Era para ser apenas um projeto de produção de açaí na terra do açaí, o Pará. Mas ao começar a colocar o empreendimento em pé, os envolvidos no negócio da Açaí Kaa se depararam com vários gargalos na cadeia e foram atrás de soluções para cada um deles. Acabaram desenvolvendo, além de uma produtora de açaí, uma geradora de tecnologia para o setor, hoje com a pretensão de revolucionar a maneira pela qual se produz e ganha dinheiro com o açaí no Brasil.
A pesquisa que os empreendedores da Açaí Kaa deflagraram, há cerca de seis anos, teve, entre os principais resultados, a criação de um robô para colheita mecanizada de açaí, de um novo processo produtivo para o açaí com conservação do sabor original, de cestas de colheita com material reciclado e de biovia para transporte do açaí na floresta.
“Esse trabalho não vai beneficiar somente a nossa empresa, nós temos perfeita noção de que isso vai afetar toda a cadeia do açaí”, disse o empresário e idealizador do Açaí Kaa, Reinaldo Pinto dos Santos, falando a um grupo de jornalistas em outubro.
Chamado de Açaí Bot e, assim como outras das criações, sob o guarda-chuva da empresa Kaa Tech, o robô vem chamando a atenção do mercado. Tudo começou com a observação do trabalho de colheita do açaí. Pelo método tradicional, a pessoa precisa subir no açaizeiro, uma árvore fina e bastante alta, para cortar os cachos no topo. “A penosidade do trabalho é uma coisa inaceitável”, afirma Reinaldo.
O robô Açaí Bot faz esse trabalho subindo na árvore e colhendo o cacho. O equipamento tem cerca de oito quilos para que possa ser manejado facilmente pelas famílias ribeirinhas, muitas vezes tendo como adultos na sua composição apenas avôs e mães. Reinaldo afirma que no método atual uma pessoa colhe entre 80 e 100 quilos de açaí por dia e com o robô ela consegue colher uma tonelada.
Diante desse volume de colheita, a empresa se deparou com a questão do transporte, como tirar o açaí da floresta, e desenvolveu a biovia, um sistema similar a um lego que pode ser inserido na área de açaizeiros. “Pode ser levado para colocar na mata e, principalmente na mata, será transparente para a natureza. Os animais transitam, atravessam a biovia, ela não atrapalha em nada, tem pontos de apoio, não derruba nenhuma árvore”, diz o engenheiro mecânico André Colson Schwob, que atua como consultor técnico na empresa. “Vai permitir acesso a uma boa parte do açaí que até hoje permanecia fora do nosso alcance.”
Sob a égide da Kaa Tech, empresa criada para cuidar das inovações tecnológicas da cadeia do açaí, também estão a produção das caixas de material reciclado para o transporte do açaí e uma biofábrica com capacidade mensal de 18 mil mudas melhoradas de açaí. A biofábrica usa tecnologia avançada de cultivo in vitro e micropropagação, focada em gerar plantas de alta qualidade genética.
Sabor original
Na Açaí Kaa também o produto principal, o açaí, tem história ligada à pesquisa. Incomodados com a discrepância entre o açaí consumido fresco no Pará e o consumido em outras partes do Brasil e mundo, após ser congelado para transporte, a empresa foi atrás do produto ideal. “A molécula de H2O, quando congelada, muda de posição. Ao mudar de posição, ela causa danos às antocianinas e causa danos ao sabor, que é irrecuperável”, explica Reinaldo.
A ideia era produzir um açaí que pudesse ser comercializado pela internet em qualquer lugar com o mesmo sabor do vendido no Pará. Depois de avaliar o uso de tecnologias existentes, a Açaí Kaa foi atrás de novas opções. “Encontramos uma forma de processamento do açaí em que as qualidades ficam 100% preservadas”, relata Reinaldo, sobre quando o açaí volta do pó para ser polpa. “Com essa tecnologia na mão, escalável, economicamente viável, você pode processar grandes quantidades da fruta”, diz Reinaldo.
As soluções tecnológicas geradas a partir da criação da Açaí Kaa serão utilizadas pela própria empresa, mas também estão disponíveis no mercado. “A ideia é beneficiar a cadeia como um todo”, explica o diretor executivo da Açaí Kaa, Marcelo Feliciano. Em outubro, o robô estava sendo vendido por R$ 19.569,20 no site da Kaa Tech, com entrega prevista para 60 dias. A biovia também já está em comercialização, de acordo com Feliciano.
Reinaldo Pinto dos Santos conta que esse processo, além de ter contado com uma equipe de alta qualificação, teve várias parcerias, como pesquisadores, universidades e companhias brasileiras e estrangeiras, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap), Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O estado do Pará fica na região da floresta amazônica.
Fonte: Anba.
Foto: Wenderson Araujo/Trilux


