Se ter alguém competindo com você no trabalho lhe parece detestável, talvez seja possível ver a situação com outros olhos. Conviver com, pelo menos, um adversário profissional é a realidade de 37,5% dos brasileiros, segundo pesquisa feita pelo LinkedIn. No entanto, para quase metade (49,7%) dessas pessoas, estar envolvido em uma disputa no expediente tem significado positivo, principalmente porque elas se sentem motivadas a serem mais bem-sucedidas. Apenas 18,5% dos dois mil participantes afirmaram que um rival na carreira é algo negativo, enquanto 29,8% ficam indiferentes com a presença do concorrente.
— O adversário ou o colaborador com espírito competitivo inspira os demais a serem a melhor versão de si mesmos, dentro de suas habilidades, e incentiva a equipe, ainda que inconscientemente, a buscar mais conhecimento — diz o coach José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching.
Para a diretora da Soluções de Talentos do LinkedIn, Ana Claudia Plihal, o levantamento leva à conclusão que o brasileiro entende o papel importante do concorrente dentro da comunidade profissional.
— A harmonia de perfis nem sempre é produtiva. O ambiente da diversidade, com gente protetora, negociadora e competidora, por exemplo, gera inquietude, produz aprendizados e impulsiona resultados — afirma a psicóloga Rosangela de Carvalho, sócia diretora da Efficacia Empresarial.


A escrevente Lorena Vivas, de 36 anos, é do tipo competitiva. Ela, que trabalha no 16º Ofício de Niterói, acredita que sua postura a conduziu a promoções ao longo da carreira.
— Quando comecei a trabalhar em cartório como estagiária, havia uma outra, mais antiga, que era referência. Nós tínhamos as mesmas funções, e eu pensava: “se ela pode, eu também posso”. Tudo que ela fazia, eu procurava fazer melhor. Via ali uma inspiração, porque o trabalho dela era exemplar. Em 2008, essa colega saiu do emprego para morar no Canadá. Eu fiquei e fui sendo promovida. Como os chefes viram que meu trabalho era superior, passei na frente de pessoas que estavam pleiteando melhores posições e que teriam prioridade por serem funcionárias há mais tempo — conta.
Atualmente, Lorena se sente na “zona de conforto” por não ter ninguém contra quem competir, mas diz se manter motivada buscando novidades e reciclando seus conhecimentos.

Exagero na rivalidade é improdutivo
Na dose certa, a rivalidade profissional gera eficiência, mas a ultrapassagem das linhas da ética e do respeito tornam o ambiente de trabalho pesado e improdutivo. Por isso, há uma diferença entre ser competitivo — tomar os outros como modelo e buscar se superar — e ser competidor — tentar vencer os demais.
— Em geral, a pessoa que compete de maneira danosa é alguém que tem baixa autoestima e que não se conhece bem. Para se sentir melhor, ela procura diminuir os colegas — analisa a psicóloga Aline Saramago, consultora de carreiras e relacionamentos interpessoais.
Segundo o consultor de empresas Sergio Dias, manter um ambiente de trabalho saudável é papel da organização, do gestor e de toda a equipe.
— Se há incentivo à luta, a preocupação maior é destruir o que o outro fez em vez de construir. O resultado não é proveitoso. As empresas devem recompensar os bons resultados e evitar punir por práticas que não deram certo para que a competitividade não seja nociva — ressalta Dias.
Exageros nas disputas profissionais podem levar a pânico, fobia, depressão, ansiedade e síndrome de burnout (esgotamento intenso). Para o coach José Roberto Marques, quem lida com colegas de trabalho extremamente competitivos precisa, primeiro, entender o objetivo deles:
— Descubra se vocês querem a mesma coisa. Caso não, encoraje-o a mostrar a melhor versão no que ele faz. Se ambos desejam uma promoção, por exemplo, o melhor é buscar formas diferentes de executar as funções, fazer cursos e reconhecer os acertos do outro. Nunca se deve bater de frente. Sempre existe espaço para todos.



Fonte: Extra