O número de golpes aplicados via meios eletrônicos cresceu mais de 87% no Acre em 2024, segundo um levantamento que consta no Anuário da Violência. De acordo com o estudo, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os registros deste tipo de crime ficaram em 464 casos, saindo de 248 em 2023.
Com isso, o estado teve uma taxa de 28,3 casos a cada 100 mil habitantes, distante do índice nacional, que ficou em 200,6 casos por 100 mil pessoas.
O estudo considerou casos registrados pelos órgãos se segurança das unidades federativas classificados como estelionato, que abrange golpes e fraudes.
Ainda conforme o anuário, o número geral de fraudes também teve aumento no estado. Foram 6.370 casos em 2024, contra 5.697 em 2023. Ou seja, o aumento foi de 12%.
A taxa geral de estelionatos a cada 100 mil habitantes ficou em 723,3 no Acre, também abaixo do índice nacional, que foi de 1.019,2.
Golpe da facção
Uma das formas de estelionato mais difundidas no Acre é o golpe da facção, no qual suspeitos se passam por membros de organizações criminosas que dominam uma certa área para extorquir moradores.
Foi assim com uma moradora da capital acreana, que preferiu não ser identificada, que contou ao g1 os momentos de horror que passou, quando foi alvo de uma tentativa de golpe no qual teria que pagar, ao todo, R$ 3 mil.
Mesmo em pânico, a vítima entrou em contato com um advogado, que a auxiliou e impediu que ela fizesse qualquer transferência aos criminosos. Ainda que as ameaças sejam falsas, as mensagens e ligações podem assustar os alvos.
“Me ligaram, falaram o endereço da minha casa, falaram que eram da facção [do bairro], e explicaram que tem uma taxa que é para pagar a eles, e eles disseram que é uma taxa única, de uma vez. Eu falei que não tinha como e eles ficaram falando que iam vir aqui, eles falaram o meu endereço, eles sabiam o meu nome. Fiquei com medo, muito medo, chorei horrores”, lembrou.
O advogado Kalebh Mota, que atendeu a vítima, diz que esses crimes estão cada vez mais comuns e que exigem pagamentos via Pix, o que dificulta o rastreamento dos valores. Ele ressalta ainda que, por conta do medo, algumas vítimas acabam pagando, porém, mesmo com o pagamento, as cobranças não param, e os criminosos sempre voltam a pedir mais valores.
Ele enfatiza ainda que todos esses golpes têm como uso em comum a intimidação.
A Polícia Civil recomenda sempre desconfiar de ligações ou mensagens desconhecidas. Mesmo em um caso delicado que envolva ameaças, a orientação é não fazer transferências e procurar uma delegacia o mais breve possível, sejam qual for o tipo de golpe.
“Usando o medo para que a vítima caia e realize transferências para evitar represálias. A melhor forma de se proteger é mantendo a calma para não ceder, evitar passar dados pessoais para terceiros e também buscar a autoridade policial caso tenha sido vítima de uma tentativa.”, enfatiza.
Golpe do falso advogado
Outra prática criminosa que busca enganar e tirar dinheiro das vítimas é o golpe do falso advogado. Golpistas enviam mensagens a clientes de escritórios de advocacia cobrando o pagamento de taxa para a liberação de valores fruto de uma ação judicial.
Em 2024, este tipo de crime pode ter vitimado mais de 200 pessoas no Acre, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Além de prejudicar as vítimas financeiramente, o esquema também mancha a reputação de advogados, que precisam zelar por seus nomes para manter a clientela.
“A Polícia Civil tem trabalhado de forma intensa para mapear e combater essas práticas criminosas, mas é fundamental que haja uma integração maior entre os poderes e as forças de segurança. O crime cibernético não tem fronteiras, e precisamos estar à altura desse desafio para proteger advogados, operadores do direito e a sociedade como um todo”, explicou o delegado Fabrizzio Sobreira.
Uma das profissionais que tiveram os dados utilizados no golpe foi a advogada Gicielle Rodrigues, de Rio Branco. Ela conta que desde setembro do ano passado recebe mensagens de clientes desesperados após transferirem valores supostamente solicitados por seu escritório, mas através de números falsos.
Conforme a advogada, a situação continuou até o mês de março deste ano. Os clientes perderam entre R$ 300 e R$ 2 mil, valores que, muitas vezes, eram reservas mantidas com muito custo pelas vítimas.
“Clientes começaram a me ligar em desespero, chorando, após realizarem pagamentos a estelionatários, acreditando que estavam lidando comigo. São pessoas que enfrentavam dificuldades financeiras, algumas juntando economias com sacrifício, outras pedindo dinheiro emprestado na esperança de resolver suas pendências judiciais. Uma das clientes, viúva e mãe de dois filhos, me ligou desesperada porque tinha usado parte do dinheiro destinado às despesas básicas mensais da família. Outra, idosa e aposentada, acreditou que finalmente receberia um valor que aguardava e pagou para os golpistas, e posteriormente descobriu que foi enganada”, relata.
Enquanto as soluções são discutidas, a advogada ressalta que o público deve sempre desconfiar de mensagens, principalmente as que pedem a transferência de valores.
“Sempre verifique a identidade do advogado antes de realizar qualquer pagamento. Essa consulta pode ser feita diretamente no site da OAB, onde é possível confirmar se o profissional está devidamente registrado e regularizado. Sempre buscar contato direto com o advogado responsável pelo caso, de preferência, por canais oficiais, como telefone ou endereço do escritório. Para maior segurança, recomenda-se até mesmo uma videochamada com o advogado”, alerta.
Fonte: G1.
Foto: Reprodução/TV Globo