permitam às startups de IA escalar seus modelos de negócios. “Existe um vale da morte. As startups conseguem recursos para desenvolver as soluções, mas não para escalá-las.”

Uma das principais discussões de hoje no mundo da IA é o uso responsável da tecnologia. “O Canadá está no centro dessa discussão, ao lado de outros países da OCDE, como Alemanha e França”, diz Fox. Enquanto a OCDE criou os seus princípios para desenvolvimento de inteligência artificial, adotados também pelo Brasil, o Canadá elaborou em dezembro de 2018 a Montreal Declaration, que defende o desenvolvimento responsável das aplicações de IA.

Evitar que o preconceito seja incorporado à inteligência artificial é uma das maiores preocupações dos especialistas da área. “Precisamos estudar todas as instâncias em que a IA demonstra preconceito de raça ou gênero, e usar isso para refletir sobre os dados que estamos usando para alimentar as máquinas. Além disso, é necessário refletir sobre o desafio de manter a igualdade, a diversidade e a inclusão no planeta, a qualquer preço.”

Fonte: Época

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