Para os 8 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação no Brasil, a faculdade representa um novo horizonte profissional, tanto para empreender como para ingressar nas organizações que admira. Independentemente da escolha, o mercado tende a ser bastante desafiador em termos de complexidade e também no que se refere à velocidade das mudanças.
As empresas, por sua vez, estão cada vez mais dependentes de agilidade e necessitam de profissionais com alta capacidade de resolução de problemas complexos, desenvoltura analítica para lidar com grandes volumes de dados, habilidades para trabalhar em equipe, se comunicar e ter consciência do contexto.
Por isso, é preciso que as instituições de ensino se reinventem, não podendo se limitar somente ao conteúdo do curso e esperar que os alunos desenvolvam as demais habilidades com experiências fora da faculdade, em estágios ou no primeiro emprego.
O papel da universidade
No modelo tradicional, um curso de graduação era formado pela soma de conteúdos separados por áreas de conhecimento, em que o aluno frequentava uma determinada sequência de “caixinhas” até se formar. De acordo com o professor Guilherme Martins, coordenador da graduação em administração do Insper, esse modelo deixava um vazio entre a sala de aula e o mercado de trabalho. “Era comum os alunos fazerem perguntas sobre como um determinado conceito funcionava no ‘mundo lá fora’.” Mas essa situação mudou. “A faculdade precisa discutir em sala os dilemas reais das empresas e da sociedade. Os professores precisam explorar os conteúdos de forma contextualizada, com dinâmicas que permitam que os alunos possam desenvolver competências importantes a partir de avaliação e feedback”, diz.
Outras habilidades
Visão analítica, pensamento crítico, trabalho em equipe e resolução de problemas complexos são algumas das atribuições procuradas em um profissional pelas empresas hoje. Com essas novas competências tratadas dentro e fora da sala de aula pelas universidades, o aluno estará ainda mais capacitado para os desafios do mercado.
No caso específico dos cursos de engenharia que o Insper oferece, como mecânica, mecatrônica e computação, ao conhecimento técnico é acrescida também uma visão multidisciplinar e socioemocional com mentoria do corpo docente. “O futuro engenheiro precisa ter a aptidão de enxergar o mundo sob múltiplas perspectivas, sociocultural, político-legal, ética, ambiental, econômica etc. É fundamental que esse aluno adquira a habilidade de ‘aprender a aprender’, ou seja, como identificar seus gaps de conhecimento e como exercitar o que não sabe, sendo protagonista de seu desenvolvimento”, explica o professor Frederico Barbieri, coordenador do curso de engenharia mecânica do Insper.
“A faculdade precisa discutir em sala os dilemas reais das empresas e da sociedade. Os professores precisam explorar os conteúdos de forma contextualizada, com dinâmicas que permitam que os alunos possam desenvolver competências importantes a partir de avaliação e feedback”
Um fator crítico de sucesso no mercado de trabalho atual, e também do futuro, é a competência analítica do profissional, já que, antes mesmo de chegar ao mercado, espera-se que ele tenha a capacidade de lidar com dados – a quantidade de informação gerada e disponibilizada com as tecnologias da informação tem crescido exponencialmente.
Segundo o professor Frederico Barbieri, esse enorme volume de dados possibilita obter informações mais precisas em diversas áreas do conhecimento, desde neurociência até previsões de vendas em um futuro próximo e consequente dimensionamento de estoques. “É cada vez maior a necessidade de profissionais com capacidade para analisar essa grande base de dados, tirando proveito das informações e conhecimentos relevantes para sua área de atuação”, afirma.
Experiências reais
Como o ambiente universitário pode proporcionar um aprendizado mais próximo da realidade do “mundo lá fora”? A resposta está na constante interação entre as empresas e a universidade. No Insper, os alunos de todos os cursos desenvolvem grandes projetos de resolução de problemas, em que, primeiramente, precisam entender que nem sempre o problema reportado por uma organização é necessariamente o que precisa ser resolvido.
Os alunos passam a entender que ir a campo para coletar dados, entrevistar e desenvolver empatia com seu potencial cliente pode trazer à tona aspectos obscuros ou confusos de problemas complexos, além de desmitificar muitos discursos. “Um profissional acaba sendo incapaz de prover a solução de um problema complexo sem interação constante com o campo, sem curiosidade intelectual para coletar e analisar dados, sem entender o problema e trabalhar em equipe”, diz Martins.
Para o professor, essa é a educação do futuro. “Não basta fazer projetos escolares descolados da realidade. Nossos alunos desenvolvem projetos cuja relevância é testada ao longo de todo o processo. Dessa forma fazem a diferença para empresas e estudantes.”
É comum, aliás, que empresas procurem o Insper em busca não apenas de soluções mas também de interação com os professores e estudantes. “Elas querem ouvir a opinião do aluno, conversar com pessoas que ajudem os gestores a pensar fora da caixa”, afirma Martins. A instituição também proporciona visitas a locais onde é possível coletar informações sobre o mercado, incluindo empresas e seus clientes.
Apoiado nesse pacote de recursos, o aluno se vê preparado para um mercado de trabalho cada dia mais dinâmico e volátil, tendo desenvolvido sua capacidade analítica, de comunicação e de trabalho em equipe. “Com uma formação assim, o estudante será protagonista em qualquer ambiente corporativo que frequente”, finaliza.
Fonte: Exame