Guia para garantir uma educação socioemocional em casa

O modo de educar está em constante evolução. Até pouco tempo, acreditava-se que, para que um aluno tivesse um bom resultado, bastava muito estudo e exercícios, como se fosse uma única condição sine qua non. Apesar de ser muito importante, o estudo realizado de forma isolada não prepara o estudante para a vida. Nesse sentido, a educação socioemocional deve estar presente e é extremamente relevante.

A educação socioemocional se refere a um processo por meio do qual as crianças aprendem, em conjunto com o currículo escolar, a refletir e aplicar o conhecimento aliado a atitudes e competências emocionais.

Dessa forma, por intermédio de atividades estruturadas e brincadeiras educativas, os alunos são incentivados e inspirados a ser protagonistas de suas próprias histórias. Nesse processo, as crianças aprendem a controlar emoções, buscar objetivos, tomar decisões e lidar com emoções negativas.

O que é a educação socioemocional?

A educação socioemocional refere-se ao desenvolvimento de habilidades sociais que, em conjunto com o projeto pedagógico tradicional, consegue transformar a vida dos alunos pela educação.

Esse conceito já é adotado em países como Canadá e Inglaterra, mas foi formalmente desenvolvido a partir de 1994 com um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos. Na época, as escolas americanas começaram a promover debates sobre uso de drogas, educação sexual e educação moral aliados à educação socioemocional. Os pesquisadores perceberam que, no longo prazo, essa metodologia contribuía com o desenvolvimento acadêmico dos alunos.

Essa abordagem mostra como é importante entender o processo educacional de forma integral e não apenas como forma de transmitir conteúdos. No entanto, isso requer mudanças de cultura e compreensão de vida tanto dos pais quanto dos educadores. Afinal, são eles os responsáveis por essa mudança e que ensinarão essa metodologia para seus filhos e alunos.

Competências do Big Five

Essa nova visão não implica em abandonar as competências cognitivas — interpretar, refletir, pensar abstratamente e generalizar aprendizados —, pois elas também podem ser associadas com as competências socioemocionais. Uma das vantagens da educação socioemocional é que ela pode ser ensinada e aprendida ao longo de toda a vida, não sendo algo inato ou fixo.

Psicólogos têm analisado a personalidade humana em cinco dimensões, conhecidas como Big Five. Essas dimensões analisadas são resultado de uma pesquisa aplicada a pessoas de culturas diferentes e em diferentes momentos, resultando em respostas de mesma estrutura que representam as características de personalidade que um indivíduo pode ter. Assim, concluiu-se que os traços de personalidade dos seres humanos se agrupam em torno de cinco grandes domínios. Abaixo, conheça melhor sobre eles:

Abertura a novas experiências

Essa competência refere-se à tendência de ser aberto a novas experiências estéticas, culturais e intelectuais. Nesse caso, a pessoa é mais criativa, artística, curiosa e imaginativa.

Consciência

O indivíduo consciente é caracterizado como organizado, esforçado e responsável. Assim, ele não age com impulsividade e é orientado por seus objetivos.

Extroversão

Aqui o indivíduo é orientado ao mundo externo e à interação com pessoas e coisas, deixando de lado apenas o mundo interno e as experiências subjetivas. Isso o torna mais sociável, aventureiro e entusiasmado.

Amabilidade

Nessa competência, o indivíduo é convidado a agir de modo cooperativo, sendo mais amável e tolerante, prezando pelo altruísmo e pela modéstia.

Estabilidade emocional

Com estabilidade emocional é possível prever e melhorar as reações emocionais, evitando mudanças bruscas de humor. Um indivíduo instável não consegue lidar com frustrações e criar relações de confiança.

Dessa forma, é possível que pais e pedagogos conectem os traços de personalidade dos indivíduos com o aprendizado dos filhos em casa e nas escolas, melhorando a sociabilidade das crianças desde cedo.

Qual a importância da criança aprender a controlar suas emoções?

Os hábitos criados na infância e os acontecimentos desse período interferem diretamente nas atitudes e escolhas ao longo da vida adulta. Durante os três primeiros anos de vida, a atividade cerebral é intensa e o desenvolvimento emocional também. Por isso, crianças com inteligência emocional têm uma autoestima alta e melhores relações interpessoais, o que aprimora seu rendimento social, pessoal e escolar.

