REVISANDO A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW

Revisando a Hierarquia das necessidades de Maslow

Grupo Comunicação e Ações Motivacionais – ABRH/RS

Qualquer estudo sobre a motivação passa pela precursora Hierarquia das Necessidades Humanas proposta por Maslow, a partir de sua disposição em cinco níveis (fisiológicas, segurança, sociais, estima e auto-atualização).

Três temas foram abordados por ele em sua linha de definição sobre a natureza dessas necessidades (MASLOW, 1943). O primeiro, as necessidades se dispõem em hierarquia de acordo com a potência e força, ou seja, quanto mais baixa no nível hierárquico, mais forte e urgentemente é sentida pela pessoa. O segundo, quanto mais baixo o nível de uma necessidade mais depressa surge no desenvolvimento, ao passo que os jovens experimentam apenas as necessidades inferiores e os mais velhos tendem a experimentar a gama total da hierarquia. O terceiro, as necessidades são satisfeitas em sequência, da inferior à superior (MASLOW, 1943).

A partir dessas premissas, diversos estudos foram realizados e, apesar da popularidade de teoria de Maslow, as pesquisas encontraram pouco apoio empírico à hierarquia das necessidades nesse formato(REEVE, 2005). Ao investigar a mudança da motivação conforme a idade (GOEBEL & BROWN, 1981), os pesquisadores solicitaram que crianças, adolescentes, adultos jovens, de meia-idade e mais velhos relatassem quais necessidades lhes eram mais importantes. A idade não predeterminou a significância da necessidade. Já aautorrealização obteve grau baixo entre os mais velhos.

A ordem de classificação também foi testada para validar a hierarquia,cujo estudo solicitou que os participantes determinassem suas necessidades em ordem de importância ou de desejabilidade, não se confirmando o ordenamento que fora disposto por Maslow. A exemplo, a prioridade dos universitários, em ordem de menor para maior importância foi: necessidade de estima, de segurança, de auto-atualização, sociais e fisiológica (MATHES, 1981).

Contudo, a hierarquia encontrou apoio empírico num estudo que a delimita apenas em dois níveis, dividindo-se em necessidade por deficiência e necessidade de crescimento (SHELDON, ELLIOT, KIM & KAISER, 2001). Do que se extrai: a rejeição da hierarquia em cinco níveis, a reunião das necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e estima numa só categoria de necessidade por deficiência e a autorrealização agora abarcada como necessidade de crescimento.

Por sua vez, no que tange a necessidade por crescimento, a visão de Maslow restou consolidada (REEVE, 2005),encorajando-a, uma vez que sua estimativa era de que 1% da população alcançaria a auto-atualização. Isso dar-se-ia seja por fatores internos ou externos, seja pelo fato de o indivíduo temer seu próprio potencial (ao que denominou de “complexo de Jonas”, em alusão ao personagem bíblico que tenta fugir do seu destino).

O que acabou o levando a reconhecer a contradiçãoentre a ideia de que aautorrealização era inata (inerente a todos os seres humanos) e a constatação de que poucos efetivamente satisfazema necessidade de autorrealização.

Assim, sugeriudiversos comportamentos para encorajar a auto-atualização, quais sejam: fazer escolhas para o crescimento (direcionada ao progresso), ser honesto (ousar ser diferente, não conformista, autêntico, refletindo seu interesse pessoal), colocar-se em posição para experiências de pico (explorar seus talentos, aprofundar suas competências), desistir de defensivas (deixar de ser indulgente e por as mãos à obra), usar a intuição (ouvir as vozes dos impulsos, interesses e aspirações internas) e estar aberto a experiências (ser espontâneo, original e disposto a uma experiência plena e de absorção).Os quais seriam complementados pelo nosso comprometimento com relacionamentos íntimos e satisfatórios que apoiem a autonomia, a receptividade e o reconhecimento.(MASLOW, 1971)

Dessa feita, percebe-se que os estudos recentes não tiram o mérito de Maslow, em cuja época não havia o magnífico suporte científico e tecnológico que o viabilizasse aprofundar os estudos sobre a motivação, que não fosse a própria observação sobre os eventos. Tem-se um consenso no sentido de que há muitíssimo ainda a se desvendar sobre a natureza humana e suas motivações. Consequentemente, de um lado, os avanços alcançados reposicionam a hierarquia, simplificando-a nos dois níveis de necessidades de deficiência e de crescimento. De outro lado, ressignificam a relevância de Maslow não mais focada à hierarquia, mas centrada à sugestão, consolidada, dos comportamentos necessários para se atingir a auto-atualização, objeto alcançado por poucos.

Referências Bibliográficas:

GOEBEL, B. L. & BROWN, D. R. (1981), Age differences in motivation related to Maslow’s need hierarchy,Developmental Psychology, 17, 809-815.

MASLOW, A. H. (1943), A theory of human motivation. Psychological Review.

MASLOW, A. H (1971), The farther reaches of human nature, New York, Viking Press.

MATHES, E. W. (1981), Maslow’s hierarchy of needs as a guide for living,Journal of Humanistic Psychology, 21, 69-72.

REEVE, Johnmarshall (2005), Understanding motivation and emotion, fouth edition. John Wiley & Sons, Inc.

SHELDON, K., ELLIOT, A. J., KIM, Y. & KASSER, T. (2001) What is satisfying about satisfying events? Testing 10 candidate psychological needs.Journal of Personality and Social Psychology, 80, 325-339.

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