“O Brasil pode se tornar um polo de tecnologia dominante no mundo”

mpreendedores devem ser teimosos, obstinados e incrivelmente egocêntricos. Para mim, esses defeitos são qualidades. Você precisa de tudo isso para começar uma empresa.” A declaração foi feita pelo investidor Doug Leone, gestor global da Sequoia Capital, um dos maiores fundos de venture capital do mundo, no segundo dia do Brazil at Silicon Valley – evento organizado por estudantes e ex-alunos brasileiros de Stanford no Vale do Silício.

Leone falou durante o painel “Ecossistema Brasileiro”, que teve também a participação, como mediador, do colombiano David Vélez, CEO do Nubank. Na visão do gestor da Sequoia, empreendedores precisam ser espertos, pensar dois ou três passos à frente e solucionar problemas reais. “A pior coisa é quando um grupo de novatos me diz que se juntou em uma sala e fez uma pesquisa sobre o tipo de produto que poderiam lançar. Isso não funciona. Gosto de fundadores movidos pela necessidade de resolver um problema que os afeta diretamente.”

O Vale do Silício é aqui?
Na visão de Leone, o Brasil tem tudo para se tornar um polo de tecnologia dominante no mundo. “Mas, para isso, vocês precisam ter engenheiros de software. Eles são cruciais, porque são essas pessoas que vão criar os códigos para as futuras inovações. Portanto, se eu fosse dar um conselho hoje para os líderes de negócios no Brasil, o que diria é: façam tudo que estiver a seu alcance para prover a formação de engenheiros de software. Criem bolsas de estudos, abram seus próprios cursos, não poupem esforços.”

É possível criar por aqui uma espécie de Vale do Silício brasileiro? “As condições para o surgimento do Vale do Silício foram bem específicas. Primeiro, a região conta com uma universidade excelente, programas liberais e uma mentalidade aberta. Em segundo lugar, o polo congrega mentes corajosas que vieram de diversas partes do mundo, como é o meu caso, que vim da Itália. E a terceira razão é o clima: quem não adora o tempo bom que sempre faz aqui?” Brincadeiras à parte, ele destacou a importância de empresas bem-sucedidas que impulsionem a evolução do ecossistema no Brasil. “Tudo começa com um grande sucesso. O Nubank pode cumprir esse papel e servir de modelo para seus pares.”

Competitividade saudável
Leone acredita que o cenário de negócios do país mudou muito desde a sua primeira visita com o fundo, em 2013. “Na época, percebemos que muitas das empresas que estavam sendo abertas eram cópias de modelos de fora. Faltava inovação. Por isso não abrimos um escritório no país, como os que existem na ChinaÍndia e Israel. Optamos por fazer investimentos em empresas como o Nubank. O esforço e a dor de ter mais um time, mais um fundo, parecia ser demais naquele momento. Mas isso foi em 2013. Agora eu acredito que as coisas mudaram.”

Para David Vélez, houve pelo menos uma grande mudança. “Hoje, a maioria dos empreendedores está focada em problemas reais, independentemente do que as empresas na Europa e nos EUA estão fazendo. Além disso, existe mais capital disponível, o que é importante para expandir esse ecossistema.” Embora Leone veja o aumento de capital disponível como um ponto positivo, não considera isso suficiente.  “É bom ver que existe investimento, e que há uma competitividade saudável no país. Mas, para mim, o capital não é o mais importante. Vocês precisam mesmo é de engenheiros de software.”

Fronteiras do futuro
Em sua carreira de investidor, Leone sempre preferiu buscar empresas fora do universo do Vale do Silício. “Quando você foi bem-sucedido por algum tempo, o risco é a única coisa que você tem. Eu acredito que as empresas mais valiosas do mundo vão ser criadas nos próximos 25 anos. E existe uma boa chance de que elas surjam fora dos grandes polos de tecnologia. Gosto de ir para países como o Vietnã e encontrar times nos quais eu possa investir. É isso que me motiva.”

Foi esse tipo de motivação que o levou a investir em escritórios na Índia e na China — muito antes de o país se tornar uma potência mundial. “Os chineses são grandes negociadores, contam com um mercado excepcional, uma classe média em crescimento e grandes companhias sendo construídas muito rapidamente. Além disso, eles aprenderam a inovar. Hoje eu visito o país e descubro modelos de negócios que não vi em nenhum outro lugar.” Segundo o gestor da Sequoia Capital, existe ainda um fator fundamental para a subida meteórica da China. “Lá, ninguém tem inveja das pessoas bem-sucedidas. Na Índia, quando você atinge o sucesso, é apedrejado. Na China, você é admirado.”

Fonte: Época

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