A escassez de mão de obra atingiu níveis recordes. Já afeta 40% das profissões que respondem pela maior fatia dos empregos formais no País, revela um estudo feito pela Confederação Nacional de Bens Serviços e Turismo (CNC).
Profissões onde há maior escassez de trabalhadores estão ligadas ao setor de serviços e à construção civil.
Para chegar a esse resultado, o economista da CNC, Fabio Bentes, cruzou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com o Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) e selecionou um grupo de 231 profissões que respondem por 80% da ocupação do País.
Constatou que, em junho, 92 das profissões que mais empregavam apresentavam indícios de escassez. Ou seja, o salário para admitir trabalhadores tinha crescido acima da média nominal do mercado de trabalho (5,8%) entre junho de 2023 e junho de 2024 e o estoque trabalhadores também tinha aumentado no período.
“Estamos no ponto mais alto de indício de escassez no mercado de trabalho”, afirma Bentes.
Ele observa que um cenário parecido com atual ocorreu em meados de 2021. Só que naquela época, a escassez era por causa da reposição de trabalhadores na saída da pandemia, não em razão do crescimento da atividade.
Tirando esse período após a pandemia, o economista considera que não há registro de escassez tão elevada no mercado de trabalho como a que houve ao final do primeiro semestre deste ano.
Setores
Outro estudo feito pelo Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycocal, com base nos dados da Pnad, aponta para a mesma direção.
Revela que, até junho deste ano, de dez setores da economia analisados, seis estavam com alta demanda por mão de obra há mais de seis meses.
Isto é, o salário e o número de ocupados no setor cresciam acima da média histórica. Nesse rol está indústria, comércio, transporte, tecnologia e finanças, administração pública e outros serviços.
A situação é ainda mais crítica no setor de alimentação e alojamento, onde os salários têm subido acima da média histórica, porém o número de contratados tem avançado abaixo desse parâmetro.
Na prática, os empresários querem contratar, mas não encontram trabalhadores para preencher as vagas.
“Isso denota que está faltando trabalhador”, afirma o economista-chefe do Daycoval, Rafael Cardoso.
O estudo do banco indica que o setor de alojamento e alimentação chegou ao limite. Um dos motivos, segundo Cardoso, é que esse segmento teve uma recuperação muito forte na saída da pandemia.
Sondagem do setor de serviços da Fundação Getulio Vargas (FGV) confirma o movimento constatado pelos estudos da CNC e do Daycoval.
Em julho, 36,6% das empresas de alojamento, restaurante e alimentação apontaram a escassez de mão de obra qualificada como um fator limitante ao avanço das atividades.
Já na média do setor de serviços da sondagem da FGV, esse problema foi indicado por 21,2% das companhias no período. Falta de mão de obra foi terceiro obstáculo ao avanço das atividades no setor de serviços em geral.
“Alojamento, restaurante e alimentação foi o segmento com o maior resultado entre os demais do setor de serviços nesse quesito de escassez de mão de obra e também o que registrou o maior aumento em relação a julho do ano passado”, afirma o coordenador de sondagens da FGV, Rodolpho Tobler.
A falta de trabalhadores qualificados é clara na construção civil e o principal problema para as companhias, segundo a sondagem da FGV.
Em julho deste ano, mais de um quarto das empresas (26,7%) apontou a escassez de mão de obra como um problema.
É o maior patamar desse quesito para os meses de julho desde 2014. “A reclamação de falta de trabalhadores é constante nos serviços e na construção”, ressalta Tobler.
No comércio, a FGV não pesquisa diretamente os obstáculos ao avanço da atividade entre as empresas dos setores. No entanto, os indícios de escassez de trabalhadores aparecem no elevado custo da mão de obra, apontado por 12,9% das varejistas como um problema em julho último.
Esse obstáculo tem aparecido de forma recorrente nas sondagens do comércio feitas pela FGV nos últimos meses.
Fonte: Em Tempo.