Está em vigor desde o dia 18 de novembro a Lei nº 3.411 que institui o Projeto de Inteligência Emocional e Meditação nas escolas municipais de Manaus. A norma foi criada para “aperfeiçoar o processo educativo nas escolas por meio do desenvolvimento da meditação e da inteligência emocional da comunidade escolar e dos alunos”. Sindicato de professores considera a lei “inviável”.
Embora as intenções sejam positivas e alinhadas com um crescente interesse por soluções que abordem a saúde emocional dos jovens, o coordenador do Asprom (Sindicato dos Professores e Pedagogos das Escolas Públicas de Manaus), Lambert Melo, critica a proposta. Ele afirma que mais essa função sobrecarrega os docentes. Segundo Lambert, a nova lei coloca mais responsabilidades “nas costas dos professores”.
“É um projeto mal elaborado porque joga as responsabilidades dessas ações de meditação e autoconhecimento nas costas dos professores, que já têm uma sobrecarga imensa de atribuições e responsabilidades impossíveis de serem realizadas dentro do tempo de aula”, afirma.
O sindicalista reconhece a importância de trabalhar o controle emocional dos alunos, mas diz que a lei não oferece contrapartidas salariais. “Então, os professores estão sendo colocados como responsáveis para desenvolver mais esse trabalho que vai ser implementado sem que seja colocada contrapartida de acréscimo de salário ou de gratificação por esse trabalho a mais que está sendo colocado nas suas costas,” disse.
Melo defende que, sempre que houver a criação de leis que atribuam mais tarefas aos profissionais da educação, também deve ser prevista uma compensação financeira, seja através de aumento salarial ou gratificação, caso contrário, ele considera uma forma de “exploração”.
“E isso é inadmissível. Por essa razão absurda é que entendemos que o projeto é completamente inviável e será mais um projeto que ficará no papel e não sairá para a prática porque os professores vão ser impossibilitados de desenvolvê-lo,” diz.
Lambert acrescenta que, se o projeto “fosse sério” deveria prever uma gratificação ou aumento no salário dos educadores, ou, ainda, a contratação de novos profissionais específicos para atuar nesse projeto. “O próprio projeto não cria condições estruturais e econômicas para que ele seja realizado e não busca a melhoria do ensino, é apenas um enchimento de linguiça”.
Estresse, bullying e violência
A Lei nº 3.411 busca “reduzir os níveis de ansiedade e estresse, a incidência de violência e bullying e os índices de evasão escolar”. A ideia é criar um ambiente mais saudável e equilibrado para os estudantes.
Sancionada pelo prefeito David Almeida, a medida foi publicada no Diário Oficial do Município de Manaus (DOM) na edição de terça-feira (19). Outra pretensão da lei texto da lei é “melhorar o controle da impulsividade e irritabilidade” dos alunos, promovendo “o autoconhecimento, a autorregulação e maior controle das emoções desde cedo”.
O autor da lei, vereador François Matos (PSD), também conhecido como Fransuá, justifica a medida afirmando que os benefícios da meditação nas escolas “foram comprovados por pesquisas, em 2012” em um estudo realizado em Oakland, Califórnia (EUA).
“Meditação é uma técnica que desenvolve habilidades como a concentração, tranquilidade e foco no presente. Trata-se de uma prática ancestral, com raízes orientais e que, hoje, é disseminada no mundo todo, trazendo uma série de benefícios para os seus praticantes”, alega o vereador.
Benefícios
Para a psicóloga Julia Soutello, a meditação contribui para o bem-estar emocional e social dos estudantes. Ela explica que a implementação de práticas de inteligência emocional e meditação nas escolas pode trazer diversos benefícios.
“Como o desenvolvimento emocional. A autoconsciência ajuda os alunos a reconhecer e entender suas próprias emoções. Tem a regulação emocional em que os alunos aprendem técnicas para gerenciar suas emoções. E a empatia que permite compreender e se conectar melhor com os sentimentos dos outros”, cita a especialista.
Segundo a psicóloga, a meditação favorece o desenvolvimento de outras competências emocionais e sociais. “Desenvolvimento social é obtido com melhora nas habilidades de comunicação resultando em interações mais eficazes e positivas. Também favorece a resolução de conflitos, em que o aluno desenvolve maior capacidade de resolver conflitos de maneira pacífica e construtiva”.
Julia Soutello acrescentou que o controle emocional facilita a colaboração entre os alunos e melhora o desempenho acadêmico, a cooperação e trabalho em equipe, além de adquirirem mais concentração e foco, o que pode ter um impacto positivo no desempenho acadêmico criando um ambiente escolar mais saudável.
A psicóloga cita que para o sucesso do projeto é fundamental que ele seja implementado de forma estruturada e contínua, com o apoio de professores treinados e a inclusão dos pais e da comunidade escolar no processo.
Soutello também cita que a medida pode reduzir a ansiedade. “Esses benefícios são baseados em diversas pesquisas e práticas já realizadas em várias partes do mundo. A chave para o sucesso dessas iniciativas está na implementação adequada e no treinamento dos educadores”.
Desafios
Apesar dos benefícios, a psicóloga alerta sobre os desafios emocionais que os alunos podem enfrentar ao participar das atividades de meditação e inteligência emocional. Por isso, a abordagem precisa ser realizada de maneira correta.
“Superar esses desafios requer uma abordagem empática e adaptável, em que os educadores estejam atentos às necessidades individuais dos alunos e dispostos a ajustar as práticas conforme necessário”, diz.
Conforme a psicóloga, o sucesso depende de um bom planejamento para a implementação do projeto. “Com o devido acompanhamento e suporte, o projeto tem grandes chances de gerar um impacto positivo no desenvolvimento emocional e social dos alunos, além de contribuir para uma convivência mais harmoniosa nas escolas”.
Júlia Soutello afirma que a capacitação dos professores será crucial para o sucesso do projeto. “A chave para o sucesso dessas iniciativas está na implementação adequada e no treinamento dos educadores. É importante que os professores sejam capacitados para integrar essas práticas de maneira eficaz no currículo escolar, garantindo que todos os alunos possam se beneficiar”.
O artigo 3º da lei há estabelece a qualificação dos educadores: “Treinamento e formação de professores para a capacitação pedagógica. Para os fins desta lei, poderão ser realizados convênios ou acordos com instituições públicas ou privadas. As despesas geradas com a execução desta lei correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário”.
Fonte: Amazonas Atual.