Em praticamente todos os setores da sociedade a mão do marketing se faz presente. Contudo, as conseqüências negativas de boa parte de seus feitos e produtos nem de longe lhe afeta. Joga os seus “filhos” para o mundo criar…e que se vire o mundo!
Vivemos um momento de transição de valores e cada setor da sociedade precisa fazer o seu mea culpa e assumir o seu papel nas transformações que queremos ver acontecer. É chegada a hora de o marketing se posicionar quanto a sua responsabilidade social!
Situemos o marketing destacando duas definições à abordagem pretendida, a propósito:
Marketing é a entrega de satisfação para o cliente em forma de benefício (KOTLER e ARMSTRONG, 1999).
Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado. (AMA – American Marketing Association – 2005).
Pois bem, a grande habilidade dos marketeiros está justamente em ampliar o leque de atuação, a fim de justamente criar demandas que possam propagar suas ações e gerar receitas. Temos hoje o marketing empresarial, esportivo, social, cultural, político, eleitoral, endomarketing, e afins. É o polvo das profissões!
Contudo, o fim a que se destina há muito está distorcido e não há qualquer restrição a respeito. Todos os atores sociais de alguma forma são responsáveis pelas suas ações. Menos o marketing! Até por sua habilidade inata, sai ileso. É o momento de cortar a própria carne.
Vejamos:
– Uma ação de marketing, encarregada de levantar todas as repercussões redunda na comercialização de um produto que gera risco à saúde da população e logo é proibido, pois se ocultaram os seus males;
– A “venda” de um candidato(a) probo, honesto, promissor, mas depois de eleito trai o voto recebido, seja pelas promessas não cumpridas – apresentadas com requinte e sedução – seja pela “ficha suja” que fora oculta;
– O desenvolvimento de uma ação de responsabilidade social que nada mais é do que uma exigência prevista em lei, ou seja, uma obrigação social, mas que vem apresentada na forma de benesse institucional;
Pergunto: Onde está a satisfação do cliente em forma de benefício? E a entrega de valor ao “cliente”, de modo a que beneficie a organização (essa, sim, sempre se beneficia) e o público interessado? Isso, na prática, não existe mais!
Somos compelidos a comprar coisas de que não precisamos, consumimos produtos que nos fazem mal à saúde, somos induzidos a votar numa pessoa sem a mínima preparação para exercer um mandato e que vai gerir nossas vidas por 4 ou 8 anos, somos manipulados por números (pesquisas, dados estatísticos e balanços) que não traduzem a verdade. Tudo sem a satisfação, o benefício e/ou o valor ao público interessado. Com o devido respeito, isso não é marketing, isso tem outro nome.
A propósito, interessante a análise: “Não utilize o marketing na gestão de pessoas, pois ele não tem compromisso com a verdade, que é uma das bases que sustenta as relações humanas”
Se todas as suas ações têm repercussão de cunho social, não se pode negar que já é tempo de o marketing assumir a sua responsabilidade social, firmar um compromisso com a sociedade, com seu público-alvo, que é a sua razão de existir. Há que haver o mínimo de ética na atuação do setor, respeito aos valores que estão em jogo: a vida, a saúde, o meio-ambiente, a cidadania e a Nação.
Não podemos mais ficar inertes e nos submeter às “genialidades” que possam nortear o nosso agir, nosso presente e nossos destinos. Não o vejo como um vilão, mas tem se comportado como tal – habilmente oculto – pois hoje joga os seus “filhos” para o mundo criar…e que se vire o mundo!
Ora, tenho o marketing como um parceiro em todos os projetos, eu o quero nas horas boas e ruins, dividindo os louros da vitória e crescendo com as derrotas, mas, principalmente, comprometido com as responsabilidades decorrentes do alcance de sua ações e fiel aos seus propósitos conceituais.
Mas nessas horas vem sempre em mente o programa de TV “Topa tudo por dinheiro”.
Penso que chegou a hora da reflexão, agora!