Criptomoedas e NFTs são grandes emissores indiretos de gases poluentes, mas a própria tecnologia pode resolver o problema
Muito mais do que imagens autorais ou obras de arte digitais, os NFTs (tokens não fungíveis, da sigla em inglês) são contratos inteligentes baseados em blockchain. Exatamente por isso, são emissores relevantes de carbono, já que as criptomoedas utilizadas nas negociações e as redes de blockchain direcionadas às criações dos NFTs demandam alto poder de processamento dos computadores, e isso se reflete em consumo de energia.
Mesmo que, recentemente, várias iniciativas tenham surgido para medir a pegada de carbono de um NFT, ainda existem etapas no processo de cunhagem de um token que não são dimensionadas. O site Digiconomist, por exemplo, desenvolveu um Índice de Consumo de Energia que estima o impacto de uma transação em uma rede como a Ethereum, mas outras etapas ainda ficam de fora. É um problema que vem sendo mapeado e identificado em função da popularização recente dos NFTs, que geraram globalmente em 2021 mais de US$ 23 bilhões em transações.
Para se ter ideia da relevância do impacto desse mercado, a Universidade de Cambridge estimou que o uso de bitcoins, uma das criptomoedas mais transacionadas atualmente, demanda, por ano, a mesma quantidade de energia fóssil que a Argentina inteira.
Vilão ou solução
Um relatório da XP, publicado em 2021, colocou em perspectiva a relação entre ESG e bitcoin. “A mineração (processo por meio do qual novos bitcoins são criados) não é o principal desafio frente aos obstáculos a serem enfrentados no combate às mudanças climáticas. Mas é um deles. Fato é que não existe uma bala de prata quando o tema é a redução das emissões de CO²”, disse o relatório.
Algumas iniciativas estão sendo criadas para que os NFTs possam se diferenciar das criptomoedas nesse aspecto e sirvam, inclusive, como uma alternativa que não só resolva a alta emissão, mas reduza outros impactos. Já existem sistemas de blockchain utilizando ferramentas mais eficientes e que demandam menor consumo de energia. O projeto Algorand, por exemplo, possui emissão negativa de carbono. E a rede Ethereum experimenta algoritmos que têm pegada de carbono até 99.95% menor.
Para Maurício Magaldi, mentor de blockchain da Tune Traders, cada vez faz menos sentido atribuir à tecnologia blockchain um alto nível de emissão de carbono, pois 70% da mineração de bitcoin atualmente utiliza energias renováveis. “A Exxon Mobil anunciou que vai usar gás natural excedente na mineração de bitcoin”, diz.
Breno Mazza, representante no Brasil da Solid World DAO, iniciativa que se propõe a limpar meio milhão de toneladas de CO² com tecnologia blockchain, destaca que, além de utilizarem mecanismos de validação mais eficientes, os processos atuais demandam menos força computacional e, consequentemente, menos energia.
“Para conseguir os créditos de carbono necessários para fazer isso, as redes podem contar com soluções financiadas através da própria blockchain”, diz Mazza. “Existem protocolos que visam a financiar ou pré-financiar o sequestro de carbono.” Ele dá como exemplo a atualização da rede Ethereum programada para 2022: quando acontecer, ela deixará de utilizar um mecanismo sofisticado, que demanda maior poder computacional, para adotar um sistema mais simples criado para reduzir as etapas que exigem alto desempenho dos processadores.
Thiago Valadares, sócio-diretor da NFMarket Agency, agência especializada em gestão e desenvolvimento de projetos em NFT, afirma que as soluções que o blockchain traz são maiores que os problemas que gera. “A comunidade unida vem buscando melhorias nesse sentido”, diz. “Se o computador estiver ligado em uma placa solar, esse problema ambiental não existe mais. O correto seria neutralizar com crédito de carbono a criação do NFT. Alguns blockchains caminham no sentido de usar menos processamento, mas ainda é uma utopia. Hoje é impossível um blockchain que não use processamento e, consequentemente, energia.”
Para Luiz Carlos dos Santos, diretor de desenvolvimento de projetos da eProfessionalTI, as estruturas de big data que trabalham com blockchain dispõem de grandes tecnologias de servidores, com capacidade de armazenamento de dados e processadores de última geração que minimizam os efeitos. “O modelo que está sendo construído para o segmento logístico, por exemplo, será uma grande evolução em relação ao fluxo da informação em toda a cadeia de dados. Cada etapa do processo será reportada e registrada a um big data, em seguida, disponibilizada a todos os membros do bloco. Serão reduzidos os níveis de CO², com a extinção do papel e a redução de lixo eletrônico (e-mails).”
NFTs para salvar a Amazônia
Iniciativas que utilizam o NFT como solução para o desmatamento vêm sendo criadas nos últimos meses, principalmente depois da popularização da tecnologia. No Brasil, com o objetivo de contribuir para o reflorestamento da Amazônia por meio de um sistema que permita rastreabilidade, a NFMarket Agency criou o NFT Amazônia, uma unidade de negócios cujo primeiro projeto é o NForest, obras de arte que retratam árvores, animais, lendas amazônicas, entre outras temas.
No caso das árvores, ao serem adquiridas em forma de NFT, a partir de um lance financeiro dado por qualquer pessoa, esse valor consolida-se no plantio de árvores reais. Bruno Riberti, sócio e fundador e diretor executivo do NFT Amazônia, explica que cada proprietário de um NFT causará um impacto equivalente a 1 hectare físico, ou seja, 10 mil m², onde serão plantadas 300 árvores. O projeto tem capacidade total de 450 hectares.
Fonte: Forbes