Ashley Malia | Foto: Kevin Oux | Divulgação
Antes da palavra “empreendedorismo” se tornar tão popular, muitas pessoas no Brasil já impulsionavam a iniciativa. Há quem diga que é sinônimo de sobrevivência, já que às vezes empreender é a única opção que resta. Atualmente, a prática vem sendo cada vez mais adotada pelos jovens, principalmente com o crescimento da internet, uma vitrine gratuita para mostrar grandes ideias.
De acordo com dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o percentual de pessoas de 18 a 34 anos que têm negócios em fase inicial cresceu de 50% para 57% no ano de 2017, o que representa cerca de 15 milhões de jovens. Considerada uma das 25 mulheres negras mais influentes do Brasil, a jornalista e empreendedora especializada em negócios sociais, Monique Evelle, acredita que Salvador está em um ótimo momento, no que diz respeito a negócios criativos. “Acho que Salvador está no momento certo de criar coisas relevantes e incríveis. Vejo muita coisa boa acontecendo em diferentes áreas, tanto na gastronomia, quanto na moda, cultura…”.
Um dos negócios que vêm movimentando Salvador, e o Nordeste como um todo, é a marca de roupas Dendezeiro. Criada pelos estilistas Hisan Silva, 21 anos, e Pedro Batalha, a marca busca refletir e valorizar o estilo e comportamento do Nordeste. “Vem disso o nome ‘Dendezeiro’, somos cria do Nordeste, do dendezeiro, somos dendê. A gente tenta trazer essas sensações”, contou Hisan, em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE.
Pedro Batalha e Hisan Silva já vestiram artistas como Maria Gadu, Márcia Castro e Majur
Para o jovem produtor cultural, o empreendedorismo sempre foi uma história de “como sair da crise”. Vindo de família pobre, Hisan começou a vender pulseiras no ensino médio, como uma forma de pagar algumas de suas necessidades. A história com a moda começou aos 17 anos, quando saiu de casa e foi morar com o companheiro e sócio Pedro Batalha, com um brechó online, já que em todo lugar as pessoas gostavam do que eles vestiam e perguntavam onde poderiam adquirir. Depois de um tempo, o que era uma forma de consumo se tornou um potencial de negócio e a relação com a moda foi se desenvolvendo.
“Uma vez eu peguei um tecido escondido na casa da mãe de Pedro e desenhei uma roupa, aí fui na costureira. Fiz essa primeira peça escondido e mostrei para ele e para a mãe. Pedro ficou louco porque peguei um tecido da mãe dele, ele pensou que ela ia se ‘retar’. E a primeira impressão dela foi: ‘Amei isso, você pegou um tecido velho e fez uma coisa incrível’. E foi minha primeira injeção grande no que eu estava fazendo. Nesse processo de primeira coleção, eu ainda estava trabalhando formalmente, mas em qualquer oportunidade eu estava pensando na marca”, relatou Hisan.
E, aos poucos, tudo foi acontecendo. Primeiro com o projeto inicial, Noo Stilo, e atualmente com a Dendezeiro, que já é uma versão amadurecida da antiga marca. “A Noo Stilo nasceu de dois jovens que tinham acabado de sair de casa, que estavam experimentando o mundo. A Dendezeiro nasceu de dois homens que já tinham experimentado e testado várias coisas”, refletiu. Hoje em dia, Hisan e Pedro se sustentam exclusivamente com a verba adquirida com a venda de roupas.
“A Dendezeiro mudou minha vida, porque hoje eu vivo de minhas ideias”.Hisan Silva, CEO da marca Dendezeiro
Para o especialista em Manutenção de Produtos Apple e fundador da Escola EMIP, Ted Reis, o empreendedorismo surgiu do descontentamento com a realidade do mercado de trabalho formal. Acordar 5h da manhã todos os dias e sair 18h deixou de fazer sentido para o jovem de 31 anos, quando ele percebeu que poderia desenvolver mais o seu trabalho, mas sentia que o mercado estava engessado.
Ted foi enxergando a tendência no mercado digital
“Decidi buscar minhas próprias fontes de renda. Comecei consertando equipamentos eletrônicos, de paintball, depois trabalhei com projetos de AutoCAD para empresas… Até que surgiu a oportunidade de abrir uma empresa no ramo de assistência técnica de iPhone”, contou ele, que abriu a primeira assistência técnica em 2011 e, até 2016, continuou trabalhando com lojas.
Sentir as necessidades do mercado e criar projetos inovadores é algo que o empreendedor sabe fazer sem rodeios. Ao mesmo tempo que a área de assistência ia caindo e as pessoas iam reclamando, Ted foi enxergando a tendência no mercado digital e decidiu criar um curso. Atualmente, a Escola EMIP, considerada a maior escola de manutenção de produtos Apple do mundo, possui cerca de 3 mil alunos e 5 cursos online. A plataforma conta com opções a partir de R$ 197, com caráter mais inicial, até R$ 2.500, com o curso mais completo.
Ted Reis conseguiu inovar a partir da necessidade do público de aprender a fazer manutenção
“Quando eu fazia manutenção, muita gente pedia para que eu ensinasse como fazer. Tive a ideia de criar meu próprio curso de manutenção de produtos Apple. Comecei a estudar esse mercado, como ele funcionava…”, explicou.
Desde cedo apresentado a “um padrão que todos seguem e poucos questionam”, Murilo Henrique, 23 anos, nunca teve uma relação muito próxima com o empreendedorismo, mas foi de forma natural que a prática veio surgindo na sua vida. Ele, que é universitário em Feira de Santana, um dia resolveu ir no Feiraguai comprar roupas para revender aos amigos, pois sempre voltava para Salvador nos finais de semana.
Murilo Henrique começou vendendo roupas e, atualmente, aposta no negócio em que acredita: o Clube da Navalha
O que era algo restrito apenas aos amigos, começou a crescer e se tornou algo além de uma brincadeira para aumentar a renda. “Com a ajuda das redes sociais, consegui alavancar as minhas rendas e me destacar”, lembrou o empresário. Em um ano, o perfil no Instagram já tinha mais de 10 mil seguidores. “Consegui comprar meu primeiro carro e, no ano seguinte, já estava vendendo em atacado”, contou.
A partir de então, a história de empreender não parou mais. Depois de perceber o mercado de roupas saturando, Murilo foi apresentado ao Açaí do Monstro quando a marca ainda estava em ascensão. “Apostei todo o dinheiro que tinha para investir na minha primeira loja. O negócio foi tão bom, que em dois meses já tinha uma segunda loja, e em quatro meses já tinha a terceira”, comentou, lembrando que encontrou muitas barreiras, pois não tinha experiência com negócios físicos.
Com o Açaí do Monstro, Murilo teve a oportunidade de errar e aprender. Segundo o jovem, a experiência com a marca foi uma escola. Depois disso, ele teve a ideia que hoje considera o seu propósito de vida: a rede Clube da Navalha, sua primeira barbearia. “Me identifiquei tanto que vendi todas as minhas lojas do açaí para apostar tudo em algo que acredito”, afirmou, pontuando que está estruturando o Clube da Navalha para, em breve, se tornar uma das maiores redes de barbearia do Brasil.
Murilo Henrique acredita que o empreendedor que usa a própria empresa apenas para ganhar dinheiro está fadado ao fracasso. “Temos que usar nossas empresas também como mecanismo de alteração social. Fazer aquilo que você realmente ama e ajudar a sociedade. Foi com essa mentalidade, e com criatividade, que a barbearia se tornou um sucesso”, concluiu.
Fonte: UOL Notícias