Plano estratégico para bioeconomia na Amazônia destaca inclusão digital de jovens rurais

Oficinas em três estados revelam desafios e oportunidades para conectar jovens ao futuro da sociobioeconomia com uso de tecnologias simples, valorização cultural e acesso à internet

Jovens rurais da Amazônia apontam a falta de internet, infraestrutura e diálogo entre gerações como principais entraves da permanência no campo.

As oficinas da Embrapa revelam que há forte interesse dos jovens por tecnologias que promovam renda, qualidade de vida e valorização cultural.

A tecnologia é vista como ponte entre tradição e inovação, com foco na sociobiodiversidade e na bioeconomia da região.

O plano estratégico da Embrapa propõe pontos comunitários de internet, capacitação prática e formação de agentes digitais locais para garantir autonomia das comunidades.

A construção de um plano para impulsionar a economia da Amazônia e motivar os jovens a ficarem no campo contou com oficinas e rodas de conversa realizadas entre 2024 e 2025, em áreas rurais dos estados do Acre (Xapuri, Brasiléia e Epitaciolândia), Pará (Santarém, Belterra, Flona Tapajós e Mojuí dos Campos) e Amapá (Oiapoque e Calçoene/Cassiporé). A iniciativa envolveu quatro Unidades de Pesquisa da Embrapa — Meio Ambiente, Acre, Amapá e Amazônia Oriental (Núcleo de Santarém) — e parceiros locais como associações de extrativistas, escolas rurais, o ICMBio, o Rurap e o coletivo Amélias da Amazônia.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ivan Alvarez explica que, mais do que oficinas, os encontros funcionaram como escuta ativa das comunidades e revelaram um retrato profundo sobre os anseios de jovens e suas famílias no meio rural.

“Com metodologia participativa, foram realizados workshops que colocaram pais e filhos frente a frente para mapear dores, necessidades e soluções — internas e externas — por meio de grafos de similitude, uma técnica que identifica padrões de palavras e conceitos recorrentes” e entrevistas com questionários semi-estruturados, explica o pesquisador.

O nó do “diálogo”

Entre as principais “dores” levantadas, uma palavra apareceu como elo entre diversos problemas: diálogo. Sua ausência está ligada a conflitos entre gerações, desmotivação dos jovens, dificuldades escolares e até questões de saúde e infraestrutura. Outro núcleo sensível foi educação, conectada a termos como estrutura precária, indisposição, trabalho excessivo e falta de acesso à tecnologia.

As necessidades, por sua vez, refletem uma busca por educação com qualidade e acesso, aliada a lazer, segurança, conectividade e valorização da tradição. A internet, que aparece tanto como problema (alto custo e baixa cobertura) quanto como solução (acesso à informação e oportunidades), sintetiza a dualidade vivida nas comunidades: de um lado, o trabalho prático no campo; de outro, o universo digital, ainda distante da rotina produtiva.

De acordo com Alvarez, os dados levantados apontam que 42,5% dos jovens entrevistados têm entre 15 e 18 anos e 39,6% entre 18 e 25 anos. Os aplicativos mais utilizados são WhatsApp (16,2%), Instagram (15,4%), YouTube e Google (11,9%). O custo mensal com internet chega a R$ 200 em algumas localidades, o que dificulta ainda mais o acesso. E embora a maioria avalie positivamente sua relação com o meio rural, 21,9% não sabem dizer se a internet pode ajudar a melhorar sua renda — um sinal de que falta não apenas acesso, mas também orientação prática sobre como usar as ferramentas digitais para transformar a realidade.

Um plano com os pés no chão (e o celular na mão)

O plano estratégico da Embrapa parte de um princípio claro: não se trata de levar tecnologia para as comunidades, mas de construir soluções com elas, respeitando o conhecimento local e partindo do que já é conhecido e utilizado. Por isso, o WhatsApp, tão presente no cotidiano, aparece como ferramenta-chave para ações de capacitação, comercialização e articulação social.

A proposta rompe com a visão de que a tecnologia é um “mundo à parte” do campo. Em vez disso, insere o digital no centro da vida produtiva rural. O objetivo não é apenas medir quantos jovens têm acesso à internet, mas sim quantos estão usando essas ferramentas para melhorar sua produção, organizar suas propriedades, valorizar seus produtos e aumentar sua renda.

Ao conectar tradição e inovação, o plano se torna um passo concreto para transformar a inclusão digital em motor de desenvolvimento social, cultural e econômico na Amazônia. Um movimento que dá protagonismo às juventudes rurais e aponta caminhos para uma bioeconomia realmente inclusiva, enraizada nos saberes locais e com olhos voltados para o futuro.

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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Telefone: 19 99262-6751

Fonte: Embrapa.

Foto: Ivan Alvarez

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