Nos 15 anos de operação contínua no Brasil, a Harman, dona de marcas como JBL, AKG e Harman Kardon, vem reposicionando sua estratégia no país, unindo produção local e um novo modelo de comercialização que visa maior controle e combate ao mercado cinza.
Com a celebração de seu 15º ano brasileiro, a empresa destaca seus investimentos em produção nacional, especialmente nas unidades de Manaus (AM) e Nova Santa Rita (RS). Essa presença industrial doméstica permite, de acordo com a companhia, maior agilidade logística, redução de custos e adaptação dos produtos às demandas regionais. A marca JBL, por exemplo, já fabrica no país vários modelos de destaque, inclusive a linha Boombox, consolidando sua liderança no mercado de áudio nacional. Esse movimento fortalece não apenas a competitividade diante da pirataria e das importações paralelas, mas também possibilita um diálogo mais próximo com consumidores e parceiros locais.
No campo comercial, a Harman anunciou uma virada estratégica: abandonar o modelo tradicional de venda para distribuidores e migrar para uma dinâmica de venda direta a revendas especializadas e integradores, com foco no consumidor final. Segundo a empresa, essa mudança busca fortalecer o controle da cadeia, rastrear melhor os produtos e reduzir o impacto do mercado cinza e de importações ilegais. Além disso, pretende estreitar o relacionamento com parceiros especializados, dividir o Brasil em macroáreas de atuação com gerentes regionais dedicados e criar centros de experimentação e demonstração, onde integradores e clientes possam conhecer os equipamentos em uso real, em workshops e treinamentos.
O novo modelo também traz especial atenção às marcas premium do portfólio, como JBL Synthesis, Mark Levinson, Revel, Lexicon e Arcam, que serão as primeiras a seguir esse formato. Para reforçar a rastreabilidade, a companhia prevê múltiplas camadas de segurança, incluindo números de série visíveis e ocultos, gravações digitais nos chips e cooperação com órgãos públicos, como a Polícia Federal, além de ações judiciais contra distribuidores irregulares.
Embora estratégica, a transição não é simples. Ao romper com distribuidores tradicionais, a Harman assume riscos como maiores custos de estruturação logística e suporte, resistência de canais acostumados ao modelo anterior e a necessidade de conquistar a confiança de lojistas que viam nos distribuidores um elo importante para garantia e reposição. Há ainda o desafio de manter a reputação de marca premium junto ao consumidor, que valoriza qualidade, mas também assistência pós-venda confiável.
Mais do que um mercado secundário, o Brasil se consolida como um laboratório estratégico para a Harman. Ao experimentar aqui um modelo que combina fabricação local com maior controle da cadeia de distribuição, a empresa busca não apenas ampliar sua participação no mercado nacional, mas também gerar aprendizados que poderão ser replicados em outros países emergentes.
Para analistas de negócios, trata-se de uma aposta arriscada, mas com grande potencial de recompensa: maior percepção de valor de marca, margens mais controladas, fidelização dos parceiros de canal e redução da dependência de intermediários. Em um cenário global de cadeias logísticas complexas e disputas pelo controle territorial de marcas, a Harman mostra que prefere estar próxima do consumidor final e não apenas abastecer distribuidores.
Cristina Monte
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