O que nunca morre!

Se tem um assunto que a gente não gosta de falar é a morte! Por mais consciência que tenhamos que nada é mais certo que ela, o tema é tabu. A gente foge pela tangente, faz vista grossa e empurra o assunto pra outro dia. Até que o dia chega e aí já era.

E confesso que nem vim aqui pra falar esse assunto. Esta semana eu tinha preparado outro tema. Passei o domingo pesquisando e o texto já estava bem adiantado, tudo sempre planejado e organizado como de costume. Como se eu tivesse algum domínio sobre alguma coisa. Quanta ilusão!

Claro que não sou caxias 24 horas por dia! Tenho meus momentos de lazer e descanso, mas aprendi que se não me organizar não darei conta de tantos projetos e compromissos.

Um sopro

Porém, uma mensagem de áudio no meu whats mudou tudo. Foi na manhã da terça-feira, dia 15 de janeiro, que recebi a mensagem do meu meio irmão Renato. A voz firme e tom equilibrado pareciam apenas informar sobre a mudança de hospital em que minha mãe estava internada.

Até aí, tudo estava sob controle porque já era esperado e mesmo que a sua voz seguisse inabalável, certamente o cuidado era pra não gerar impacto, mesmo que seu coração estivesse partido, veio – ao final – o triste desfecho! O sopro de vida havia se esvaído do corpo da minha mãe.

Um segundo

A boca secou, o corpo paralisou e o pensamento voou longe, distante no espaço e no tempo, voltando décadas atrás, num fragmento da infância perdido em algum lugar da mente, mas que ressuscitou na memória embaraçada e esquecida algumas cenas em que eu e ela éramos as protagonistas.

O destino, cheio de surpresas, chegadas e partidas nos levou a caminhos diferentes e a outras histórias.  E me dei conta que mesmo com a distância geográfica em que levávamos nossas vidas, nada poderia apagar, desfazer ou mudar o que já estava escrito nas palmas das nossas mãos.  E que assim se seguiria ao eterno. É o que tenho, é o que ficou e nunca vai morrer!

A escolha

Em relação à perda eu tinha dois caminhos: poderia escolher me desesperar, deixar a saudade tomar conta, sentir raiva, me sentir culpada por algo, ou – como escolhi – transformar a dor numa suave lembrança, num sopro de vida, numa brisa que arrepia o coração e consola a alma. Na consciência de que a vida é realmente eterna, só que vivida alternadamente (ou não) em dimensões diferentes.

Qual o motivo do temor da morte? Por que insistimos em viver, viver, viver e nunca morrer? Sim, é o desconhecido, a viagem sem Waze, o medo do sofrimento da partida, o apego à materialidade…

A transformação

Mas, se sabemos que a passagem faz parte da vida, então por que sofrer? Sofrer é compulsório, desnecessário! A única coisa que se pode fazer é viver, viver intensamente. Criar momentos juntos, beijar, perdoar, falar, esclarecer, explicar, amar milhões de vezes. Não importa a quantidade de anos. Se jovem ou idoso, o importante é fazer valer a pena o agora, que é a única coisa que de fato temos.

Transformar dor, preparar a mente e o coração não é fácil, mas é preciso! A despedida é provisória. Aquele que vai deixa um tanto dele quanto deixamos ficar. Abrigar essas lembranças, ressignificar os momentos juntos é um aconchego espiritual. Descansa em paz mãe!

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