“Nos Estados Unidos, as universidades são como a nova Ellis Island”, diz Nitin Pachisia, sócio-fundador da Unshackled Ventures, uma empresa de capital de risco do Vale do Silício. Se há um século os estrangeiros chegavam de barco à terra do Tio Sam para se tornarem imigrantes, atualmente os estudantes internacionais obtêm diplomas em Purdue, MIT e Stanford e se transformam em imigrantes depois de contratados pelas empresas norte-americanas. E cada vez mais esses estudantes estão se tornando fundadores das empresas mais inovadoras dos Estados Unidos.
Quase um quarto (20 de um total de 91) de empresas iniciantes de bilhões de dólares teve um fundador que foi aos EUA pela primeira vez graças a um programa de intercâmbio, revelou um estudo recente da National Foundation for American Policy. Os estudantes internacionais que se tornam fundadores de startups bilionárias dos EUA criaram uma média de mais de 1.400 empregos por empresa, a grande maioria em território norte-americano. O valor dessas empresas juntas é de US$ 96 bilhões, valor semelhante à capitalização de mercado das empresas listadas nos mercados de ações do Peru ou de Portugal.
Noubar Afeyan ganhou um Ph.D. no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Engenharia Bioquímica e, após a graduação, começou a PerSeptive Biosystems. Em 1999, fundou a Flagship Ventures (agora Flagship Pioneering) para desenvolver novas empresas. A companhia, que Afeyan supervisiona como CEO, conduz ou investe em pesquisa e forma novas empresas depois que a pesquisa dá frutos. Noubar criou pelo menos 38 empresas e tem mais de 100 patentes.
Uma das empresas criadas por ele é a Moderna. Fundada em 2009 em Cambridge, Massachusetts, está avaliada em US$ 7 bilhões e emprega 645 pessoas. A Moderna está desenvolvendo drogas que podem usar o RNA mensageiro para tratar pacientes com doenças infecciosas, cardiovasculares, raras e até câncer.
A jornada de Michelle Zatlyn – de estudante internacional a cofundadora da bilionária Cloudflare – reforça que políticas de imigração corretas podem ser cruciais. Depois de se formar na Harvard Business School, Michelle obteve 12 meses de autorização de trabalho sob o regime Optional Practical Training (OPT) – período durante o qual os estudantes de graduação e pós-graduação são aceitos pelo Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) para obter treinamento prático que complemente sua educação. “A melhor coisa que o governo dos EUA fez para os imigrantes é o OPT. Com ele, os estudantes internacionais têm a chance de ficar e trabalhar por um tempo após a graduação”, diz ela. “Ele me possibilitou atuar com Matthew [Prince] no plano de negócios que ajudou a criar a empresa.”
O próximo obstáculo da imigração que Michelle precisava superar era obter um visto H-1B para poder trabalhar nos Estados Unidos – na empresa que ajudou a fundar. No início, seu caso não foi aprovado, mas depois que a Cloudflare enviou cartas de investidores e outros colaboradores ao governo, ela finalmente recebeu a permissão de que precisava. “Se eu não tivesse obtido o visto, teria voltado para o Canadá e tentado trabalhar na Cloudflare de lá”, disse ela. “Se isso tivesse acontecido, a empresa não estaria onde está hoje. Isso certamente teria afetado seu desenvolvimento.”
A empresa continuou a crescer, passando de 225 funcionários em 2016 para 715 em 2018. A Cloudflare tem mais de 9 milhões de propriedades da web em sua rede, oferecendo aos clientes melhor tráfego, segurança e outros serviços. Michelle é, atualmente, diretora de operações da empresa.
Várias políticas da administração de Donald Trump alarmaram as universidades dos EUA. Essas políticas chegaram perto de banir os estudantes chineses do país, por meio da promulgação de novas restrições a esses alunos em certos campos e do anúncio de que emitirá uma regra que estabelece um período máximo de permanência autorizada para estudantes F-1.
A administração do atual presidente norte-americano também planeja restringir ou eliminar o OPT, que Michelle Zatlyn usou para ajudar a fundar a Cloudflare e eliminar ou reduzir os 24 meses adicionais permitidos para trabalhar nos EUA para estudantes estrangeiros em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).
Nitin Pachisia está certo de que as universidades dos EUA são a nova Ellis Island – a porta de entrada dos imigrantes na América ao longo do século 19 e início do século 20. Mas é preciso lembrar que o país começou a fechar as portas para esses trabalhadores em 1921 e a ilha acabou perdendo seu papel. O melhor seria manter as universidades norte-americanas abertas a todos e incentivar políticas que facilitem o trabalho dos estudantes internacionais nas empresas do país e a criação de novos negócios de ponta no futuro.
Fonte: https://forbes.uol.com.br