Há três décadas, 40% das mulheres apresentavam sinais de estresse. Hoje, são 67%
RIO — Um levantamento da clínica de medicina preventiva Med-Rio, a partir do acompanhamento de check-ups de executivas nos últimos 30 anos, constatou que, ao mesmo tempo em que a mulher ganhou espaço no mercado de trabalho, sua saúde ficou cada vez mais comprometida devido ao estresse.
Das pesquisadas, 25% sofrem de insônia, 12 % apresentam sinais de depressão, 62% têm peso acima do ideal, 60% não têm uma alimentação equilibrada, 50% têm colesterol alto e 50% bebem álcool regularmente. As doenças gástricas têm sido mais frequentes nas mulheres (18%) que nos homens (12%).
— Há três décadas, quando a clínica foi inaugurada, 40% das mulheres apresentavam sinais de estresse. Hoje, são 67% — alerta o diretor médico da Med-Rio Check-Up, Gilberto Ururahy.
O médico atribui as altas taxas à tripla jornada, pois, segundo ele, as mulheres trabalham, em média, até sete horas a mais que os homens e ainda cuidam da casa e estudam. Muitas são sedentárias, algumas fumam, outras tomam pílula. O estilo de vida leva ao estresse, que afeta o sistema imunológico.
— A presença cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho fez com que aumentasse a incidência de doenças que antes eram predominantemente masculinas. Em 1990, a cada nove infartos, só um era em mulher. Hoje, a cada três, um dos pacientes é mulher — diz ele, ressaltando que os casos afetam cada vez mais jovens profissionais.
Cobrança em casa
A solução passa pela adoção de um estilo de vida saudável, como sono de qualidade, prática de atividade física aeróbica regular e alimentação equilibrada.
Para a psicoterapeuta e consultora em saúde mental Karina Mesquita, o entrave é mais complexo. Medidas para um estilo de vida mais saudável ajudam, contudo, a questão cultural é a mais difícil de ser mudada:
— Ao longo das décadas, a mulher vem conquistando espaço no mercado de trabalho, porém, a responsabilidade com a maternidade e com os serviços domésticos não mudaram: continuam sendo dela, seja por pressão da sociedade ou dela mesma. A mulher não apenas subiu, ela acumulou funções.
Karina observa que a questão cultural transcende cargos. Da profissional da periferia à alta executiva, que tem empregados, se o filho fracassar na escola ou ficar doente, é a mãe que é cobrada:
— Há um ou outro caso em que os casais têm uma divisão mais igualitária, mas isso ainda é muito raro. Algumas empresas estão se readaptando, mas em casa isso ainda não mudou. São muitos os relatos de que, mesmo após um dia longo no trabalho, a mulher chega em casa e ainda vai fazer o jantar, pois o marido só gosta de comida fresca.
Fonte: O Globo