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Jovem de 18 anos transforma projeto de ensino médio em microempresa no AC: ‘Educação mudou a minha vida’

Uma simples atividade escolar, ainda no 3º ano do ensino médio do Instituto Federal do Acre (Ifac), se transformou no ponto de virada na vida do agora microempresário acreano Ícaro Santos, de apenas 18 anos. Durante uma disciplina lecionada na instituição onde estudou, ele idealizou, aos 16, uma loja de roupas voltada para o streetwear – estilo que representa a identidade urbana. O que era, inicialmente, apenas um trabalho para fins de avaliação, saiu do papel anos depois e se tornou uma microempresa com identidade própria e público fiel.

Desde abril deste ano, Ícaro faz parte do grupo de microempreendedores, segmento este que mais cresceu no Brasil em 2024, segundo um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com base no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal do Brasil (RFB). As microempresas (ME) são caracterizadas por apresentar rendimento igual ou inferior a R$ 360 mil por ano.

No entanto, a jornada formal dele iniciou antes, com a abertura do cadastro dele como microempreendedor individual (MEI) após completar a maioridade.

“Eu entrei meio que de cabeça, não sabia muito sobre marketing, vendas, gestão, não tinha essa cabeça de ter um negócio, de crescer e tudo mais. Mas fui procurar, então acabou que deu certo, hoje eu já tenho o CNPJ. Esse foi um dos principais desafios porque eu sempre tive o apoio dos meus pais e da minha família”, disse.

Do guarda-roupa aos primeiros 14 m²

 

Após terminar o ensino médio, ainda menor de idade, Ícaro decidiu levar o projeto adiante por conta própria. Começou vendendo camisetas estampadas pela internet, encomendadas sob demanda, e usando as redes sociais para divulgar as criações e o estilo da marca. O investimento inicial foi de R$ 400, economia guardada de uma bolsa de monitoria que ele conseguiu na escola.

No começo foi dentro do guarda-roupa mesmo, eu tinha um pilha de camisetas, às vezes quando chegava cliente eu tirava para mostrar. Depois fiz o primeiro móvel para guardar, então o negócio foi crescendo e a gente conseguiu fazer um lugar maiorzinho, 14 metros quadrados, mas ainda dentro de casa, não era uma loja para a rua onde passava pessoas na frente e tudo mais. Mas no espaço o cliente já podia ir, experimentar a roupa, então se tornou um espaço físico que inauguramos”, relembrou.

O local, que começou como um ateliê improvisado, logo virou ponto de encontro da juventude local, vitrine para novas coleções e vendas virtuais. Contudo, cada passo dado foi desafiador para o recém-microempreendedor.

“Passamos seis meses dentro desse espaço, onde crescemos muito, a minha cabeça mudou muito, eu fiz uma mentoria e cursos do Sebrae que me ajudaram bastante a entender processo de venda, marketing e gestão, então eu investi em conhecimento e foi aí onde virou a chave mesmo, onde o negócio começou a dar certo e eu tive que contratar o meu primeiro funcionário porque a demanda já estava muito alta”, comentou.

Os cursos, voltados à gestão financeira, marketing digital e atendimento ao cliente, ficam disponíveis de maneira on-line, e ajudam os jovens empreendedores a construírem o próprio negócio.

Inclusive, um levantamento do Sebrae com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que do último trimestre de 2013 até os últimos três meses de 2023, a quantidade de empreendedores de 18 a 29 anos de idade cresceu 23% no Brasil.

Além disso, assim como Ícaro, 91,4% são empreendedores por conta própria – ou seja, estão à frente de um empreendimento (com ou sem CNPJ).

Neste ano, o Boletim quadrimestral do Mapa de Empresas mostrou também que, no Acre, foram abertas 3.501 empresas entre janeiro e abril. O saldo ficou em 1.734, já que 1.767 fecharam as portas.

‘Sair da caixinha’

 

De acordo com ele, os conhecimentos adquiridos foram cruciais para que pudesse entrar no ramo do empreendedorismo, tanto com as mentorias como com a ajuda da disciplina que teve no ensino médio.

Quem teve uma função crucial nisso foi o professor Henrique Canizo, do Ifac. Ao g1, ele comentou que leciona a disciplina de Empreendedorismo e Inovação há cerca de cinco anos e que o intuito é estimular que os alunos ‘saiam da caixinha’, mesmo que eles não queiram, necessariamente, serem empreendedores.

“A ideia é que o aluno consiga ver o diferencial, a mudança, a inovação, em qualquer profissão que ele escolha. A ideia é mostrar para o aluno que ele pode ser inovador, trazer inovação, independente de qual área ele esteja. É trazer inovação, observar o processo e pensar diferente, em como poder se aperfeiçoar. Paralelo a isso, trabalhamos um pouco da habilidade de se comunicar, entender que isso faz parte de um bom profissional em qualquer área”, complementou.

Sobre ter auxiliado no processo inicial do projeto, o docente relembrou que Ícaro tinha o diferencial de perguntar sobre tópicos mais específicos, voltados ao ramo do empreendedorismo.

“No início, ele [Ícaro] trazia sempre algumas perguntas que o diferenciavam dos outros alunos, sobre negócio, compra e venda, capital de giro, venda sem ponto físico, essas coisas. E aí, com a experiência que ele adquiriu no curso, ele desenvolveu essa técnica de fazer a venda sem estoque muito grande […] ele sempre foi um bom aluno, dedicado, responsável, quando não sabia perguntava, trazia boas interrogações para a discussão em sala de aula, o que fazia com que ele se destacasse”, frisou.

Educação transforma

 

Hoje, para além das camisetas e demais acessórios, o empreendimento traz uma pegada autoral, individual e com forte ligação com a cultura urbana. O espaço foi se tornando pequeno e, então, viu-se a necessidade de expandi-lo.

Saímos da área de casa para um espaço físico na rua, agora com 80 metros quadrados, com fachada, movimento na frente. Já está com uns dois meses que inauguramos, está sendo um sucesso e pretendemos virar referência”, complementou.

Questionado sobre o papel da educação no empreendimento que hoje abrange o público urbano do hip-hop, rap, graffiti e dentre outros que caracterizam o streetwear, o jovem é enfático ao trazer a educação como principal ferramenta para transformação da vida dele.

“Tudo isso se deve muito à educação, até porque creio eu que se eu não tivesse estudado essa matéria de empreendedorismo na minha escola, eu acho que eu nem teria a minha loja hoje. A educação mudou minha vida”, finalizou.

Fonte: G1.

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