Israel: o outro Vale do Silício

Você acorda e, enquanto toma o café da manhã, confere mensagens no celular. Depois, pega o carro e liga o Waze, para chegar mais rápido ao trabalho. No escritório, usa um computador com Windows e processador Intel. E, quando volta para casa, relaxa lendo um livro no Kindle ou jogando videogame no PlayStation. Todas essas tecnologias, tão presentes no nosso cotidiano, têm uma coisa em comum: foram desenvolvidas em Israel.

Não por acaso, a densidade de startups em território israelense é enorme. Tão grande que o país vem sendo comparado, já faz alguns anos, ao Vale do Silício – região da Califórnia, nos EUA, que apresenta a maior concentração mundial de empresas de alta tecnologia. Israel tem, por baixo, mais de 6.200 startups. Isso equivale a 70 empreendimentos desse tipo para cada grupo de 100 mil pessoas – quase o dobro do que se verifica na Islândia, o país com maior número de startups por habitante da Europa.

Por ser um país pequeno, de poucos recursos naturais, com deserto cobrindo 60% de sua área e cercado de inimigos, Israel não teve outra saída: foi obrigado a arregaçar as mangas. “A necessidade, melhor fonte de inspiração para avanços tecnológicos, sempre foi um fator central”, diz o engenheiro e empreendedor brasileiro Ilan Naslavsky, que viveu 21 anos em Tel Aviv e hoje mora nos EUA. Ele criou um sistema de geração artificial de bases de dados na startup israelense Aduva. E liderou o processo de venda da empresa para a Sun Microsystems, que hoje faz parte da Oracle. Também fundou a startup de tecnologia Newvem Insight, comprada pela americana Datapipe (agora, parte da Rackspace).

Durante o período vivido em Israel, Naslavsky diz ter sido testemunha de como o país aposta no fator humano. “Ótimas universidades formam técnicos de alta qualidade”, ele conta. Essa é outra percepção que faz sentido total. A tradição acadêmica de Israel é antiga: em 1912, quase quatro décadas antes de o país ser criado, o Instituto Technion formou a primeira turma de cientistas em Haifa. A essa entidade se somaram o Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot (fundado em 1934) e a Universidade de Tel Aviv (1956), entre outros centros de excelência. Hoje, o país tem 17,4 cientistas e pesquisadores para cada mil trabalhadores, a média mais alta do mundo.

A população de Israel dobrou várias vezes nas últimas décadas, um fenômeno devido, principalmente, à imigração. O país absorveu, de 1948 até hoje, cerca de 3 milhões de pessoas oriundas de mais de cem países, da Etiópia ao Canadá. Resultado: seus atuais 8,5 milhões de habitantes formam uma sociedade extremamente diversa – e, por consequência, muito criativa também.

Um dos que imigraram para lá foi o economista brasileiro Amir Szuster, hoje vice-presidente de desenvolvimento de negócios da AgriTask, startup que cria tecnologias agrícolas. Amir se mudou para Israel em 2009 e fez mestrado na Universidade Hebraica de Jerusalém. Há quatro anos, passou a integrar o time da AgriTask, onde trabalham outros sete brasileiros. “Imigrar é como dar um passo atrás para, em seguida, dar dois passos à frente”, ele avalia. “Você precisa se esforçar mais do que o normal. Sai da zona de conforto, aprende uma nova língua… Tudo isso deixa a gente mais aberta a novas experiências, e contribui muito para a cultura das startups.”

A preocupação constante dos israelenses com segurança também exerce influência, principalmente nos segmentos de dados e cibernética. “Um dos fatores que mais conferem potencial inovador a Israel é o serviço militar”, diz Asaf Alon, CEO da Muscle&Motion, uma startup que produz vídeos em 3D da musculatura humana. “Quando se está rodeado por inimigos, por tantos anos, é preciso inovar.”

O alto investimento em tecnologia militar tem gerado inovações em diversas áreas da indústria. Um exemplo são os sensores que Israel desenvolveu para detectar e interceptar mísseis. Agora, eles estão sendo testados em carros autônomos, para identificar obstáculos e evitar colisões. Recursos de cibersegurança também vêm sendo experimentados nesses veículos para blindar seus computadores de bordo.

Segundo Alon, as Forças Armadas colocam a maior parte dos jovens em contato com tecnologias de ponta. “Ao entrar na faculdade e no mercado de trabalho, eles espalham inovações pela sociedade civil.”

Fonte: Superinteressante

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