Tendências globais na gestão de recursos humanos em 2021

O desafio para muitas organizações será criar uma cultura de conexão, colaboração e confiança num ambiente de trabalho digital – garantindo que os colaboradores se sintam inspirados para dar o seu melhor.

A análise dos resultados obtidos em cada país onde se realizam os Pogramas de Certificação Top Employers, proporcionam um conjunto de Relatórios de Tendências de Recursos Humanos. Estes estudos permitem identificar as tendências de cada país e região. O objetivo é proporcionar informação às organizações de todo o mundo, que as inspire na implementação de medidas alinhadas com o que de melhor se faz ao nível da gestão de pessoas.

O Relatório Global de Tendências de Recursos Humanos desta edição demonstra algumas alterações importantes nas prioridades de RH estabelecidas pelas organizações. A pandemia acelerou a forma como as organizações ficaram sujeitas à transformação digital. Perante este imperativo estratégico, os dados sugerem que os Top Employers estarão confrontados com três questões fundamentais:

  • Novas formas de trabalho que garantam a colaboração num futuro incerto
  • Preparar os colaboradores a adaptar-se e a a lidar com a mudança (constante)
  • Gerir o impacto deste contexto para uma nova abrangência da função do departamento de RH.

Quando olhamos para trás, há apenas dez anos, os RH já tinham iniciado um processo de transição do foco administrativo para se tornarem um parceiro de negócio. Os profissionais de RH começaram a incluir também responsabilidades de comunicação e marketing ao seu conjunto de competências. Porém, atualmente, novas áreas de especialização estão a tornar-se essenciais, como é o caso de competências digitais e de análise de dados.

O contexto requer que os RH apoiem as organizações nos processos de transformação, enquanto agentes ativos da mudança. Os profissionais de RH enfrentam uma necessidade urgente de desenvolver as suas competências de inteligência emocional e de gestão da mudança, para apoiar as equipas a adaptar-se às transformações.

Embora a grande maioria dos Top Employers acredite nas suas capacidades de gestão da mudança, os nossos dados parecem indicar o oposto. A capacidade dos profissionais de RH de medir o progresso após a execução das primeiras etapas de um processo de mudança parecem estar aquém do recomendado. Por exemplo, apenas 52% dos Top Employers referem que acompanham e monitorizam o impacto da mudança para garantir a adequação da implementação.

Como podem melhorar essa prática? Em programas de restruturação, por exemplo, é prática recomendada envolver os colaboradores desde o princípio; incorporar os seus comentários à medida que os programas passam do planeamento à execução. Numa fase mais intermédia convém obter feedback novamente, de forma a identificar melhorias e manter as equipas comprometidas com os objetivos a atingir.

Os Top Employers classificam a gestão da mudança como uma das suas maiores prioridades estratégicas para o próximo ano. Os líderes mais seniores desempenharão um papel fundamental na condução da mudança.

O desafio para muitas organizações será criar uma cultura de conexão, colaboração e confiança num ambiente de trabalho digital – garantindo que os colaboradores se sintam inspirados para dar o seu melhor.

Do ponto de vista do mercado de trabalho, é improvável que ocorra um retorno aos níveis de emprego de 2019 antes 2022. Nesse sentido, a dinâmica da atração, engagement e retenção do talentos viu-se dramaticamente alterada.
Contudo, a necessidade de adaptação dos modelos de negócio ao comércio online, prevê que mais organizações procurem recrutar talento em áreas como tecnologia, marketing digital e análise de dados. Como resultado, as organizações terão que desenvolver esforços para conseguir atrair e reter os melhores talentos.

Para tal, destacam-se alguns aspetos que estão na agenda das prioridades:

Um employer branding que reflita a mudança que vivemos

À medida que a crise da saúde se desenvolve, a segurança e o bem estar do posto de trabalho tornou-se uma preocupação frequente para quem procura um novo emprego. A pregunta que colocam é “O que esta empresa faz pelos seus colaboradores?”

Ser reconhecido como um empregador atencioso e que tem um propósito definido são aspetos que os Top Employers procuram alavancar. As organizações procuram cada vez mais assumir um compromisso com questões relacionadas com a sustentabilidade social e a necessidade de criar postos de trabalho enriquecedores.

Os Top Employers têm realizado uma revisão e atualização das suas propostas de valor ao empregado (EVPs).

Destacamos alguns dos principais temas que estão a rever/incluir:

Maior foco nos valores e comportamentos

Os valores da organização influenciam significativamente os comportamentos dos colaboradores. Mas os valores são irrelevantes, a menos que sejam compreendidos e bem definidos. Assiste-se a uma tendência crescente por parte dos Top Employers em formar sistematicamente os seus colaboradores acerca dos valores da organização, sobre a forma de comportamentos concretos, incluindo-os como parte integrante do seu desempenho e da liderança.

Uma experiência envolvente em todas as fases

No mundo do trabalho ultra-conectado em que vivemos hoje, a jornada de um novo colaborador começa antes de assinar o contrato de trabalho.

Na aquisição de talento é fundamental o candidato ter uma experiência envolvente e acolhedora. Como todos sabemos, a experiência de passar pelo processo de seleção diz muito mais sobre a realidade da organização do que as mensagens da marca.

A prioridade passa por fornecer uma experiência envolvente desde a primeira até a última etapa da permanência do colaborador na organização. Começa com o pré-boarding, onde a prática recomendada é que o novo colaborador seja tratado como fazendo parte da organização antes de entrar na folha de pagamento.

Cerca de quatro em cada dez Top Employers criaram plataformas online para o pré-embarque. Quando o interface de utilizador é envolvente, essas plataformas facilitam a transição do colaborador para o seu novo ambiente de trabalho, e ajudam a garantir que conteúdo importante, como a formação legal, seja concluída a tempo.

92% define os programas de integração como um processo contínuo, em vez de um único evento.

41% dá acesso aos novos contratados a um pré-boarding virtual antes do primeiro dia de trabalho.

69% dos Top Employers procuram otimizar a jornada do candidato para garantir uma experiência simples mas que promova o engagement com a organização.

73% usa o feedback das entrevistas de saída para otimizar o que oferece ao talento.

75% da aos colaboradores uma variedade de opções para agendar a sua entrevista de saída.

Nos tempos que correm a experiência é tudo, não devemos esquecer que o fim de uma relação de trabalho também faz parte da experiência do colaborador. Por esse motivo, cada vez mais, as organizações estão focadas em oferecer uma melhor experiência de off-boarding aos colaboradores.

O feedback dos colaboradores tem sido amplamente valorizado pelas organizações Top Employers, sob forma de conseguir informação fidedigna que dê suporte a planos de ação mais ajustados à realidade.

O escritório como um ‘club/hub

Quando, e se, regressarmos à normalidade, o que não está previsto acontecer até 2022, a função dos escritórios, sem dúvida, terá que evoluir.

Alguns especialistas acreditam que as organizações irão redesenhar os seus escritórios para que sejam identificados como clubes. Os colaboradores provavelmente passarão dois ou três dias por semana no escritório e o resto do seu tempo em trabalho remoto, em casa ou em centros de coworking localizados perto das suas casas.

Os escritórios permanecerão atraentes devido à interação social que oferecem. Trabalhar permanentemente desde casa pode resultar na perda de oportunidades de networking. Os escritórios serão locais privilegiados para receber clientes, realizar reuniões presencias e como forma de manter o contato com colegas.

Este artigo foi publicado originalmente no suplemento Top Employers, parte integrante do Jornal Económico de dia 5 de fevereiro.

Fonte: Jornal Econômico

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