Como inovar de verdade, segundo Pascal Finette, da Singularity University

Em 2013, chegava ao mercado um gadget que prometia muito. Era a aposta do Google para que você desse uma folga para o seu smartphone, especialmente quando estivesse em movimento. O aparelho, batizado de Google Glass, permitiria navegar por diferentes aplicativos e realizar tarefas por meio de comandos de voz ou poucos toques. Caro e com uma bateria de curta duração, ele entregou pouco. Tão pouco que em 2015 teve suas vendas suspensas. Moral da história: o Google apostou numa tecnologia ruim, certo? Não é bem assim. Avancemos cinco anos. Em 2018, uma versão semelhante ao Google Glass começou a ser usada na China por policiais. Equipada com reconhecimento facial, ela é capaz de identificar suspeitos em apenas um décimo de segundo. A verdadeira moral da história? Tenha cuidado ao descartar tecnologias. É o que defende Pascal Finette, o responsável pelo programa de Empreendedorismo e Inovação Aberta da Singularity University.

O alemão é o que se pode chamar de empreendedor serial: fundou várias empresas, chefiou o grupo de soluções para plataformas do eBay na Europa e, mais tarde, o Innovation Lab, do Mozilla. Também trabalhou no Google.org e criou organizações como Mentor for Good e o GYShiDo (Get Your Shit Done). Nesta segunda-feira (11/06), ele esteve em São Paulo para dar uma palestra em evento da Oracle e participar do SingularityU Brazil SummitA universidade, em parceria com a HSM, irá estrear no Brasil ainda este ano.

Não veja o mundo com as lentes do passado
Como o exemplo do Google Glass ilustra bem, não é fácil identificar quais tecnologias terão um futuro promissor. Fazemos avaliações com base em nossas experiências passadas, mas o mundo se transforma rapidamente. “É muito fácil descartar tecnologias com alto potencial”, diz Finette. Portanto, a próxima vez que você ouvir  ‘já tentamos isso, mas não deu certo’ pense duas vezes. “A ideia nunca será a mesma. O mercado terá mudado, assim como as pessoas”, afirma o executivo.

Não deixe os concorrentes fazerem o trabalho por você
Grandes inovações não ocorrem do dia para a noite. Em uma entrevista de 2001, Steve Jobs contou que o sucesso do iPod foi fruto de anos e anos de trabalho. Essa é a boa notícia: criar algo disruptivo leva tempo, às vezes, décadas. Mas fica o alerta. Uma vez que a tecnologia atinge a maturidade, sobra bem pouco tempo para as empresas reagirem. Segundo Finette, de seis a 18 meses. “Um dos principais erros que vejo as grandes companhias cometerem é optar por serem fast followers [uma companhia que rapidamente imita a inovação criada por seus concorrentes]. Sem conhecimento interno consolidado sobre a nova tecnologia, simplesmente não funciona”.

O que mais importa são as pessoas
O negócio dos negócios são as pessoas. Ontem, amanhã e sempre
Herb Kelleher, fundador da Southwest Airlines

Se você não anda animado com seu emprego, saiba que está bem longe de estar sozinho. Atualmente, 87% dos funcionários americanos se dizem desengajados com a empresa em que trabalham. Ao redor do mundo, os resultados são parecidos, de acordo com Finette. 85% dos trabalhadores afirmam estar abertos a novas oportunidades. E, pior, 58% confiam mais em um estranho (um estranho!) do que em seu próprio chefe. O problema é grave, porque são as pessoas as maiores responsáveis pelo sucesso de um negócio, segundo o executivo. “As pesquisas já demonstraram repetidas vezes que empresas com mais funcionários alinhados a seus valores têm um desempenho melhor na bolsa”, afirma. Para ele, as companhias precisam se perguntar por que existem. “Steve Jobs chamava o computador de bicicleta da mente, por exemplo. Para ter sucesso, é preciso trabalhar o seu propósito e garantir que seu time o entenda”.

Erre, mas aprenda com o erro
O sucesso consiste em enfrentar fracasso após fracasso sem perder o entusiasmo
Winston Churchill, ex-primeiro-ministro britânico

Quem gosta de falhar? Ninguém. Portanto, não é o caso de louvar o fracasso. Isso seria, nas palavras de Finette, “bullshit”. O importante é usar os erros para aprender. “Não fracasse. Aprenda”.  Segundo o executivo, até do ponto de vista neurológico, é mais produtivo se concentrar no que podemos tirar de bom de um projeto que não deu certo. Focar no que deu errado nos faz evitar tomar novos riscos.

Comece pelo mais difícil
Para conduzir um projeto inovador, Finette aconselha seguir uma metodologia usada pelo Google X, braço misterioso da multinacional que tem como objetivo realizar avanços disruptivos. Ela consiste em “lidar com seus macacos primeiro”. Suponha que o seu desafio seja fazer um macaco recitar Shakespeare em cima de um pedestal. A tendência é começar pelo que já conhecemos e sabemos fazer: o pedestal. O mais produtivo, no entanto, é lidar antes com o macaco. “O Vale do Silício está cheio de projetos com título, logo, camisetas bonitas. E só. O mais difícil deve ser atacado primeiro. Dessa forma, você descobre mais cedo se consegue fazer o macaco receitar o bardo. Se não conseguir, de nada lhe servirá o pedestal”.

Abrace o caos
Goste-se ou não, vivemos no tal mundo VUCA, o famoso acrônimo em inglês feito para descrever quatro características dos tempos atuais: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. “Uma organização baseada num comando central não funciona mais. Hoje, faz mais sentido pensar num modelo como uma revoada de pássaros. As aves se movimentam adaptando-se ao ambiente e olhando para os outros pássaros ao seu redor”. Não há como fugir do caos, diz Finette. “É preciso abraçá-lo. Levar ordem a ele. Assim, é possível ser muito mais inovador e construir algo com maior escalabilidade”.

Fonte: Época

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