Uma pequena empresa, com DNA brasileiro, deu vida ao filme “O Rei Leão”

Um jovem leão – acompanhado por um suricato e um javali – parte em uma jornada para recuperar o trono de seu pai, cruelmente assassinado pelo seu tio. Esse é o enredo da animação “O Rei Leão”, lançado pela Disney em 1994. Os animais carismáticos e as canções contagiantes tornaram da produção um sucesso que marcou a infância de muitas pessoas.

Mais de 20 anos depois, essa narrativa shakespeariana continua forte no coração dos fãs. Logo, era de se esperar que o anúncio de um novo filme, que estreou na última quinta-feira (18/7), fosse recebido com entusiasmo.

Mais do que a oportunidade de reviver os personagens, um dos pontos que mais chamou atenção do público foi a qualidade da animação. Ricas em detalhes, as imagens fazem parecer que animais reais foram usados nas gravações – quando, na verdade, eles [os bichos] são feitos de computação gráfica.

Mas saiba que existe um toque verde e amarelo na tecnologia usada no longa. Ela foi produzida pela Magnopus, empresa fundada por empreendedores brasileiros.

A Magnopus
A Magnopus é resultado da união dos brasileiros Rodrigo Teixeira e Marcelo Lacerda e os ganhadores do Oscar de Efeitos Especiais Ben Grossman e Alex Henning.

Desde o seu início, em 2013, a proposta da empresa sempre foi unir o universo cinematográfico com o desenvolvimento de software para computação gráfica. Com essa mistura, os empreendedores planejavam criar novas formas de se produzir e de consumir conteúdo audiovisual.

Magnopus (Foto: Divulgação)

Entretanto, a ideia não encontrou espaço para prosperar. “Na época, o mercado ainda não estava preparado para isso”, diz o também brasileiro Bernardo Machado, um dos sócios da empresa.

Sem alternativas, a empresa apostou suas fichas na produção de efeitos visuais para criar um portfólio e ganhar renome no setor. Apesar de ousado, o empreendimento foi bem-sucedido. A empresa participou de produções como “Jogos Vorazes”, foi nomeada prêmios como o Emmy e ganhou diversos Clio Awards, premiação voltada ao mercado publicitário.

Uma virada de jogo
Formado em Administração, Bernardo Machado ingressou na Magnopus em 2017.

O empreendedor conta que, na época, a empresa sofria uma profunda transformação no seu modelo de negócios. Tudo havia começado em 2016, quando a Magnopus produziu experiências em realidade virtual para os filmes “Viva – A Vida é uma Festa” e “Moana”, ambos da Disney.

Além de enriquecer o portfólio da empresa – rendendo indicações para o prêmio Cannes -, esses trabalhos também permitiram que os executivos de ambas empresas se aproximassem. “Foi então que começamos a conversar sobre a possibilidade de produzir ‘O Rei Leão’”, conta Machado.

Magnopus (Foto: Divulgação)

De acordo com empreendedor, um dos fatores que mais chamou a atenção da Disney era a tecnologia que estava sendo desenvolvida pela Magnopus. Com ela, a gravação do filme poderia ser realizada completamente em um ambiente virtual.

Como funciona?
Existe mais complexidade do que você pensa na produção do filme.

Machado conta que, nas animações tradicionais, um estúdio é montado para a produção das cenas. Nele, os atores usam roupas especiais com sensores de movimento. Posteriormente, essas imagens são entregues para editor, que aplica efeitos especiais.

Mas, em “O Rei Leão”, isso aconteceu de forma diferente. A savana do filme foi construída em um estúdio completamente virtual. Em tal estúdio, a savana onde a narrativa se passa foi projetada e, dentro dela, os animais ganharam vida por meio de inteligência artificial.

Tal tecnologia permitiu que o diretor do filme tivesse mais liberdade criativa, segundo o empreendedor.

A interação com os personagens era feita por meio de um óculos de realidade virtual, permitindo que os artistas trabalhassem diretamente com a cena. “Se o Simba estava correndo de um jeito que Jon [o diretor do longa] não gostava, ele conseguia pegar o personagem com a mão e alterar”.

Rei Leão (Foto: Reprodução)

Essa possibilidade se estendia até os mais simples aspectos, como uma sombra fora do lugar errado e até mesmo a posição do sol. “Era como brincar de Deus. Tudo estava sob o controle da equipe de produção”, diz.

Para que os cinegrafistas conseguissem captar as imagens, câmeras “de mentira” foram impressas em uma impressora 3D. Todos os movimentos que os profissionais faziam com esse equipamento era reproduzido por câmeras virtuais, situadas dentro do mundo criado pela empresa.

A Magnopus não divulgou quanto faturou desenvolvendo a tecnologia do filme. Mas a estimativa é que, no total, a Disney investiu US$ 250 milhões (cerca de R$ 930 milhões) no longa.

Planos ousados
Agora, os planos da Magnopus estão indo além do mercado cinematográfico. Segundo Machado, a empresa pretende criar soluções em realidade virtual que possam ser usadas para resolver problemas do mundo corporativo.

Outro tipo de tecnologia que a empresa está investindo é a chamada realidade aumentada. Diferentemente da virtual, onde o usuário está completamente imerso no “mundo virtual”, a realidade aumentada une o real com o inventado. Por meio do equipamento, por exemplo, uma pessoa conseguiria projetar uma animação em sua mesa.

Magnopus (Foto: Divulgação)

Apesar desses novos caminhos, a Magnopus continua interessada no mercado audiovisual. Machado conta que, no futuro, a empresa quer mudar a forma que o telespectador consome conteúdo. “Imagine um filme onde é o telespectador que escolhe o ângulo que assistir a cena”.

Apesar desse futuro ainda estar distante, a empresa já planeja levar novas experiências para o público. Uma demonstração deve acontecer na feira Global Expo, que irá acontecer em Dubai em 2020.

Fonte: PEGN

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