Boletos, fundos, cartão de crédito… foi pensando em ajudar os pais na hora de lidar com a difícil tarefa de educar os filhos que o escritor e mestre em administração Carlos Eduardo Costa criou a série de livros “Meu dinheiro”, que ensina de forma lúdica alguns valores importantes sobre finanças para os pequenos. Agora, o autor escreveu uma publicação direcionada para os pais.
Encontro entrevistou Carlos Eduardo Costa, confira:
A partir de que idade devemos falar sobre educação financeira com as crianças?
Eu digo que é a partir do momento em que as crianças passam a interagir com o mundo do dinheiro. Isso tem acontecido cada vez mais precocemente. Por exemplo, nós estávamos na festa junina da minha filha quando o meu menino de 3 anos viu aquelas maquininhas de brindes e começou a pedir a minha carteira, para comprar algo que ele queria. Então, hoje, a gente tem que cuidar disso mais cedo. Tem criança com 2 ou 3 anos que já estão interagindo com o mundo do dinheiro.
E como funciona a educação financeira?
Você tem que respeitar a maturidade da criança. A educação financeira é baseada em quatro pilares: ganhar, gastar, poupar e doar. Muitas vezes a gente passa a impressão errada do trabalho, da forma como ganhamos o nosso dinheiro. A criança pode passar a entender o emprego como algo que tira os pais dela. Já gastar é ensinar a escolher. Onde posso fazer isso? No supermercado, posso permitir ao meu filho que compre uma coisa só. Ele vai querer levar um monte, mas eu vou deixar ele pegar apenas uma para aprender a escolher. Poupar é deixar de fazer algo hoje para colher lá na frente. O ser humano nasce com um sentido de urgência muito forte, que deve ser diminuído com o passar do tempo. E como posso trabalhar isso? Quando levo minha filha na padaria, compro um chocolate que ela vai querer comer logo no caixa. Mas não, “papai vai te dar depois da janta”. Outra ferramenta que ajuda é o cofrinho. Por último vem o doar, que é fazer algo sem esperar nada em troca. É importante ensinar a doar os brinquedos e roupas que não usamos mais, mas não podemos atrelar isso somente a bens materiais.
Qual a função da mesada? Existe um valor ideal para crianças? Como usar melhor esse artifício para educar?
A mesada é uma ferramenta de educação. E como toda ferramenta, ela pode ser bem ou má utilizada. Uma tesoura pode tanto cortar um papel quanto machucar alguém. O problema é como eu uso ela. Eu preciso deixar claro para o que a criança está recebendo o dinheiro. Já o valor depende da condição econômica da família e do propósito. Se você der um real para o seu filho lanchar na escola, ele não vai conseguir comprar nada. Para as crianças menores, é melhor começar com a semanada por causa da noção de tempo. Mas também é importante que os pais sejam firmes. “O dinheiro para o lanche acabou? Espera até a próxima semana então”.
Como fazer para que as crianças dêem valor ao dinheiro?
Primeiro, é fazendo com que ela sinta a necessidade de escolher. Infelizmente estamos em uma geração que quer dar tudo para os filhos. Outra parte é mostrar que nem tudo na vida precisa de dinheiro para ser aproveitado. Você fazer isso incentivando diversos programas gratuitos, como ir ao parque, assistir um filme na TV, conversar depois do almoço, ler um livro, brincar na rua com os amiguinhos e muito mais.
Tem crianças que levam comidas, doces, pulseiras, para vender nas escolas. Este é um comportamento que deve ser incentivado ou não?
Eu acho que sim e até é uma oportunidade para ensinar algumas coisas. Minha filha queria vender misto quente na escola e colocou o preço de um real por cada, para vender mais rápido. Só que um real não vai pagar nem o material que a gente usa para fazer os mistos. Assim você pode ensinar conceitos importantes sobre a atividade empreendedora. Você também pode fazer isso de outras maneiras, como pagando os seus filhos para lavar o carro. Mas também temos que ensinar que nem todas as coisas devem ser feitas por dinheiro, como limpar a cozinha e arrumar a cama.
Em um momento de crise, é melhor falar sobre isso ou esconder?
É melhor abrir o jogo, mas tendo em mente o nível de maturidade da criança. Você precisa ponderar sobre as reduções que precisarão de ser feitas trazendo as crianças para dentro deste movimento, discutindo com elas sobre o que a gente vai fazer. É melhor ser sincero porque não adianta esconder as dificuldades, elas vão acabar notando.
Fonte: Revista Encontro