Assim, se a criança conviver com comportamentos negativos nessa fase, é mais provável que ela se torne um adulto inseguro, imaturo e com baixa autoestima. Dessa forma, é extremamente importante que os pais ofereçam apoio emocional e ensinem a criança a lidar com suas emoções, afinal, para ela, tudo é muito novo.

Mas oferecer ajuda não significa que os pais devem passar a mão na cabeça dos filhos em todas as situações. Na verdade, eles devem ensiná-los a ser mais empáticos, amáveis e compreensíveis e menos egoístas.

Aprendizado socioemocional

Para facilitar esse aprendizado, os pais devem trabalhar as funções executivas dos filhos. As funções executivas são habilidades cognitivas que devem ser desenvolvidas desde a primeira infância, a fim de ensinar à criança a controlar seus pensamentos, emoções e ações.

A primeira função é a memória de trabalho, que se refere à capacidade de manter e entender informações durante curtos períodos de tempo, conseguindo focar atenção e finalizar ações. Essa função também pode ser trabalhada com a prática mindfullness, que estimula o indivíduo a manter o contato com o presente de forma intencional e voluntária.

Por sua vez, a flexibilidade cognitiva diz respeito à capacidade de encontrar um plano B quando algo não sai como o planejado. Essa flexibilidade dá, à criança, a autonomia de aplicar regras diferentes em variados contextos, contribuindo para que ela consiga se adequar às convenções sociais que se apresentam ao longo da vida.

A última função executiva é o controle inibitório, a qual pode ser considerada a mais difícil de ser trabalhada com crianças. Essa habilidade é o que controla os pensamentos, desejos e impulsos para resistir a tentações. Nesse caso, mesmo tendo outras opções mais interessantes, o indivíduo deve ter atenção seletiva e focada no que é prioridade. Mas como estão construindo sua inteligência emocional, é comum ver crianças impulsivas e birrentas por não terem autocontrole sobre suas emoções.

Como estimular a inteligência emocional dos filhos?

As emoções se desenvolvem ao longo de toda a vida, por isso, quanto antes começar a trabalhá-las nos seus filhos, melhor. Crianças emocionalmente inteligentes são aquelas que aprendem a canalizar suas emoções e não precisam mais gritar ou fazer birras para mostrar tristeza ou frustração.

A inteligência emocional é a capacidade de um indivíduo identificar seus sentimentos e os dos outros, ponderando atitudes, gerindo emoções e prezando pelo bom relacionamento.

Os pais devem viver a parentalidade positiva e estimular as crianças a falarem sobre seus sentimentos e a pensar sobre eles e suas emoções. Se antes, ao ficar frustrada, a criança se jogava no chão, com a inteligência emocional, ela pode demonstrar sua insatisfação desenhando sua tristeza no papel e transformando algo abstrato em algo palpável, por exemplo.

É importante que os pais não respondam com raiva, crítica ou ameaças às más atitudes cometidas pelas crianças. Quando o filho está inserido em um ambiente seguro e tranquilo, ele desenvolve melhor suas emoções. Assim, a empatia e o carinho são palavras de ordem para ajudar os pequenos a lidarem com as emoções.

Além disso, na primeira infância, os pais devem se comunicar com os filhos com frases mais curtas e diretas e, sobretudo, agir de maneira adequada. As crianças se espelham nas atitudes dos pais, pois eles são as maiores fontes de aprendizado dos filhos. Assim, pais agressivos tendem a ter filhos agressivos e assim por diante.

Na sequência, veja algumas ações positivas que você pode colocar em prática para estimular a inteligência emocional.

