Ele toma conta de 150 mil bebês – e fatura alto num mercado bilionário

Quando Kurt Workman e sua mulher, Shea, decidiram que queriam começar uma família, a primeira preocupação deles era se o bebê poderia herdar o problema cardíaco da mãe. Um monitor de batimentos comum não seria capaz de informar se o coraçãozinho estivesse fora de ritmo nem de alertar se a situação fosse perigosa.

Kurt Workman e dois de seus filhos, que serviram de inspiração (e cobaia) para a Owle (Foto: Divulgação)

A solução encontrada por Workman foi desenvolver a Smart Sock (em português, meia inteligente), um aparelho não invasivo que monitora os padrões de batimento cardíaco e respiração de uma criança — e avisa aos pais se os resultados fugirem do normal. Então com 23 anos, ele já era um empreendedor veterano: aos 12, administrou um campo de paintball no quintal de casa. No colegial, manteve uma firma de instalação de pisos e azulejos. Ainda assim, faltavam ao empresário conhecimentos técnicos ou médicos para desenhar a Smart Sock. Workman então fez sociedade com três colegas de turma da Brigham Young University, Zack Bomsta, Jordan Monroe e Jake Colvin, para construir o hardware e desenvolver a startup batizada por eles de Owlet (owl significa coruja, em inglês). Os sócios-fundadores também buscaram ajuda de estagiários da faculdade de engenharia. Inicialmente pagos em fatias de pizza, eles se tornaram funcionários assalariados conforme a empresa cresceu.

A Smart Sock mede sinais vitais do bebê, no pé. Um transmissor, próximo à meia inteligente, envia os dados para o celular (Foto: Divulgação)
A Smart Sock mede sinais vitais do bebê, no pé. Um transmissor, próximo à meia inteligente, envia os dados para o celular (Foto: Divulgação)

A Owlet começou a vender as Smart Socks em setembro de 2015. No fim do ano, já registravam uma receita de US$ 2 milhões. A empresa de 115 funcionários, estabelecida em Utah, nos Estados Unidos, encerrou 2017 com receita de US$ 25 milhões. Para 2018, a perspectiva era praticamente dobrar o resultado.

“Pais e mães gastam um monte de dinheiro com seus filhos, e gastarão ainda mais se você puder resolver problemas para eles”, diz Workman — ele mesmo pai de três crianças. “O mais importante é manter o bebê seguro, saudável e feliz. Nós criamos algo que pode ajudá-los a fazer isso melhor.”

A Smart Sock, que custa US$ 300 na página oficial da Owlet, cabe na maioria das crianças com até 1 ano e meio de idade. O aparelho envolve o pé do bebê e usa a oximetria de pulso, um método não invasivo para estimar o nível de oxigênio no sangue e os batimentos cardíacos.
A meia inteligente envia sinais de rádio a uma base iluminada. Uma luz verde informa que o bebê está saudável, e um alarme sonoro e a mudança de brilho informam se algo mudar. Um aplicativo para smartphone permite acompanhar o bebê à distância, em sinais vitais e imagens — enviadas por uma câmera também vendida pela empresa, por US$ 100 adicionais.

A Owlet Band, prevista para o fim do ano, monitora os movimentos e a respiração do feto — e envia relatórios para os parentes (Foto: Divulgação)

RECONHECER UMA NECESSIDADE
Workman está longe de ser o único empreendedor tentando dar aos pais alguma tranquilidade. A indústria de eletrônicos para maternidade tem crescido rapidamente nos últimos anos. Consumidores estão ávidos por ferramentas que ajudem a acompanhar as variações da taxa de fertilidade, facilitar a amamentação e ajudar bebês a pegar no sono. Nos Estados Unidos, o setor registrou em 2018 uma receita de US$ 7 bilhões — resultado 84% maior do que em 2012, segundo a empresa de pesquisas de mercado IBISWorld. A indústria vai continuar a crescer rapidamente, prevê a consultoria, a ponto de alcançar US$ 10,4 bilhões por volta de 2023.

