Pesquisador desenvolve roupas inteligentes inspiradas em livros de ficção científica

Você já imaginou como seriam as roupas do futuro? O pesquisador Mário Gazziro deu asas à imaginação e tornou essa fantasia realidade quando fez pós-doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Mario, que também é professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André, contou também com a criatividade e participação de seus alunos para desenvolver o que eles chamam de roupa cibernética.

Transformar a arte da moda em ciência é um desafio. De uma forma bastante simplificada, as roupas funcionam por meio de sensores eletrônicos e centenas de micro LEDs que são conectados por uma rede mesh – uma espécie de rede de dados sem fio, assim como o Wi-Fi, mas em frequência diferente e com maior capacidade de alcance. A intenção original era construir um material que pudesse não só servir como vestimenta, mas que também fizesse um monitoramento da saúde do usuário e, ao mesmo tempo, interagisse com o meio ambiente. Um exemplo dessa interação seria o uso de sensores musculares para monitorar o esforço físico diário acumulado pelo usuário, porém o custo desse material é muito alto e, por isso, ainda não foi integrado às roupas.

Antes de serem desenvolvidas, as roupas foram desenhadas em croquis – Foto: Mario Gazziro

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Desde a ideia inicial, há dois anos, quatro peças de roupas inteligentes foram produzidas pelo professor e pelos alunos. Todas elas são inspiradas nos livros de ficção científica do escritor americano Willian Gibson. A trama de seus livros era construída em um futuro distópico, no qual haveria baixa qualidade de vida, mas os níveis tecnológicos seriam muito altos e acessíveis. “O modo como nossa sociedade tem evoluído demonstra o caráter profético das obras, que foram escritas ainda nos anos 80. Não é incomum, hoje em dia, haver lugares em que existe acesso a redes sem fio rápidas em locais ainda sem saneamento básico, por exemplo”, comenta Mário.

Apelo sustentável

A tecnologia, em geral, tem mudado a forma como se fabricam produtos e como eles são consumidos e com a moda não é diferente. Um dos principais benefícios das roupas tecnológicas é a diminuição no impacto ambiental. De acordo com a reportagem “Qual é a indústria que mais polui o meio ambiente depois do setor do petróleo?”, da BBC Brasil, o poliéster é a fibra sintética mais usada na indústria têxtil atualmente. Para ser produzido, são necessários 70 milhões de barris de petróleo anualmente e o material demora cerca de 200 anos para se decompor. “Ao invés de a pessoa trocar a peça inteira da roupa, ela poderia apenas trocar pelo software da moda. Essa realidade pode ser distante, mas essa interação sensorial é um apontador de tendências para essa futura realidade, ainda mais quando se pensa em todo apelo sustentável que já existe hoje em dia”, complementa Mario.
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Carolina (à esquerda) e Izis enquanto desfilam na UFABC – Foto: Talissa Fávero

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Talvez as roupas cibernéticas demorem para chegar às lojas, mas elas já estiveram na passarela. A primeira vez em São Carlos aconteceu no Pint of Science, um festival que propõe debater ciência de forma descontraída em bares e restaurantes. Na segunda vez, o desfile foi realizado no extenso corredor vermelho da UFABC, em dezembro do ano passado.

Uma das primeiras modelos a experimentar as novas tecnologias vestíveis foi Carolina Cerne, estudante de licenciatura em Ciências Exatas da USP, curso que é oferecido em parceria pelo ICMC, pelo Instituto de Física de São Carlos e pelo Instituto de Química de São Carlos. Para ela, a experiência foi diferente e empoderadora: “Eu usaria as peças no futuro. Os dois modelos que usei eram roupas leves e confortáveis. O modelo afinou minha cintura. Adorei”, avalia a estudante.

Talissa Fávero/Assessoria de Comunicação do ICMC

Mais informações: (16) 3373-9666; e-mail: comunica@icmc.usp.br, com a Assessoria de Comunicação do ICMC

Fonte: Jornal USP

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