Gigante caipira: por dentro da empresa brasileira de tecnologia que se tornou uma multinacional negociada em Nova York

Nascida em Campinas (SP) há 27 anos, CI&T é totalmente low profile: tem ações negociadas em Nova York, não para de contratar e faz receita bilionária.

Diferentemente da onda de demissões e reestruturações vivida por startups, o setor de tecnologia como um todo no Brasil não deixa de seguir sua marcha à frente. Saltou 23% em 2021, deve avançar outros 22% em 2022 e repetir a performance de dois dígitos altos em 2023, segundo pesquisa da Advance Consulting. É nessa vibe ‘para-o-alto-e-além’ que navega a CI&T. A companhia fechou o primeiro trimestre com contratação líquida de 2.674 funcionários, 71% acima do ano passado, somando agora mais de 6,4 mil colaboradores. E as receitas líquidas de janeiro-março ficaram 66% acima do mesmo período de 2021, batendo no meio bilhão de reais (exatamente R$ 491 milhões). “Esperamos fechar 2022 com pelo menos US$ 442 milhões”, disse à DINHEIRO Cesar Gon, CEO e fundador da companhia. Pelo câmbio de quarta-feira (20), algo em torno de R$ 2,4 bilhões.

Parte do avanço acelerado vem também de aquisições. Em maio foi anunciada a compra da consultoria estratégica Box1824, por valor não revelado. Em janeiro, já havia sido concluída a aquisição da Somo Global, agência de produtos digitais sediada em Londres, por US$ 67 milhões. Seis meses antes, no meio do ano passado, foram investidos R$ 650 milhões (cerca de US$ 120 milhões em valores atuais) para a compra da Dextra, desenvolvedora de softwares. Um apetite e tanto, mas que se justifica desde a abertura de capital da empresa na Bolsa de Nova York na primeira quinzena de 2021.

OUTRO PATAMAR Gon afirmou que os US$ 160 milhões levantados são destinados especialmente a aquisições. “Elas são necessárias para que a empresa continue sendo agressiva, inovadora e ágil.” O M&A (fusões e aquisições), segundo ele, fez a CI&T mudar de patamar, com crescimento de 41% em 2020, de 51% em 2021 e meta de crescer pelo menos 59% neste ano. Foi o momento também da expansão multinacional. As novas marcas no portfólio, com forte presença internacional, deram peso para atuar nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. “O principal desafio é estabelecer uma reputação local, e para isso é importante ter executivos da indústria que endossam a empresa.”

A corporação campineira nasceu em 1995, junto da explosão da internet comercial — aquela que não ficava restrita a órgãos governamentais ou acadêmicos —, como um projeto pequeno para atuar com a nova tecnologia na época. Hoje, atua em desenvolvimento de produtos digitais, dados, machine learning, inteligência artificial, soluções em nuvem, software, experiência do cliente, e-commerce e outros produtos para clientes como Cielo, Google, HP, Itaú, Johnson & Johnson, Motorola, Nestlé, Porto Seguro, SulAmérica, VIVO. A CI&T atua hoje em nove países: além do Brasil, Austrália, Canadá, China, Colômbia, Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Portugal.

DIFERENCIAL Em meio a um mar de empresas de tecnologia disruptivas, startups transgressoras e bigtechs formatadas na inovação, como criar um diferencial? Para Gon, o objetivo da CI&T é se tornar uma companhia em que o foco não seja apenas o software e o desenvolvimento, mas conseguir discutir para cada cliente as melhores estratégias digitais em seu segmento. “Ser uma especialista digital global.”

Para isso, a organização é separada em 26 unidades de crescimento (growth units), organizadas dentro do mesmo ecossistema e lideradas com autonomia. “Elas aprendem juntas e entregam nossa proposta de resultados concretos.” A arquitetura empresarial da CI&T foi case na London Business School. “Um modelo organizacional empreendedor com escala em uma empresa que está sempre aprendendo”, disse o CEO.

Não existe na empresa departamento de P&D. A responsabilidade de inovação é distribuída para as próprias (26) unidades de crescimento. Quando surge tema novo, é criada uma powerhouse, unidade que junta colaboradores de diferentes áreas e backgrounds que terão foco em achar soluções inéditas. Segundo Gon, isso representa de 4% a 5% de toda a receita. De um jeito low profile, como convém a alguém do interior, a CI&T se tornou uma multinacional de respeito. Ou, como o CEO escreveu no dia em que ocorreu o IPO em Nova York, “nada mal para um caipira de Amparo”, referindo-se à cidade paulista onde nasceu.

ENTREVISTA: Cesar Gon, CEO
PRIVACIDADE DE DADOS, A NOVA QUIMERA

Divulgação

Um dos temas mais comentados no setor é a privacidade dos dados, que traz discussões sobre o papel das empresas do setor. O uso de dados deve ser mediado?
Não há tecnologia boa ou má, depende da maneira como ela é utilizada. As possibilidades tecnológicas hoje implicam em uma necessidade de regulamentação do assunto pela sociedade.

Qual o papel das empresas?
As big techs ainda estão entendendo que a tecnologia precisa ser mediada. Isso precisa ser visto dentro de uma arquitetura social e dizendo o que é bom para as pessoas.

Por que esse tema é difícil?
É difícil conciliar a personalização buscada pelas marcas e pelas pessoas com os limites de privacidade. Todo mundo quer conhecer o cliente e seus interesses, mas por outro lado você tem de respeitar as informações pessoais.

Qual o momento dessa discussão?
Vivemos um momento de definição de caminhos para o tema, junto de segurança da informação. Estamos vivendo um pânico das invasões, dos hackers, sequestro de dados e isso implica em uma visão mais profissional do uso da tecnologia.

Fonte: ISTOÉ DINHEIRO

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