A explosão da indústria de eletrônicos para bebês é, em parte, resultado do aumento do poder de processamento que também impulsionou a adoção indiscriminada de pequenos aparelhos inteligentes de vestir — os wearables. “Quando você olha para o crescimento no segmento de cuidados à saúde, com rastreamento, biometria e monitoramento de temperatura ou batimentos cardíacos, não surpreende o avanço no subsegmento dos bebês. Afinal, eles são mais vulneráveis”, diz Jill Gilbert, organizadora do Baby Tech Summit — seminário que é parte da Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de produtos de tecnologia do mundo. “Sempre houve demanda por ajuda para cuidar das crianças, mas eu acho que, por muito tempo, as pessoas não esperavam que essa ajuda viria do setor de eletrônicos.”

Com uma placa sob o colchão, o Angelcare monitora os sons e movimentos  de respiração  do bebê — além de condições  do quarto, como a temperatura   (Foto: Divulgação)

A Owlet compete com a Angelcare, fabricante de um tapete medidor de respiração e movimentos, colocado embaixo do colchão (US$ 100), e com a Snuza, que faz um sensor de respiração (US$ 100) que pode ser pregado à fralda. Apesar da forte demanda por produtos desse tipo, a sobrevivência das empresas no mercado é delicada. Um desafio é fazer as pessoas gastarem grandes somas de dinheiro em um produto que será usado por um período bastante limitado, diz Gilbert. Startups nesse mercado devem buscar um produto irresistível, capaz de cativar o público numa janela de oportunidade de poucas semanas. Ou, como a Owlet, tentar seguir os consumidores por diversos estágios da maternidade. Enquanto o primeiro produto da Owlet foi desenhado para bebês, a companhia está trabalhando no desenvolvimento de produtos voltados à gravidez, a fim de criar laços com os clientes ainda mais cedo.

A empresa apresentou na CES, em janeiro, o “primeiro monitor de gravidez do mundo”. A Owlet Band é uma larga cinta elástica, com sensores, para vestir sobre a barriga. A empresa promete gravar as batidas do coraçãozinho e contar os chutes dados pelo bebê, alertar sobre as contrações da mãe e divulgar boletins para os parentes. “Esse produto pode revolucionar as maneiras de identificar o bem-estar de um feto”, afirma Jeff Humpherys, cientista de dados-chefe da Owlet. As vendas, afirma, estão programadas para o fim do ano. O monitor de gravidez rendeu à empresa três prêmios na feira, entre eles o de melhor inovação em wearables.

O NASCIMENTO DE UMA BOA IDEIA
Workman e seus sócios construíram alguns poucos protótipos da Smart Sock antes de receber US$ 50 mil de um investidor-anjo e ganhar dinheiro em concursos de inovação na faculdade. Em 2014, a Owlet levantou US$ 2 milhões em investimentos semente. Depois de fechar uma rodada B de investimentos, em maio de 2018, a empresa arrecadou um total de US$ 50 milhões. Entrou na lista das próximas startups bilionárias da revista americana Forbes, na lista de cem companhias brilhantes da revista Entrepreneur e foi finalista de um prêmio da revista Fast Company para ideias que mudam o mundo.

Durante o desenvolvimento das Smart Socks, Workman e sua mulher tiveram dois bebês — que acabaram servindo de cobaias. No primeiro teste, o produto não funcionou tão bem quanto se esperava. “Eu ainda me lembro da Shea me dizendo, da maneira mais gentil que pôde, para devolver o dinheiro aos nossos investidores, porque ela achava que aquilo não iria dar certo”, diz Workman. Mas as coisas mudaram radicalmente quando o casal teve uma filha, dois anos depois. Quando Shea calçou a menina com uma versão aprimorada da meia, diz Workman, “ela me disse que achava impossível não ter mais aquele produto”.

Fonte: PEGN

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