Equidade de gênero na ciência da computação só será alcançada em 100 anos

O número de mulheres que publicam pesquisas na área da ciência da computação não alcançará o número de homens neste século. É o que afirma um estudo feito pelo Allen Institute for Artificial Intelligence, centro de pesquisa fundado por Paul Allen, falecido cofundador da Microsoft, em Seattle, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores analisaram 2,87 milhões de artigos deciência da computação publicados entre 1970 e 2018. Para definir o gênero do autor, usaram como critério o primeiro nome, um método que não é perfeito – e não considera autores transgênero -, mas oferece uma indicação estatística válida do caminho que está sendo traçado neste campo.

A partir dessa metodologia, a pesquisa mapeou a porcentagem de autoras a cada ano e usou essa informação para prever, estatisticamente, quais mudanças podemos esperar para o futuro. A possibilidade mais realista é que a paridade de gênero seja alcançada apenas em 2137. Há ainda previsões mais pessimistas, que indicam que, seguindo os padrões atuais, a equidade jamais será alcançada.

“Os resultados foram chocantes”, afirmou o ex-professor da Faculdade de Washington Oren Etzioni. Responsável por supervisionar o trabalho do Allen Institute, ele afirmou em entrevista ao New York Times que os pesquisadores esperavam dados mais positivos, já que percebem um relativo aumento no número de autoras mulheres.

Outros campos da ciência se saíram relativamente melhor. De acordo com o estudo, na biomedicina, por exemplo, foi identificado que cerca de 38% dos pesquisadores são mulheres, contra 27% da ciência da computação. Assim, a paridade de gênero na área da biomedicina está prevista para chegar por volta de 2048. Campos como física ou matemática também enfrentam um cenário complicado e devem precisar de mais de 100 anos para chegar na equidade, assim como a ciência da computação.

Para a pesquisadora Lucy Lu Wang, também do Allen Institute, essa tendência afeta o setor como um todo. “Quando há falta de liderança [feminina] nos departamentos de ciência da computação, isso afeta o número de mulheres estudantes que são treinadas e o número que entra na indústria”, disse.

O estudo indicou ainda que homens estão se tornando menos propensos a colaborar com mulheres em pesquisas – uma tendência particularmente preocupante para uma área em que, comprovadamente, equipes diversas produzem melhor e onde as mulheres, há muito tempo, se sentem mal recebidas.

Entre as preocupações levantadas diante da disparidade entre homens e mulheres, está o prejuízo para o desenvolvimento de novas tecnologias. Soluções que usam inteligência artificial, como serviços de reconhecimento facial e sistemas de conversação, por exemplo, são projetadas para aprender diante de grandes quantidades de dados, mas a falta de diversidade no levantamento dessas informações pode, facilmente, introduzir vieses de comportamento no produto final.

Segundo a pesquisa, em 2018, o número de autores homens na coleção de artigos relacionados à ciência da computação foi de cerca de 475.000 em comparação com 175.000 mulheres. No Brasil, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres e, embora tenham grau de instrução mais elevado do que os homens do setor, elas ganham em média 34% menos do que eles.

Fonte: Época

Compartilhar

Últimas Notícias