Croquis, conceitos, recortes, modelagem. Sobre o mercado da moda, reinam a criatividade e expressão. E o Brasil, cada vez mais, se destaca nesse segmento. Com faturamento médio anual de R$ 186 bilhões, a indústria têxtil e de confecção contribui com 5,7% do PIB industrial brasileiro, empregando mais de 1,5 milhão de pessoas.
São dados positivos para a indústria e a economia, mas há um desafio que pode estimular ainda mais criatividade e inovação no setor: sustentabilidade.
Como usar de forma mais racional os recursos naturais necessários para a produção de têxteis? O que fazer com os resíduos?
Estilo verde
Como transformar esse rentável mercado em uma referência em desenvolvimento sustentável? A resposta está na inovação. Com objetivo de transformar essa realidade, a indústria vem desenvolvendo soluções inovadoras para introduzir uma economia circular na indústria têxtil e de confecção.
Frente a esse desafio, o Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos desenvolve soluções sustentáveis por meio da química e da biotecnologia industrial empregando recursos renováveis e não renováveis para oferecer novos produtos e processos. O Diretor Executivo do SENAI CETIQT, Sérgio Motta, explica que um dos passos para se alcançar a economia circular na moda é a ressignificação do processo produtivo, tanto para fornecedores quanto para consumidores.
“Para isso, é preciso implementar novas práticas voltadas ao aumento da eficiência nos processos produtivos, extraindo menos recursos naturais e usando novas matérias-primas para mais qualidade e durabilidade dos produtos, além de torná-los biodegradáveis”, resume Motta.
Especificamente no setor têxtil e de confecção, Sérgio Motta explica que a indústria está inovando na redução do consumo de água e energia: “o uso de novos materiais de origem renovável e a valorização dos resíduos gerados no processo produtivo fazem parte de um esforço para valorizar os resíduos da fase de pós-uso, no entanto, os desafios logísticos ainda são um entrave”, argumenta.
Sustentabilidade de pirarucu
A Osklen, marca carioca fundada em 1989, tem o cuidado de trabalhar a moda a partir de um olhar sustentável. Uma das iniciativas, feita em parceria com o SENAI CETIQT, foi o desenvolvimento de produtos reaproveitando a pele do pirarucu, peixe da bacia amazônica, que mede mais de 2 metros e pesa mais de 100 kg, e era consumido apenas para alimentação e tinha sua pele descartada.
Agora, ela é reaproveitada, capacitando comunidades locais e contribuindo para a biodiversidade. A criação do produto traz renda para famílias da Amazônia e ajuda a desenvolver a bioeconomia.
Acessórios de… Pelo de pet!
Com objetivo de fazer um descarte mais sustentável dos pêlos de tosa de cães que surgiu a Startup Fur You. Ela criou, em parceria com o SENAI CETIQT, um fio composto pela mistura de resíduos de pelos de tosa com uma fibra de poliéster reciclada de garrafa PET.
“A ideia é ajudar a evitar o descarte de pelos de tosa em aterros, criando um novo fio capaz de ser utilizado na produção de tecidos para a produção de artigos de vestuário, como roupas, acessórios do tipo bolsas e calçados, para o uso de animais.” pontua Rafael Rocha, Analista de Mercado do SENAI CETIQT e integrante do Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular – NUSEC.
Além da recuperação e revalorização dessa matéria-prima descartada, há ainda a parte social. Doris Carvalho, CeO da For You, conta que parte dos lixos depositados nos lixões e aterros sanitários se modifica rápido em renda:
“A parceria com cooperativas de mulheres auxiliará famílias em situação de vulnerabilidade. Para os usuários, no caso cães e seus donos, os produtos que serão comercializados estarão livres de produtos químicos usados em roupas e acessórios sintéticos, além de trazer propriedades especiais, trata-se de um produto de alta resistência e durabilidade.”, explica.
A implantação do projeto considera a redução de 2,5 a 3 toneladas por mês de resíduos descartados no lixo. É um projeto que envolve a sociedade, incentiva o consumo consciente e ainda pode alcançar diversos segmentos da cadeia da indústria têxtil.
Tecido de bactéria
Outra empresa que aliou tecnologia e sustentabilidade é a Du Meio Sustentável, do Mato Grosso do Sul, que desenvolveu um material a partir de processos biotecnológicos. Desenvolvido pela proliferação de bactérias à partir de uma tecnologia de biofabricação, a produção é natural e de baixíssimo impacto ambiental.
Os produtos têm características próximas ao couro e outros materiais sintéticos, que graças a sua estrutura de fibras, são resistentes e duráveis. Além disso, é ausente em aditivos químicos, permitindo que a matéria-prima seja reutilizada na compostagem.
Uma nova economia exige mudança de cultura
Esses foram alguns exemplos da economia circular, que associam desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais, por meio de novos modelos de negócios e otimização nos processos de fabricação. Mas para implementar de vez essa economia, essencial para o futuro do planeta, é preciso mudar a cultura da sociedade, como defende Sérgio Motta:
“A economia circular exclui a ideia de lixo. Todo recurso pode ter seu insumo reaproveitado para outra atividade ou processo. Ao mesmo tempo, os produtos e serviços são concebidos para regenerar e restaurar ecossistemas, além de atender à demanda do mercado consumidor. Transferir essa mentalidade linear para a circular é o desafio que precisamos superar”, pontua.
*Com informações do site Fiern