A tecnologia de impressão 3D tem conquistado espaço no cenário industrial do Pará, abrindo novas possibilidades e impulsionando a inovação na região. Com a capacidade de fabricar peças complexas de forma personalizada e eficiente, a impressão 3D está transformando a maneira como as empresas e as academias do Estado produzem componentes, equipamentos e protótipos, criando um impacto significativo em setores que vão desde a manufatura até a área de saúde, por exemplo.
Mestre em engenharia elétrica e pesquisador de um laboratório da Universidade Federal do Pará (UFPA) que fica localizado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, Iago Ranieri explica que a impressão 3D tem duas áreas. Na parte de modelagem, feita no computador, os profissionais tiram medidas relacionadas ao tamanho e à espessura dos objetos. Já a segunda etapa é a da impressão, em que é escolhido o material e depois realizado o depósito camada por camada.
Nos últimos 10 anos, a tecnologia vem passando por uma transformação, segundo ele. Iago afirma que, no início, a impressão 3D era uma ferramenta nova e cara, o que a tornava inacessível para a maioria das pessoas, mas, ao longo dos anos, mais empresas começaram a fabricar peças e a compartilhar conhecimento, tornando-a mais acessível. Atualmente, é possível adquirir uma impressora 3D por apenas uma fração do preço inicial, diz ele.
Segundo o especialista, “tivemos uma verdadeira revolução nessa tecnologia. Começou a se popularizar por volta de 2013, mas naquela época era um investimento considerável, mesmo com o dólar sendo mais favorável em relação ao real”, lembra. “Ultimamente, conseguimos comprar uma impressora por cerca de 5% do preço de quando ela foi lançada. Agora, é uma tecnologia acessível para o público e se equipara ao custo de uma impressora convencional, cerca de 30% mais cara”, garante.
É preciso, no entanto, separar o uso da impressão 3D no âmbito doméstico e na indústria. Iago diz que, no primeiro caso, além do custo, existe um obstáculo relacionado à necessidade de conhecimentos de informática. Ele afirma que “para criar um modelo ou objeto para impressão, é necessário ter um conhecimento razoável em informática, às vezes até avançado, devido à complexidade dos desenhos”. Este desafio ainda limita a adoção generalizada da tecnologia em residências, na opinião do mestre em engenharia. Na indústria, a situação é diferente, pois os equipamentos 3D são “significativamente mais caros”, variando de R$ 20 mil a R$ 30 mil, dependendo da aplicação.
Sustentabilidade
O especialista em engenharia elétrica revela que a impressão 3D desempenha um papel crucial em suas pesquisas. “É como se fosse um alicerce da nossa pesquisa. Sempre criamos protótipos imprimindo em 3D antes de transformá-los em produtos reais,” explica. Um dos projetos, em colaboração com a mineradora Hydro, no Pará, resultou na criação de um dispositivo essencial para cuidados médicos: um ventilador mecânico manual, usado para auxiliar na respiração de pacientes, automático e que não requer eletricidade para funcionar. “Ele opera através de ar comprimido, disponível nos hospitais”, explica.
O projeto, que surgiu durante a pandemia, foi aprimorado com sensores para garantir eficiência e segurança. Além disso, Iago e sua equipe estão atualmente envolvidos em uma iniciativa que combina elementos estudantis, sociais e ambientais. O objetivo é retirar garrafas PET do oceano e transformá-las em filamento para impressão 3D. Iago mostrou exemplos concretos desse filamento sustentável, produzido a partir de vegetais, como beterraba e batata, disponíveis localmente. No entanto, o destaque vai para o filamento feito a partir de garrafas PET recicladas.
“Estamos em uma fase inicial desse projeto, e os alunos que estão envolvidos são provenientes de programas sociais da UFPA, refletindo nosso compromisso com a inclusão social e a sustentabilidade ambiental,” enfatiza. “Acreditamos que as pessoas têm o poder de causar mudanças e precisam ajudar a preservar o meio ambiente, e é isso que estamos fazendo”.
Educação industrial
No contexto educacional, o professor Clenilso Felipe, especialista em metalmecânica e membro do Senai Pará, destaca a importância da tecnologia 3D em cursos oferecidos pela entidade. Ele explica que a impressão 3D permite a transição do campo imaginário para o campo real, onde os alunos podem projetar peças em software específico e, em seguida, reproduzi-las em um curto espaço de tempo, tornando o processo “didático e envolvente”.
Embora muitos alunos possam não ter uma impressora 3D em casa, a instituição oferece a chance de continuar praticando durante as aulas. Além disso, aqueles alunos que se destacam são convidados a participar de um programa especial.
Dentro da indústria, a impressão 3D desempenha um papel significativo em várias áreas, incluindo a metalmecânica, de acordo com o professor. Além disso, a área de modelagem para moda também se beneficia da tecnologia, com laboratórios equipados com impressoras 3D e softwares específicos no Senai. Outra aplicação crucial da impressão 3D é na construção civil.
Clenilso descreveu como a tecnologia é usada para criar modelos e projetos estruturais, permitindo a reprodução física de conceitos e ideias de forma precisa e eficaz. “Na construção civil, podemos reproduzir fisicamente o que foi desenvolvido, incluindo maquetes e projetos completos. A impressão 3D desempenha um papel vital nesse setor, que é uma das áreas de destaque no Senai”, destaca Clenilso.
Perspectivas
Para o futuro, professores como Clenilso estão determinados a impulsionar a formação de profissionais altamente capacitados na área da impressão 3D. Ele disse que, na instituição, há um laboratório pronto para receber até 20 alunos em cada turma, com equipamentos para desenvolver habilidades em impressão 3D e atender às demandas do mercado.
Já Iago Ranieri avalia que a impressão 3D está se tornando uma tecnologia acessível e valiosa. Ele destaca a importância da educação nesse processo, pois a tecnologia de impressão 3D não apenas abre portas para a aprendizagem em informática e modelagem geométrica, mas também para ferramentas pedagógicas inovadoras. O que antes parecia distante está se tornando uma realidade, e essa tecnologia está cada vez mais presente nas escolas, empresas e na sociedade em geral, promovendo a inovação e a sustentabilidade.
*Com informações do site O Liberal