Sem diploma, com qualificação

Com a mudança rápida das carreiras profissionais por conta do acelerado estágio da tecnologia, muitos estudantes correm o risco de receberem o diploma universitário quando a área escolhida já estiver completamente modificada pelo mercado, cada vez mais tecnológico e instável. O gap entre o ritmo da educação e o do mercado ainda é muito acentuado, o que coloca em risco a futura empregabilidade dos jovens. E se eles são o futuro do País, como pensar na nação daqui a 5, 10 ou 15 anos? Mas, a questão educacional está, antes de tudo, ligada à má qualidade ofertada. Aqui, a gente ainda pensa que o diploma vai salvar vidas. Não é bem assim!

Menos oportunidades

Há algumas semanas, tive a oportunidade de falar sobre mercado de trabalho para cerca de 200 jovens aprendizes do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e alunos da Faculdade Estácio Depois disso, falei pra uma turma de 50 jovens do ensino médio do SENAC-AM, unidade Darcy Vargas.

Me motiva poder levar aos jovens um pouco da minha experiência e do que venho estudando, bem como minha visão baseada no atual contexto, cheio de mudanças e transformações. E quando olho pra aqueles rostinhos tão cheios de sonhos, lembro que não teremos emprego para todos! Isso é uma realidade.  Então percebo aí a oportunidade de ajudá-los, traçando alternativas, desenhando panoramas, para que eles possam se preparar e se encaixar nesse novo mundo do trabalho.

Jovem no centro

Sempre penso que é importante convidar os jovens a participar das discussões que envolvam a sua empregabilidade, de modo que possam refletir o futuro de suas possíveis carreiras. E esse preparo deveria ser iniciado desde o Ensino Fundamental, com aulas de empreendedorismo, educação financeira e outras afins. Quando chegam ao Ensino Médio é mais complicado desconstruir uma visão que se consolida sem essa base. O trabalho é maior!

Conforme o Censo Escolar 2017, o Brasil mantinha mais de 35 milhões de estudantes matriculados no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, tanto nas redes pública quanto na privada e esses milhões de estudantes não estão sendo preparados para um mundo muito mais exigente, escasso e marcado por profundas transformações.

Já o Censo da Educação Superior de 2016 levantou que havia mais de 8 milhões de estudantes do Ensino Superior matriculados no ano. Mas, sabemos que até o final do curso, poucos conseguirão receber o tão sonhado diploma, que muitas vezes não significa sucesso!

E se os cursos universitários de longa duração não acompanham o tempo do mercado, surgem os cursos tecnólogos, de curta duração e voltados ao mercado de trabalho, porém no Brasil ainda são vistos – de modo geral – com certa resistência ou desconfiança pela parte contratante. E eles sim, poderiam contribuir para uma boa formação técnica e ser útil no mercado, abrindo oportunidades de emprego pra essa moçada.

Contudo, de um jeito ou de outro, o jovem se vê na alternativa do subemprego, pois mesmo com formação superior – quando não está desempregado – acaba assumindo cargos antes ocupados pelo pessoal sem formação acadêmica, como analistas, auxiliares administrativos e assim por diante, ficando distantes de escolha profissional.

Mas, o desemprego ainda é muito alto entre os jovens. De acordo com o IBGE são praticamente 4 milhões de jovens, entre 18 e 24 anos fora do mercado, no segundo trimestre deste ano, representando 32% do total dos 13 milhões de desempregados no País.

Isso sem contar a quantidade de jovens que estão fora das escolas, agravando ainda mais a situação deles e, consequentemente, a produtividade do País. De acordo com reportagem do site das Nações Unidas no Brasil (ONU BR), há hoje no Brasil cerca de 2,8 milhões de meninas e meninos, de quatro a 17 anos, fora da escola em 2015.

Desse montante, cerca de 1,6 milhão tinha entre 15 e 17 anos, esse grupo já havia frequentado a escola e parado de estudar em algum momento. O restante, aproximadamente 820 mil crianças, estavam fora do sistema educacional infantil. A maioria deles concentra-se em camadas sociais vulneráveis, pois 53% vivem em domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo.

Acaba só quando termina

Para fugir da estatística do desemprego, muitos estudantes estendem o curso superior para prolongar o contrato de estágio, conforme reportagem da revista Exame “Estudantes alongam estágios para fugir do desemprego”, há alunos que demoram a cursar as disciplinas obrigatórias ou mesmo a entregar o TCC.

Dessa forma, continuam nos estágios por mais tempo, garantindo o recebimento da bolsa. Lembrando que geralmente esse recurso é para ajudar nas contas de casa.

Mas, depois de formados a situação pode piorar. Outra reportagem do Portal G1, intitulada “Desemprego entre os jovens é superior ao dobro da taxa geral, aponta IBGE”, aborda exatamente essa dificuldade do jovem em entrar mercado de trabalho, pois – logicamente – sem experiência e com poucas vagas disponíveis, o diploma não ajuda muito.

Muitas vezes essa porta fechada o leva a um estado de desmotivação, contribuindo para a entrada no mundo das drogas, dos jogos e do desinteresse pelas questões do País.

Além do diploma

Em uma realidade completamente diferente da nossa, nos EUA, grandes empresas já contratam gente sem diploma universitário. Mas, o que vale lá é a boa base educacional, comportamental e experiência, independentemente do diploma.

Conforme matéria no portal MundoBit, Empresas como Apple, IBM e Google, por exemplo, contratam jovens muito qualificados, porém o diploma universitário não é o fundamental. Essas companhias priorizam experiências específicas.

O levantamento foi realizado pelo Glassdoor, um conhecido site de busca por empregos, o qual listou – entre as já citadas – outras 12 grandes empresas norte-americanas, que divulgaram vagas para cargos avançados, onde a graduação universitária é descartada.

É importante deixar claro que as empresas abrem mão do diploma, mas não da qualificação, que pode ser obtida desde a experiência em outras empresas ou pelo conquista e esforço pessoal.

Infelizmente, o Brasil está muito longe dessa realidade. A educação que nossas crianças e jovens recebem deixa muito a desejar. São mais de 7 milhões deles em distorção idade-séria, que significa o descompasso entre a idade do aluno em relação à série que ele cursa, conforme estudo do UNICEF. Sem o alicerce de uma boa base educacional, não tem Google que dê jeito!

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