Ações positivas

  • Os bebês reconhecem as emoções pela expressão facial dos adultos e pelo tom de voz. Assim, para crianças de até 3 anos, é possível propor brincadeiras com caretas. Incentive seu filho a demonstrar raiva, felicidade e tristeza por meio das expressões faciais. Isso o ajudará a entender as emoções e representá-las quando for preciso;
  • Incentive as crianças a interagirem com seus pares. Como ambos estão em constante descoberta, esse aprendizado pode ser feito de forma conjunta;
  • Ensine seu filho a pensar sobre os problemas e questione-o sobre possíveis soluções. Além disso, explique a importância de confiar nos pais e procurar ajuda sempre que for necessário;
  • Fale com a criança sobre o bullying infantil, críticas e provocações e ensine-a a agir nessas situações;
  • Elogie as pequenas conquistas e trabalhe a autoestima;
  • Estabeleça regras e limites de maneira clara e ensine seu filho a lidar com as frustrações;
  • Fale sobre as diferenças, o ciúme entre irmãos e o amor dos pais com os filhos;
  • Estimule mais atividades ao ar livre e limite o acesso a computadores e jogos eletrônicos;
  • Ensine práticas de autocontrole e relaxamento para o seu filho. Fale da importância de pensar, respirar fundo e relaxar antes de tomar alguma decisão ou agir com impulsividade;
  • Estimule a realização de tarefas lúdicas, como o teatro, ou a prática esportiva. Essas atividades ajudam a criança a extravasar sentimentos e lidar com emoções múltiplas.

Crianças com habilidades socioemocionais se relacionam melhor com seus amigos, professores e pais. Além disso, elas são mais motivadas por desafios e têm mais facilidade no processo de aprendizado, pois entendem as diversidades de um ambiente social. Consequentemente, serão pessoas menos preconceituosas e mais empáticas e equilibradas, o que ajuda a evitar a depressão infantil.

Por que a escola também deve se preocupar com a educação socioemocional?

A felicidade familiar está diretamente ligada à inteligência emocional dos filhos e à capacidade da escola em ajudar nessa evolução. Esse ensino na escola tem o objetivo de engajar os estudantes no seu próprio aprendizado, explorando todo potencial possível. Ao focar na inteligência emocional, a escola diminui casos de indisciplina e bullying, por exemplo.

Quando o aluno entende suas emoções, ele reconhece a importância do seu papel no aprendizado e se torna mais responsável, autônomo e compreensível às regras sociais. Além de se desenvolverem no âmbito acadêmico, esses indivíduos se inserem mais facilmente na sociedade.

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo para as redes de ensino públicas e privadas e é referência obrigatória para a elaboração dos currículos escolares do ensino infantil e fundamental. As novas diretrizes propostas na BNCC propõem que até 2020 todas as escolas brasileiras devem incluir, em seus currículos, algumas habilidades socioemocionais.

O documento traz 10 novas competências, e várias delas abordam as características socioemocionais. Ainda que algumas instituições já pratiquem esse tipo de educação nas salas de aula, espera-se que, com essas novas diretrizes, haja uma melhora de 10% no aprendizado do currículo escolar.

Ao inserir essas novas competências, a BNCC reforça seu compromisso com a educação integral. Assim, agora as escolas precisam pensar em estratégias para estimular autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomadas de decisão responsáveis. Portanto, a escola precisará mobilizar, em sua rotina, ações integrais que fomentem, especificamente, essas habilidades.

Nesse sentido, é importante que tanto as escolas quanto os professores se preparem para trabalhar essas habilidades socioemocionais em conjunto com o currículo tradicional. Estruturar atividades em grupo e estimular que os jovens trabalhem sua própria vivência são estratégias eficazes no campo emocional.

Além disso, mesclar jogos analógicos e atividades digitais também auxilia no desenvolvimento cognitivo e na compreensão de conflitos, pois, em atividades como essas, os alunos podem perder ou ganhar e precisarão lidar com a felicidade ou a frustração do seu desempenho.

Estimular o aprendizado

Outro modo de estimular esse aprendizado é aproximar os pais da escola, seja em reuniões, seja em eventos promovidos pela instituição. Dessa forma, será mais fácil para pais e profissionais identificarem onde há falhas e tentar resolvê-las. Ao desenvolver o papel de agente mobilizador e articulador, o professor se habilita cada vez mais nas suas próprias capacidades socioemocionais e constrói conhecimento em conjunto com seus alunos.

Portanto, podemos concluir que a educação socioemocional é um processo contínuo e permanente que traz diversos benefícios ao aluno, à sua família e à comunidade escolar. Essa pedagogia ocorre em diferentes espaços: em casa, na escola e na sociedade, facilitando o processo de ensino aprendizagem, melhorando a tomada de decisões e trazendo benefícios em vários contextos, como no desenvolvimento emocional, social e cognitivo dos alunos.

Foto: Divulgação

Fonte: EducaTech

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